Derrotada no plenário da Câmara dos Deputados no último domingo (17) no processo de admissibilidade do impeachment, a presidenta Dilma Rousseff é punida por ter sido a única pessoa a ocupar o Palácio do Planalto a não interferir nas investigações de corrupção no governo. A análise, feita em carta aberta em artigo no jornal Folha de S.Paulo, é da psicanalista Maria Rita Kehl, que também integrou a Comissão Nacional da Verdade, que investiga as violações aos direitos humanos cometidas pela ditadura militar.
Kehl começa seu texto usando a forma como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dirige a Dilma, expressão ironizada pela oposição durante a votação de domingo: “Querida presidente Dilma”, escreveu. “O lugar que ocupará na história do País […] está garantido, presidente Dilma, e será positivo.”
A principal razão, diz ela, é que “pela primeira vez ‘na história deste País’, um governante não usou de seus poderes de manipulação e chantagem para evitar a investigação de crimes envolvendo seu partido”. A psicanalista pergunta: “Será que ninguém se pergunta por que a Lava Jato, apesar de sua evidente falta de imparcialidade, nunca encontrou obstáculos durante seu mandato?”
Ela agradeceu a instalação da Comissão Nacional da Verdade, embora com muito atraso em relação aos vizinhos latino-americanos. Essa demora, corrigida por Dilma, não foi suficiente para que a população se mobilizasse. Ao contrário, jovens pedem intervenção militar “como se autoritarismo e repressão fossem sinônimos de ordem e paz social”.
O resultado: a possibilidade de “cassação de uma presidente séria, comprometida com o combate à corrupção, por uma Câmara comandada por um deputado acusado de vários crimes e repudiado pela população”.
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