Romero Jucá é gravado fazendo promessa de parar Lava Jato

Romero Jucá, um dos homens de confiança de Michel Temer - foto: EBC
Romero Jucá, um dos homens de confiança de Michel Temer – foto: EBC

Se o governo da presidenta Dilma Rousseff fosse trocado, um pacto para “estancar a sangria” desatada pela Operação Lava Jato seria costurado e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ficaria livre de pressão. A proposta foi feita pelo atual ministro do Planejamento, Romero Jucá, em março passado em conversa grampeada por autoridades.

A gravação, de 1h15min em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi feita semanas antes da votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff no plenário da Câmara dos Deputados. De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, na conversa, Machado cobra, nervoso, de Jucá uma providência para que seu processo, em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal), não fosse parar na vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba. “Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu ‘desça’? Se eu ‘descer’…”, ameaçou.

Jucá concordou com Machado que novas delações não deixariam “pedra sobre pedra” e que ninguém ali poderia ficar “na mão desse [Moro]”. “Eu acho que a gente precisa articular uma ação política”, sugeriu o atual ministro, que recomendou a Machado que se reunisse com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Para convencer o executivo, Jucá afirmou que um futuro governo Temer construiria um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado emendou: “Aí parava tudo”, no que respondeu Jucá: “É. Delimitava onde está, pronto.”

Alvo de inquérito ao lado de Renan, Machado presidiu a Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2014, por indicação do PMDB nacional. Ele teria entregue R$ 500 mil em propina a um dos delatores da Lava Jato, Paulo Roberto Costa.

Jucá, por sua vez, teria embolsado R$ 1,5 milhão do dono da UTC, Ricardo Pessoa, para financiar a campanha do filho, então candidato a vice-governador de Roraima. Segundo Jucá, não houve ilegalidade no repasse.

O advogado do ministro, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, negou que Jucá pensasse “em fazer qualquer interferência nas investigações” e que não há “ilegalidade” na conversa mantida com Machado.

Leia alguns trechos do diálogo:

Sérgio Machado – Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

Romero Jucá – Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais crédito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula via reunir ali com os setores empresariais?

Sérgio Machado – Agora, ele acordou a militância do PT.

Romero Jucá – Sim.

Sérgio Machado – Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.

Romero Jucá – Eu acho que…

Sérgio Machado – Tem que ter um impeachment.

Romero Jucá – Tem que ter impeachment. Não tem saída.

Sérgio Machado – E quem segurar, segura.

Romero Jucá – Foi boa a conversa, mas vamos ter outras pela frente.

Sérgio Machado – Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Suprmeo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

Romero Jucá – Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.

Sérgio Machado – Odebrecht vai fazer.

Romero Jucá – Seletiva, mas vai fazer.

Sérgio Machado – Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que… O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.

[…]

Romero Jucá – Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[…]

Sérgio Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

Romero Jucá – Só o Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

Sérgio Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

Romero Jucá – Com o Supremo, com tudo.

Sérgio Machado – Com tudo, aí parava tudo.

Romero Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.

[…]

Sérgio Machado – O Renan é totalmente ‘voador’. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. ele não compreendeu isso não.

Romero Jucá – Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

Sérgio Machado – A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…

Romero Jucá – Acabar coma classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…

Sérgio Machado – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

Romero Jucá – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

Sérgio Machado – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

Romero Jucá – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[…]

Sérgio Machado – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

Romero Jucá – Todos, porra. E vão pegando e vão…

Sérgio Machado – [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

Romero Jucá – Não, veja, eu estou à disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

Sérgio Machado – Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.

Romero Jucá – Não, o tempo é emergencial.

Sérgio Machado – É emergencial, estão preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

Romero Jucá – Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

Sérgio Machado – Acha que não pode ter reunião a três?

Romero Jucá – Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem anda a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a gente conversa os três sem você.

Sérgio Machado – eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

Sérgio Machado – É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…

Romero Jucá – Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

Sérgio Machado – O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe?Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…

Romero Jucá – É, a gente viveu tudo.

Romero Jucá – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes, militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

Sérgio Machado – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse páis volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo MP SP e à condução coercitiva dele para depor no caso da Lava Jato]

Romero Jucá – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento…

Sérgio Machado – …E burro […] Tem qu eter uma paz, um…

Romero Jucá – Eu acho que tem que ter um pacto.

[…]

Sérgio Machado – Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

Romero Jucá – Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara… Burocrata da… Ex-ministro do STF {Superior Tribunal de Justiça].


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