A fria recepção da América Latina à posse de Temer

Hugo Chaves (já morto), Dilma, Mujica e Cristina Kirchner - Foto: Roberto Stuckert Filho/ABr
Hugo Chaves (já morto), Dilma, Mujica e Cristina Kirchner em imagem de arquivo – Foto: Roberto Stuckert Filho/ABr

A América Latina recebeu com frieza e oposição à posse de Michel Temer na Presidência da República após a consolidação do impeachment de Dilma Rousseff na tarde de quarta-feira (31). A Argentina, principal sócia do Brasil no Mercosul, reagiu com cautela à destituição da petista.

A nota divulgada ainda ontem não foi assinada pelo presidente Mauricio Macri, mas pelo Ministério das Relações Exteriores, que “respeita o processo institucional verificado no pais-irmão” e reafirmou a vontade de continuar o processo de integração, num contexto de “respeito aos direitos humanos, às instituições democráticas e ao direito internacional”.

A presidente do Chile, Michelle Bachelet – que como Dilma foi vítima da ditadura militar e cumpre seu segundo mandato – emitiu comunicado manifestando respeito “pelos assuntos internos de outros Estados e em relação à recente decisão adotada pelo Senado brasileiro”. Além de expressar confiança de que o Brasil vai resolver seus desafios, Bachelet manifestou “apreço e reconhecimento à ex-presidenta Dilma Rousseff” e afirmou que os dois países “mantiveram relação intensa e produtiva durante seu mandato”.

A Venezuela – que assumiu a presidência do Mercosul à revelia do Brasil já sob Temer (ainda interino), da Argentina e do Paraguai (outras nações com conservadores no poder) e em meio a uma grave crise econômica e política – foi o mais duro a reagir contra o impeachment. Em comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores, anunciou que vai retirar definitivamente seu embaixador em Brasília, “para resguardar a legalidade internacional e em solidariedade ao povo do Brasil”.

O Equador e a Bolívia também prometeram retirar seus embaixadores. E, juntamente com a Nicarágua, denunciaram o que consideram ser um “golpe parlamentar” contra Dilma perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), cujo secretário-geral, Luís Almagro, foi ministro das Relações Exteriores do Uruguai, no governo de Jose “Pepe” Mujica.

Cuba (que está em pleno processo de reaproximação com os Estados Unidos, depois de mais de meio século de guerra fria) também criticou a destituição de Dilma. Mas a Venezuela foi além dos demais, ao prometer “congelar as relações políticas e diplomáticas com o governo [de Temer] que surgiu desse golpe parlamentar”.

Ex-presidentes

Os ex-presidentes da região que conviveram com 13 anos de governos petistas também se manifestaram. A antecessora da Mauricio Macri, Cristina Kirchner, expressou a sua opinião sobre o impeachment pelo Twitter: “América do Sul, outra vez laboratório da direita mais extrema. Nosso coração junto ao povo brasileiro, Dilma, Lula e os companheiros do PT. Se consumiu no Brasil o golpe institucional”, disse.

O presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, manteve silêncio. Seu antecessor, Mujica – hoje senador –, afirmou em reunião com líderes sindicais que o impeachment “foi um golpe anunciado”, mas que serviu de lição: “A companheira Dilma não teve jogo de cintura para negociar e, sobretudo, surpreendeu muita gente de suas próprias fileiras porque quis frear o peso da crise econômica com medidas relativamente conservadoras”.


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