O Palácio do Planalto iniciou a semana se questionando sobre os passos que vai dar depois que quase 2 milhões de pessoas tomaram as ruas no domingo (13) pedindo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Enquanto o governo decide se abandona a política conservadora de 2015 para recuperar o apoio dos movimentos sociais, o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) surfam na popularidade conquistada no protesto.
“Moro foi o protagonista indiscutível do protesto”, crava a socióloga Esther Solano, que foi até o protesto de domingo e é uma das autoras do livro Mascarados: A verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc. “Ficou claro pra mim que o descontentamento é contra Dilma e o PT, mas também contra todo o sistema político”, avalia, ao lembrar das vaias recebidas por Aécio Neves (PSDB-MG), Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Marta Suplicy (PMDB-SP) no protesto. “Esse descontentamento contra todo o sistema político deixa a porta aberta para figuras de fora do mainstream, como Moro, que tem esse caráter messiânico ao personificar a luta contra a corrupção.”
A força do juiz também deve crescer depois que a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, encaminhou para Moro a decisão de julgar a procedência do pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O volume de apoio foi tamanho que ele decidiu publicar uma nota dizendo-se “tocado” e sugerindo às “autoridades eleitas e partidos” que deem ouvidos à “voz das ruas”. Moro, por outro lado, é um dos principais alvos dos defensores do governo, que consideram ilegal a condução coercitiva a que sujeitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há duas semanas.
Agora, acredita a socióloga, Moro – antes receoso com as críticas da condução coercitiva – terá liberdade para manter seu estilo “precipitado e exagerado”, segundo alguns juristas. “Ninguém mais segura o Moro”, aposta a pesquisadora. “O pensamento dele deve ser ‘o povo está comigo’.”
Para a cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro Braga, não vai surpreender se o juiz da Lava Jato decidir sair candidato em 2018, pelo menos no Paraná, onde atua. “Antes havia essa especulação sobre o Joaquim Barbosa [ex-ministro do STF], agora é o Moro. Não dá para ignorar essa possibilidade dado o momento em que a gente vive, com políticos tradicionais desacreditados.”
Outro que saiu bem na self foi Bolsonaro, que de comum não tem nada. “Ele é a expressão do eleitor contrário à agenda de direitos sociais, que mostrou sua força ao manifestaram sua expressão gritando o nome do deputado”, diz a cientista.
Para Esther, a pesquisadora, Bolsonaro surge como opção porque a tradicional “está em crise” em todo o globo. Ela traça um paralelo com o que acontece na pré-eleição americana, em que o ultraconservador Donald Trump desponta como favorito no Partido Republicano. “O Trump é um outsider, um empresário radical, mas emocional”, que como Bolsonaro, tem “o talento para dominar emoções”: “O deputado tem não só a disposição de ser politicamente incorreto como usa o recurso da raiva para catalisar essa insatisfação”.
Enquanto isso, o governo tenta se reorganizar. Nos bastidores, a ala petista do governo aconselha Dilma a mudar sua política econômica e retomar uma agenda de esquerda para atrair público para as manifestações pró-governo, previstas para a próxima sexta (18).
Para a professora da Ufscar, o protesto não “é o detonador da resolução do xadrez que estamos vivendo”. “Essa peça é importante, tem legitimidade, mas outras têm de se mover. O Legislativo é um deles”. Ela lembra que a opinião dos quase dois milhões que protestaram deve ser pesada, mas Dilma “ganhou as eleições com muito mais que isso”. “A legitimidade das urnas não pode ser esquecida.”
A professora lembra que “só a manifestação resolve”. “Em 1984, teve Diretas Já, mas não tivemos eleições direta”, recorda-se. Mas ela serve para saber “como a população está pensando e avaliando não só o PT como o governo”. “O protesto do dia 18 deve indicar o rumo do governo.”
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