O Memorial da Democracia, um portal na internet que apresenta informações históricas sobre as lutas e as conquistas na área social e de direito do país, foi lançado nessa segunda-feira (1º), na capital paulista, pelo Instituto Lula, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também estiveram presentes convidados como a socióloga Maria Victoria Benevides, Guilherme Boulos, líder do MTST, Rui Falcão, presidente nacional do PT, Vagner Freitas, presidente da CUT, a historiadora Heloisa Starling, o rapper Rappin Hood e Carina Vitral, presidente da UNE.
O projeto foi concebido por uma equipe de jornalistas, historiadores, artistas e pesquisadores, e ainda está em construção. Ao todo serão 11 módulos, do Brasil colônia ao século 21. Inicialmente, o site traz dois módulos sobre os períodos mais recentes da história do Brasil.
O primeiro, de 1964 a 1985, registrou a resistência dos brasileiros contra a ditadura militar, o terror do Estado e a retomada das lutas sociais. O segundo módulo, de 1985 a 2002, mostra a reconquista da democracia, a luta popular por direitos e a agenda social do país.
O presidente do instituto, Paulo Okamotto, disse, durante a cerimônia de lançamento, que é importante apresentar a história do país na visão dos trabalhadores. Ele destacou que a democracia, cuja luta está retratada no memorial, significa liberdade, tolerância e também combate à corrupção.
O ex-presidente da República informou que partiu de Fernando Haddad, atual prefeito de São Paulo, a ideia da construção de um Memorial da Democracia e que gostaria que fosse sediado na capital paulista. Lula ainda lamentou a ausência de Haddad no evento e brincou: “Deve estar parado no trânsito, vindo a 50 km por hora, ou então de bicicleta”, arrancando risos do público. Na época, o então prefeito Gilberto Kassab, chegou a ceder um terreno para a construção, o que foi aprovado pela Câmara Municipal. Porém, segundo Lula, o Ministério Público (MP) entrou com processo que impedia a utilização do terreno.
“Nós estamos aguardando para saber se vamos ganhar esse processo na Justiça para pensarmos em fazer uma arrecadação de dinheiro, que está muito difícil, para podermos fazer nosso memorial”, disse o ex-presidente.
Lula explicou que, enquanto não há o espaço físico para construção do projeto, o instituto fez um memorial virtual, para que a sociedade possa, desde agora, acessar textos, fotos, charges, desenhos, cartazes, panfletos e documentos, fac-símiles de notícias da imprensa, exemplares virtuais de jornais, áudios com trechos de canções e discursos, segmentos de filmes e vídeos.
“A democracia não é uma coisa simples de compreender. A democracia não é uma coisa que está dada, ela precisa ser trabalhada. São valores que nós precisamos convencer as pessoas todo dia, porque, às vezes, elas só se dão conta da importância da democracia quando perdem a democracia”, disse Lula.
O ex-presidente enumerou vários direitos que a sociedade perdeu na ditadura militar: “Perdemos muita coisa. Tínhamos as ligas camponesas; que foram proibidas de existir; tínhamos dezenas de milhares de sindicalistas, que foram presos; tivemos dirigentes sindicais que perderam seus direitos políticos; tivemos milhares de trabalhadores demitidos por razões de segurança nacional, que passavam a fazer parte de uma lista negra e não arrumavam emprego em lugar nenhum”.
Ao falar sobre as manifestações contra o governo da presidenta Dilma Roussef, Lula afirmou que isso faz parte do jogo democrático. “Não podemos estar nervosos porque tem gente fazendo manifestação contra nós. Temos que encarar isso com uma certa normalidade. As pessoas baterem panelas durante pronunciamento nosso, é um ato democrático, é um direito legítimo. Ruim é para quem tem que lavar panela amassada depois”, disse. “O importante é medirmos se a gente merece ou não os protestos, não podemos perder a noção da realidade no País”.
O ex-presidente disse que a discussão sobre democracia hoje é uma questão de sobrevivência. “Vivemos um momento delicado, de irracionalidade emocional na sociedade brasileira. Nós também já saímos para a rua, mas parece que no caso deles há um viés deformador. Nós íamos às ruas para pedir liberdade. Tem gente hoje que pede a volta dos militares, o fim da democracia. Contra esses é quem temos que lutar”.
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