Inspiração da Lava Jato, Operação Mãos Limpas refinou a corrupção na Itália

"Inspirado" pelas Mãos Limpas, Sergio Moro comanda a Lava Jato - Foto: Sylvio Sirangelo/TRF4
“Inspirado” pelas Mãos Limpas, Sergio Moro comanda a Lava Jato – Foto: Sylvio Sirangelo/TRF4

Ovacionado na manifestação de domingo (13), o juiz Sergio Moro é o símbolo da Operação Lava Jato, investigação da Polícia Federal comparada por seus defensores à Operação Mãos Limpas, que na década de 1990 denunciou e condenou políticos e empresários na Itália. O que pouca gente sabe é que a investigação não só criou terreno para a ascensão do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi como refinou a corrupção naquele país.

A análise é do cientista político Alberto Vannucci, 52, professor da Universidade de Pisa, especialista no assunto e citado como referência pessoal por Moro em artigo de 2004. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Vannucci fala que o pós-Mãos Limpas criou uma espécie de “corrupção 2.0” na Itália.

Embora tenha tido “sucesso parcial” em punir políticos e empresários, o operação foi “um fracasso completo na renovação da política italiana”. Nenhuma lei anticorrupção foi criada 20 anos depois, não houve melhora na transparência do governo nem na prestação de contas. “Pior”, várias medidas “aumentaram a imunidade da classe política ao criar obstáculos para investigações”, diz o especialista. “Criaram condições para o desenvolvimento de uma corrupção mais difusa e de mais difícil detecção. Uma corrupção 2.0.”

Para se ter uma ideia, menos de 25% dos investigados foram condenados e cerca de 2% dos condenados cumpriram pena em regime fechado. Depois das Mãos Limpas, diz ele, “políticos ou mesmo o crime organizado passaram a ser os garantidores de um sistema local e mais restrito de corrupção. Agora temos um sistema policêntrico”.

O resultado foi a ascensão de Berlusconi, que saiu da seara empresarial da mídia, futebol e seguros para ingressar na vida política. “Berlusconi percebeu esse vazio político, esse vácuo de representação e, com seu talento empresarial, criou seu próprio partido”, lembra o cientista. “Como a população não queria mais votar nos velhos partidos, Berlusconi obteve esses votos.”

O italiano terminou condenado em 2012 por fraude fiscal.


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