A imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora está intimamente ligada ao governo e sua candidatura em 2018 – ventilada por ele em depoimento à Polícia Federal – depende agora de seu sucesso à frente da Casa Civil, o posto número dois da República. A análise é do cientista social e professor da Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) Humberto Dantas em entrevista à Brasileiros.
Depois de um longo período analisando se assumia ou não o posto a convite da presidenta Dilma Rousseff, Lula decidiu assumir o cargo, e agora “ele tem de durar”. “Dilma levou o seu maior fiador para o Planalto. Agora ela não pode renunciar e nem ele pode sair. Se ele cair, será um tiro no pé do governo, no peito. A entrada do Lula inviabiliza a saída dos dois.”
Para o professor, o Lula que ensaiou um divórcio com Dilma antes da condução coercitiva a que ele foi exposto pela Operação Lava Jato precisa morrer. Agora ele é governo e seu sucesso pode significar a eleição de 2018, do contrário… “Se Lula cair em 2016, caiu em 2018 também. O candidato do PT para 2018 entrou para o governo. Hoje é inseparável. “
Para o cientista, a escolha de Lula revela a percepção de que Dilma não é mais capaz de governar sozinha dado o boicote da base aliada ao governo, que se bandeia para a oposição. “Talvez a Dilma nem possa escolher e governar. Acho que o PT a fez enxergar e entender que o Lula é o cara que pode tocar isso adiante.”
Dantas lembra que o Lula que agora chega ao governo talvez não seja o mesmo “lá de trás, em popularidade e condição jurídica”. “Será que é diferente ideologicamente em relação a 2003, quando ele negociou com o mercado ou será que vai esquerdizar economicamente?”
O risco
Para Dantas, o futuro do governo com a chegada de Lula traz “um grande ponto de interrogação à política”. Lula “que já foi motor da política”, em último caso, “pode se transformar em âncora”. Para o cientista, deposita-se uma grande expectativa de mudança na articulação política, mas a tarefa não será fácil. Tudo depende de sexta-feira (18), quando acaba a data-limite para que os políticos mudem de legenda visando a campanha deste ano.
Para o estudioso, o impeachment não está na mão nem dos partidos de esquerda, que somam 98 deputados (PT, PDT, PSOL, PCdoB e Rede), nem nos da oposição, com pouco mais de 120 parlamentares (PSDB, DEM, PPS, PSB e Solidariedade). O fiel da balança seria o bloco liderados pelas legendas fisiológicas, conhecidas pela infidelidade. “O PMDB lidera 69 deputados, PSB e PR lideram 80 nome; PP e PTB outros 80, enquanto 39 deputados estão sob a orientação de PRB e PTN.”
Oposição
Quanto à oposição, é provável que ela acuse o ex-presidente de tentar fugir da prisão pela Lava Jato, em análise pelo juiz Sérgio Moro. O problema, no entanto, é que a oposição também tem de se preocupar. “Ela aponta o dedo para o governo, mas agora o Aécio Neves é pessoalmente citado. O ex-deputado federal Pimenta da Veiga, em Minas Gerais, está sendo citado e ele foi candidato do Aécio ao governo mineiro e foi ministro do Fernando Henrique.”
Além disso, faltaria uma estratégia clara de governança por parte da oposição: “Mas o fato é que ela não tem agenda. O que existe é um plano do PMDB chamado Ponte do Futuro. O PMDB é a opção?”
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