Em sua coluna na Folha de S.Paulo, o ator e roteirista Gregorio Duvivier criticou quem diz que “a política nacional tá melhor que ‘House of Cards’!”. Segundo Duvivier, quem diz isso nunca viu “House of Cards”: “Acho uma falta de respeito com ‘House of Cards’”.
E ele explica: “Se fosse uma série, teria reviravoltas. Mas não. Desde o primeiro episódio que tá todo o mundo dizendo que é golpe”. Tudo é transparente demais: “Eis que, na quinta temporada, os roteiristas escrevem uma grande revelação: ouvimos o ministro do Planejamento planejando (perceberam a sacada do roteirista?) um golpe. ‘Óóóóóóó’, grita a plateia, meu deus! ‘Que surpresa! Por essa não esperávamos!’”
Duvivier observa que, “se fosse uma série de qualidade, Temer não teria tanta cara de vilão. Desde ‘Super Xuxa Contra o Baixo Astral’ não se vê um malvado tão caricato –até ACM, o Toninho Malvadeza, achava Temer uma escolha óbvia demais para o papel: ‘Parece mordomo de filme de terror’”. Nem o pior filme de James Bond, diz o autor, teve um malvado tão obviamente malvado.:“Qualquer criança de seis anos quando vê um sujeito pálido com rosto esticado e voz de sarcófago sabe que é ‘do mal’”.
Em uma série de respeito, diz o autor, “os vilões tentam, pelo menos, fingir que são ‘do bem’: não escalariam um ministério só com homens, não receberiam o Frota no Ministério da Educação e, sobretudo, não revelariam todo o plano maléfico nem para o melhor amigo”. Segundo Duvivier, “Esse recurso de roteiro é um truque baixo”.
Ele completa: “Nunca entendi por que o vilão, quando finalmente encurralava o super-herói, perdia tanto tempo explicando o plano para o mocinho, em vez de simplesmente matá-lo – o tempo que levava explicando o plano era o tempo necessário para o herói se livrar das amarras. O áudio de Jucá combinando tirar Dilma, não porque ela está investigada, mas porque ela deixava investigar, parece o capítulo final de ‘Maria do Bairro’, em que Soraya revela: ‘Sou eu, Soraya! Sua pior inimiga!’. Sim, todo o mundo já sabia que era você, Soraya. Quer dizer, todo o mundo, menos a Maria do Bairro, claro”.
Ele ironiza as pessoas que se dizem surpreendidas pelas gravações em que o PMDB articula o golpe: “A maioria das pessoas que clamavam pelo impeachment recebeu o áudio de Jucá tal qual Maria do Bairro: com surpresa. Cristovam Buarque disse que estava perplexo, que ‘não imaginava’ nada disso quando votou pelo impeachment. Ih, rapaz, tenho várias coisas pra te contar. Sabe o Clark Kent? Era a verdadeira identidade do Super-Homem. Sim! Por isso eram tão parecidos! Mas não espalha”.
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