Seiscentos produtores rurais do norte do Mato Grosso, região de produção de soja, milho, algodão, encheram 15 ônibus e viajaram dois dias até Brasília para participar das manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Vestindo camisetas amarelas com a inscrição “Fora PT”, parte do grupo estava reunida em frente ao hotel Bristol, de quatro estrelas, na noite de ontem, 16. Avisaram que chegariam mais produtores do Estado ainda naquela noite. Considerando as caravanas de todo o País, seriam cerca de 20 mil na Esplanada dos Ministérios neste domingo (17).
Eles afirmaram que estão pagando todas as despesas, incluindo a diária do hotel – R$ 484 o apartamento single e R$ 520 o duplo. Estavam ali, na verdade, atendendo a um chamamento da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que ficou irritada com uma declaração do tesoureiro da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Santos, durante ato no Palácio do Planalto no início do mês. O dirigente defendeu a ocupação das fazendas e das propriedades dos deputados que votassem pelo impeachment. “Vai ter luta, não vai ter golpe”, avisou. Dias depois, a CNA anunciou apoio formal ao impeachment e informou que disponibilizaria 500 ônibus para o transporte de produtores a Brasília no dia da votação na Câmara.
Os produtores chegaram a Brasília com o discurso afiado. Os integrantes do grupo hospedado no Bristol têm terras em Tangará da Serra, Campo Novo, Brasnorte, Sinop, entre outros municípios. A corrupção é parte da pauta. “Temos uma corrupção sistêmica no País”, afirma Israel Vendrame, acompanhado do filho adolescente.
Os Jornalistas Livres embarcaram no ônibus do MSTS rumo a Brasília que saiu de SP
A crise econômica vivida pelo País, porém, parece ser a maior preocupação. “O mau governo está afetando diretamente a cadeia produtiva. O pouco investimento em infraestrutura, na saúde no campo, a pesada carga tributária, tudo preocupa”, comenta Bruno Gonçalves. “A gente perde a confiança nos nossos governantes. Está havendo muito desemprego, aumento do custo de vida, perda de renda”, completa Alexandre Pedro.
Gonçalves entrou, então, no tema que mais assustou a CNA: “Está havendo insegurança no campo, com muitas invasões de terras”. Pedro entra na conversa e afirma que os assentamentos implantados pelo governo petista “são grandes favelas”. Gonçalves acrescenta que a reforma agrária está beneficiando pessoas estranhas ao meio rural: “Eles não dependem da terra para viver”.
Vendrame afirma que o grupo ali presente “não é partidário”, defende apenas uma saída para o País. Eles não se entusiasmam com Temer, mas argumentam que o Brasil perdeu seis meses pela indefinição da presidenta Dilma, que não apresentou um plano para superar a crise econômica. “O PT precisa sair para dar uma oxigenada, uma animada na população”, recomenda Gonçalves. Enquanto se organizam para sair em caminhada, repetem o slogan grafado na camiseta: “Fora PT! Fora PT!”. Eles prometem chegar às 10h à Esplanada hoje, embora a sessão de votação do impeachment será iniciada somente às 14h. A votação mesmo só depois das 16h e previsão de encerramento por volta das 21h. Eles ficam até o final, garantem.
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