Manual do perfeito midiota – 49

Donald Trump surpreendeu o mundo inteiro ao se eleger presidente dos Estados Unidos. Foto: reprodução/facebook

Você provavelmente engrossa o coro daqueles que se espantaram, no meio da semana, com a eleição de Donald John Trump ao mais alto escalão do poder global.

Não apenas você, mas toda a mídia internacional ficou sem palavras para dizer o que significa a ascensão à presidência dos Estados Unidos de um homem cuja visão de mundo se situaria, com muita generosidade, na transição do século XIX para o século XX.

E, como se sabe, quando não se tem palavras é que advém a verborragia, ou seja, aqueles que têm pouco a dizer são os que mais vociferam quando a realidade contraria suas expectativas.

Até mesmo o venerável The New York Times, surpreendido pela vitória do ogro republicano, registrou que o resultado das urnas chocou o mercado, representando um manifesto de repúdio ao establishment.

No Brasil, a nata da mídia hegemônica também não dissimulou seu espanto e sua contrariedade com aquilo que parecia inadmissível: Hillary Clinton era o ideal de modernidade com sobriedade que as elites imaginavam.

O Globo afirma, em editorial, que “as forças do atraso”, contrárias à integração entre as sociedades e economias, ganham um reforço com Trump na Casa Branca. Ele representaria, segundo a opinião do poderoso jornal carioca, o avanço de grupos políticos nacional-populistas, xenófobos, anti-imigrantes e outras características típicas de movimentos reacionários contra a globalização.

Poderíamos citar outros textos da imprensa dominante no Brasil para registrar o que pode ser analisado como um exemplo de extrema hipocrisia ou de baixa percepção da realidade por parte da elite das empresas de comunicação.

Há aqui valiosas lições a serem absorvidas por todos, mas principalmente para os midiotas, que acreditam piamente no conteúdo do noticiário e do opiniário de maior audiência.

Mas vamos por partes: primeiro, é preciso considerar seriamente o vergonhoso fracasso dos institutos de pesquisas credenciados pela imprensa – todos eles erraram os prognósticos. Seriam as pesquisas apenas um instrumento adicional de convencimento da midia?

Em segundo lugar, como admite o New York Times, convém refletir como os principais analistas do jornal mais influente do mundo foram incapazes de captar os sinais de sublevação que acabaram dando a vitória a Trump.

Em terceiro e não menos importante, o episódio alimenta as teses segundo as quais o modelo de jornalismo que criou a mídia contemporânea está falido: nem o uso intensivo de tecnologias altamente sofisticadas de prospecção da opinião e da vontade dos indivíduos foi capaz de oferecer um mínimo de eficácia diante dos fatos objetivos.

Faliu, portanto, o prognóstico da objetividade, principal justificativa moral do jornalismo como atividade corporativa.

Mas há outro aspecto que precisa ser analisado: a mídia hegemônica do Brasil não entendeu que o processo de despolitização da sociedade produz uma bola de neve cujo crescimento só o caos pode interromper.

O que se quer aqui dizer é que não se pode, impunemente, deflagrar uma campanha de descrédito dos políticos. A consequência mais natural será que em algum momento as massas se voltarão contra a política em si, o que abre caminho para o fascismo.

Com todos os defeitos, a política democrática, que subentende a tolerância aos divergentes, é a solitária garantia de que as escolhas de uma sociedade irão fortalecer a democracia. Ainda que muitos detestem o resultado dessas escolhas.

Para ler (em inglês): O espanto do NYTimes.


Comentários

3 respostas para “Manual do perfeito midiota – 49”

  1. Avatar de Sidney Martucci
    Sidney Martucci

    O primeiro ponto, este sim fundamental na analise da eleição americana é que a escolha dos delegados é que decide de fato a eleição e não a votação popular.Hillary poderia ter tido a votação de 90% do eleitorado americano, mas em não conseguindo os 270 delegados como apoio, como não conseguiu de fato, transforma os votos popular em nada, mera perda de tempo. Outrossim, não é a rejeição popular aos políticos que está levando o mundo para uma guinada ao totalitarismo ou renascimento do fascismo, mas sim o próprio comportamento inadequado e corrupto dos políticos mundo afora, estamos vivenciando um quadro político dos mais medíocres da historia mundial, ou seja a rejeição tem sua razão de ser, então por analogia são os políticos que estão levando o mundo a esta direção !

    1. Também deve-se considerar o efeito do crosscheck, por meio do qual foram banidos da votação muitos eleitores negros, latinos e de origem oriental, em muitos estados. Trata-se de uma espécie de fraude institucionalizada, o branqueamento do eleitorado. Já foi feito na eleição de George W. Bush contra Al Gore e se repete desde então. http://www.nbcnews.com/news/us-news/do-voter-purges-discriminate-against-poor-minorities-n636586

      1. Avatar de Sidney Martucci
        Sidney Martucci

        Ops !!! não sabia que havia este tipo de efeito ou esta ação para selecionar eleitores, ou seja as eleições americanas são meras fachadas democráticas e obrigado pelo envio do link, valeu !

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