Em meio a um dos momentos mais conturbados do jovem período democrático brasileiro, uma coisa que está clara: O impeachment não pacifica a sociedade. A chegada de Temer pode insuflar os movimentos sociais e nenhum lado está disposto a ceder. O Brasil vive uma crise, manifestada a partir das manifestações de junho de 2013, de representatividade que agora atinge os Poderes Executivo e Legislativo.
O brasileiro há tempos não se sente representado pelas instituições política e seus partidos. Os negros e as mulheres, que representam mais da metade da população brasileira, ocupam menos de 10% dos cargos no Congresso, por exemplo. Esse vácuo de representatividade resulta na politização das instituições na tentativa de substituir quem está no poder.
O último exemplo desse jogo foi a atitude intempestiva do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou a votação de admissibilidade do impeachment, e, no mesmo dia, voltou atrás. “É um jogo sujo e aberto que a gente tem vivido nos últimos anos. O que aconteceu com o Waldir Maranhão foi uma tentativa de entrar nesse jogo sujo”, afirma o professor dep da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado. “Em circunstâncias normais, revogar uma votação com base no não cumprimento de formalidades menores seria completamente absurdo, mas foi tão absurdo todo o processo que isso passa a ser do jogo.”
Para Gladstone Leonel da Silva Junior, advogado popular, professor pós-doutorado pela UnB, o PT está colhendo os frutos de sua própria administração. “A falta das reformas estruturais e o enfraquecimento das organizações sociais de base repercutem no cenário que a gente se encontra, em que a conciliação de classes sociais do governo PT se encerrou.”
O principal problema é que essa instabilidade pode resultar em um longo período de crise, pois nenhum dos lados deve aceitar o que for decidido. “Não vamos voltar à normalidade porque qualquer desfecho vai ser considerado tão absurdo por um dos lados que o outro não vai entregar o jogo. Se a presidenta for destituída, o PT vai ser uma oposição incômoda e os movimentos sociais vão fazer forte pressão para desestabilizar o governo Temer e vice-versa”, completa Ortellado.
Para professor pós-doutorado pela UnB, o levante de bandeiras contra a classe política se dá justamente porque as pessoas não se sentem representadas. “Só que em vez de lutarem por valores democráticos, como a reforma política, elas preferem o autoritarismo. É quando surgem pessoas com discursos fascistas como os do Jair Bolsonaro.”
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