Em sua coluna publicada nesta quinta-feira (4) na Folha de S.Paulo, Janio de Freitas diz que “o processo político de impeachment é uma grande encenação”, “uma hipocrisia política de dimensões gigantescas, que mantém o Brasil em regressão descomunal”. Ele recorda que o próprio interino Michel Temer já reconheceu que o impeachment de Dilma Rousseff é uma questão “política, não de avaliação jurídica” dos senadores.
Janio destaca as diferenças entre o golpe de 1964 e a deposição de Dilma em 2016: “O golpe de 64 dizia-se ‘em defesa da democracia’, é verdade. Mas o cinismo da alegação não resistia à evidência dos tanques na rua, às perseguições e prisões nem aos crimes constitucionais”, porque “a força das armas desmoralizava a hipocrisia das palavras”.
Hoje, contudo, os militares “não são mais que uma lembrança do que foi a maior força política do país ao longo de todo o século 20”, pois “a aliança de civis e militares no golpismo foi desfeita. A hipocrisia do lado civil não tem mais quem a encubra, ficou visível e indisfarçável”.
Ele acrescenta que “todo o processo do impeachment é, portanto, farsante”, porque “só seria processo autêntico e legítimo o que se ocupasse de avaliação jurídica, a partir da Constituição, de fatos comprovados”. Essa fundamentação jurídica inexiste, como ficou claro pelas “perícias técnicas e pareceres jurídicos (inclusive do Ministério Público) que desmentem as acusações usadas para o impeachment”. Todo o processo constitui uma encenação para justificar o golpe: “E ninguém pagará por isso. Muito ao contrário”.
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