No aniversário de 35 anos do PT, Suplicy cobra mudanças no partido

PT 35 anos

Entre citações de Aristóteles, Confúcio, Martin Luther King e Mano Brown, Suplicy concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Brasileiros no gabinete da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

Após 24 anos de mandato, o agora secretário municipal saiu do Senado no sábado, 31 de janeiro. Em um post em sua página oficial do Facebook, Suplicy se despediu da Casa “muito sentido” por não ter conseguido uma audiência com a presidenta Dilma, conversa que solicita desde junho de 2013, para falar da implementação de uma de suas principais bandeiras: a renda básica de cidadania.

No aniversário de 35 anos do PT, Suplicy se mostra esperançoso com o segundo mandato do governo Dilma, mas concorda com a frase de sua ex-mulher e senadora Marta Suplicy: “Ou o PT muda, ou acaba”.

Revista Brasileiros – O senhor saiu do Senado desapontado por não ter sido recebido por Dilma. O senhor acha que o PT ou o governo Dilma tem virado as costas para quadros históricos?

ES – Eu enviei oito cartas solicitando uma audiência com a presidenta para sugerir a criação de um grupo de trabalho para estudar as etapas previstas na constituição gradual da renda básica de cidadania. De acordo com esse programa, todos têm o direito de participar da riqueza da nação, não importa o sexo, gênero, idade ou condição socioeconômica. Hoje nós temos o programa Bolsa Família, que resultou do debate havido no início dos anos 90 do projeto de lei que garantiria a renda mínima.  Mas eu ainda tenho esperanças de ser recebido pela presidenta. Quem sabe ela não lê a sua reportagem e se convence da importância do programa?

RB – O começo do mandato de Dilma tem recebido muitas críticas da esquerda, principalmente após nomeações de ministros como Katia Abreu e Joaquim Levy. O que o senhor acha do começo de mandato da presidenta?

ES – Ela está enfrentando uma situação de grande dificuldade, ela precisará fazer correções para que haja maior confiança na economia para restabelecer o ritmo de crescimento. Dilma quer combinar o crescimento econômico com inclusão social para valer. Eu acredito que esse seja o seu propósito, erradicar a pobreza. Quero ajudar. Por isso insisto na iniciativa de renda mínima.

RB – A nomeação de Levy para o Ministério da Fazenda não abala a crença do senhor?

ES – Se o conjunto dos ministros conseguir estabelecer um projeto positivo, seja no Planejamento, no Meio Ambiente, no Ministério do Trabalho, no estímulo da economia solidária, nas cooperativas, na medida em que o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, possa dialogar com a ministra Katia Abreu, assumindo o compromisso pela reforma agrária, na medida em que se desenvolvam instituições oficiais de crédito, ou seja, BNDES, Banco do Brasil, Banco do Nordeste do Brasil, que se dediquem ao micro- crédito e crédito para agricultura familiar, na medida em que o Ministério de Desenvolvimento Social tenha disposição de avançar naquilo que foi tão positivo, como o Bolsa Família…Enfim, se todos os ministérios responsáveis pela inclusão social conduzirem bem, e o Levy colocar as finanças em ordem combinada à forma de inclusão social para valer, acredito que possa haver progresso.

RB – Marta Suplicy saiu do Ministério da Cultura dizendo que se o PT não mudasse, o partido iria acabar. O senhor concorda com essa frase?

ES – Tudo isso que apareceu na Operação Lava-Jato nos entristece. O PT precisa mudar para prevenir e evitar esses erros. Na Petrobras, uma empresa tão importante na história do Brasil e do PT, cada vez que surge a informação de que ali pessoas procuraram se utilizar de posição de tomadas de decisões para enriquecer ilicitamente, isso nos machuca a todos. É preciso responsabilizar os malfeitores, corrigir e ter pessoas de efetiva confiança da presidenta e da população brasileira na direção.

Numa filiação tão grande, é sempre possível que alguém cometa erros. A minha responsabilidade é combater e prevenir esses erros. Como senador, apresentei um projeto de lei para que candidatos registrem em tempo real durante a campanha todas as contribuições de toda natureza para que não haja caixa 2. A presidenta Dilma tem dito que vai apresentar um projeto de lei para transformar caixa 2 em crime eleitoral. Sou favorável a proibir as doações de pessoas jurídicas e limitar doações de pessoas físicas.

Foto: Vinicius Felix
Foto: Vinicius Felix

 

RB – O senhor acha que recebeu pouco apoio do partido na campanha para senador?

ES – Eu gostaria de ter recebido ainda mais apoio do partido. Na minha interação com o partido, me disseram que eu teria até maior facilidade de acesso a recursos do que o PT em si. Eu procurei desde o inicio da campanha buscar recursos junto a empresas porque, embora eu considere que não deveria haver mais contribuições de pessoas jurídicas, enquanto não houver o apoio necessário de recursos públicos, temos que arrecadar recursos de pessoas físicas e jurídicas. Promovi um jantar de fundos para que pessoas físicas pudessem contribuir, mais de 200 comparecerem e foi importante, mas o maior valor viria de potenciais empresas e eu procurei diversos diretores e presidentes. Dessa forma, consegui no período de junho a setembro algo como R$ 2.25 milhões. Naquilo que eu diretamente tinha responsabilidade, os gastos somaram R$ 3 milhões. O partido atribuiu a minha campanha gastos que foram realizados na campanha para governador e deputados. Mesmo assim, a minha campanha teve menos de um terço dos recursos à disposição de meus adversários. Durante o horário eleitoral, tive 2 minutos. A mensagem que eu colocava nos meios de comunicação não era suficiente.

O partido estava sem recursos suficientes até para fazer a campanha majoritária em São Paulo do Alexandre Padilha. Ainda estamos devendo a dívida da campanha para governador e senador em São Paulo. A divulgação de problemas com a Petrobras dificultou uma maior generosidade dos potenciais contribuintes para o PT. Ainda tenho que fazer um esforço de arrecadação para pagar a dívida de cerca de R$ 400 mil.

RB – São Paulo é um antro anti-petista. Por que o senhor acha que isso acontece?

ES – Em São Paulo, para o PT, houve um verdadeiro tsunami. Precisamos refletir sobre isso e temos uma responsabilidade enorme no governo Haddad, a principal vitrine do PT em São Paulo, de superar todos os obstáculos e dar exemplos importantes. Aqui se concentram os meios de comunicação, os principais jornais, revistas, canais de televisão e rádio, e os principais jornais dedicam uma grande energia a criticar o PT. Sou parlamentar desde 1979 e nunca tinha sido brindado como fui ontem após o meu primeiro ato como secretário municipal de direitos humanos. O Estadão publicou um editorial me criticando por eu ter dito que dialogaria com os black blocs. Eu enfatizei que estava disposto a dialogar com todos os movimentos sociais, sempre propugnando que jamais usem a violência. Eu acredito firmemente que as transformações podem e devem se dar por manifestações políticas fortes, mas sempre sem violência.

RB – Como o senhor avaliou a derrota que o governo sofreu com a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no primeiro turno, como líder da Câmara dos Deputados?

ES – A derrota no Congresso é resultado do que aconteceu nas urnas. A presidenta terá dificuldades no Congresso Nacional. Vários parlamentares do PMDB, em princípio da base de apoio do governo, votaram no Aécio Neves e outros tem um procedimento que eu não acredito que seja o mais saudável. Fiquei 24 anos no senado e tive sempre por norma não fazer indicações de pessoas para ocuparem cargos de ministros ou direção de empresas estatais. Também nunca procedi na hora de votar qualquer matéria sem defender aquilo que fosse de interesse público. Nunca votei em função de ter alguma emenda apresentada liberada ou não. Será ótimo o dia em que o presidente da República possa dizer aos parlamentares: aja sempre de acordo com o interesse público. Mas não é fácil.

RB –  Como secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, o que o senhor pretende fazer no impasse com o MPL?

ES – A Prefeitura tem algumas limitações de orçamento. Os movimentos sociais solicitam simultaneamente mais saúde, mais creche, melhoria do programas habitacionais, etc. O fato de ter havido no ano passado um corte de R$ 3,20 para R$ 3 fez com que no orçamento fossem limitados os gastos para essas outras finalidades. É importante que estejam conscientes que não dá para se obter tudo simultaneamente. Transmitir essas informações num diálogo com eles é importante, e mostrar que é possível realizar manifestações de maneira a não realizar incêndios e quebra-quebra, colocando em risco a vida de pessoas.

RB – E qual o papel da Polícia Militar na promoção de violência nessas manifestações?

ES – É preciso ter muito cuidado para não haver abusos da parte da Polícia Militar, que chegou a ferir pessoas que não estavam realizando ações de violência, inclusive jornalistas. Houve um incêndio anteontem na favela de Paraisópolis, por exemplo. Fui acompanhar como a Prefeitura estava realizando a inscrição de pessoas que perderam suas casas e vão receber apoio. Fiquei lá quase duas horas acompanhando o trabalho dos assistentes sociais. Veio uma moça, de uns 20 anos, que havia sido ferido por bala de borracha em um conflito com a polícia na Paraisópolis no ano passado. Ela tinha tentado falar com o governador na inauguração de um centro de saúde, mas os seguranças não a deixaram se aproximar. Ela ficou cega de um olho e até hoje não conseguiu qualquer apoio do governo.


Comentários

Uma resposta para “No aniversário de 35 anos do PT, Suplicy cobra mudanças no partido”

  1. Avatar de Juliana Moraes
    Juliana Moraes

    Ladrões, traíras, estão comemorando os roubos e a impunidade (até agora ninguém foi mesmo punido)? Depois do carnaval, se a anta dentuça insistir com o pacotão o brasil inteiro se levantará contra vocês, cambada de lesa-pátria.

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