Janine Ribeiro: “Temer tem um prazo. Mas a ficha vai cair”

O filósofo Renato Janine Ribeiro durante palestra - Foto: Tatiana Ferro/Fotos Públicas
O filósofo Renato Janine Ribeiro durante palestra – Foto: Tatiana Ferro/Fotos Públicas

Em artigo publicada na edição desta quinta-feira (12) na Folha de S.Paulo, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política da USP, alertou que “Temer tem um prazo. As primeiras semanas podem causar certa euforia. Ele dialoga e articula mais que Dilma, beneficia-se do voto de confiança das classes conservadoras (ressuscito uma expressão tão antiga quanto classes produtoras, ambas designando o capital). Mas a ficha vai cair”.  

E já começou a cair com a divulgação dos nomes do seu ministério: “Não se escolheu um ministério de notáveis”. Temer poderia ter escolhido a firmeza: “Poderia dizer que seu compromisso é com o Brasil, não com os partidos; poderia ter imposto ao Congresso um ministério ‘de técnicos’, que agradaria à população mesmo incomodando os políticos”. Isso seria uma via difícil, “mas que consagraria seu nome. Preferiu a via mais fácil, que é a do loteamento partidário. Alguns nomes até causaram forte reação desfavorável”.

Daqui em diante, “passada a bolha de confiança, é possível que a crise se acirre. Parece que, para a economia decolar, haverá ainda mais perda do poder de compra. Por um tempo, dirão os defensores do novo governo”.

Ele adverte, caso “esse tempo se alongue ou a economia não se aprume, as críticas à legitimidade do governo Temer aumentarão. Por isso, seus apoiadores vão acelerar o processo de Dilma no Senado. Não querem conviver seis meses com a possibilidade de que ela volte”. Se o novo governo aumentar impostos ou cortar investimentos sociais, o risco de Dilma retornar à Presidência será uma ameaça constante.

Contudo, diz o filósofo, se Dilma for condenada às pressas, “o descontentamento social poderá crescer. A sensação de que o resultado das urnas foi virado no tapetão colocará gasolina nos movimentos sociais e na esquerda”.

Janine afirma que “Dilma perdeu oportunidades, dialogou pouco, fidelizou pouco – tanto que alguns de seus ministros foram para o colo do inimigo”. E acrescenta: “Acontece, todavia, que os problemas brasileiros são bem mais profundos. Retomar o crescimento econômico depois que acabou o boom das commodities não é trivial. Manter e retomar a inclusão social é prioritário”. E tudo isso será cobrado de Temer.

Ele conclui: “Teria sido melhor todos dialogarem. Dilma errou, a oposição errou. Agora é tarde. Nuvens negras, como negro véu, encobrem nossos céus”.


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