NYT: ‘Camisas da seleção em protesto mostram manifestantes agindo como fãs’

Para articulista, camisa da seleção em protesto é simbólico - Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Para articulista, camisa da seleção em protesto é simbólico – Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

“A camisa verde-amarela da seleção brasileira de futebol tem sido um símbolo para os comícios de rua que defendem o impeachment. Os participantes querem enfatizar seu patriotismo, mas a imagem de massas vestindo o uniforme da equipe de futebol também funciona como uma alegoria para a situação do País. Eles agem como os fãs que querem derrotar o oponente que tinha ganho um jogo, mas não o torneio.”

É assim que termina um artigo de hoje da repórter brasileira Carol Pires para a sessão de opinião do jornal The New York Times. Ela escreve que, “ao contrário da renúncia do presidente Fernando Collor”, a saída de Dilma “deixa um rastro de ressentimento. Embora fraturado e diminuído, o PT ainda é o único partido verdadeiramente popular”.

Segundo o artigo, para Dilma e seus aliados o impeachment é uma tentativa de golpe, uma posição que gerou forte reação em todo o País. Ela cita uma pesquisa Datafolha, que mostra que 49% dos brasileiros acreditam que o processo de impeachment é legal, enquanto 37% pensam justamente o contrário. “Mesmo que as primeiras reações sejam de apatia, os dados de sondagem mostram uma sociedade dividida.”

Mas como se chegou a esse cenário? A articulista lembra que a última fotografia de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Brasil, tirada em 1º de janeiro de 2011, o flagra descendo a rampa do Palácio do Planalto como uma estrela “que vai ao encontro de seu público ao final de um show, ignorando a segurança e mergulhando em um mar de apoiadores”. Cinco anos e meio depois, o Senado suspende provisoriamente sua sucessora Dilma Rousseff do cargo. “Lula voltou para o Palácio do Planalto para apoiar uma Dilma em apuros. Com os olhos cheios de lágrimas, disse a um amigo: ‘Eu não queria ser parte desse quadro’.”

O percurso de uma imagem para a outra foi tortuosa, escreve. Dilma presidiu uma economia estável durante a maior parte de seu primeiro mandato, mas calculou mal em confiar na manipulação do orçamento para sustentar o crescimento econômico. Uma vez reeleita, em 2014, as medidas de austeridade fiscal diminuiu. “O ziguezague ideológico deu munição aos seus adversários, e custou-lhe um bom número de seguidores que viam em sua política fiscal a agenda neoliberal da oposição.”

A expulsão de Dilma e do PT do Planalto acabou significando a ascensão do vice-presidente Michel Temer. O PMDB, no entanto, não é menos envolvido no saque da Petrobras do que outros partidos. “A economia naufragando e a indignação contra a corrupção resultou em sucessivas e intensas manifestações populares que levaram a uma mudança de governo, mas não na política brasileira.” Ela conta que Temer assumiu como presidente interino em 12 de maio “com um gabinete todo branco, todo macho”, em nítido contraste com a equipe de Dilma, a primeira mulher presidente do Brasil.

O que se viu em seguida: distribuição de postos ministeriais entre os partidos da coligação agora no poder em troca de votos no Congresso. Os hábitos de sempre. Depois que o impeachment se consolidou, uma ampla agitação social, gerada pela raiva contra a corrupção e mais de 11 milhões de brasileiros desempregados, se transformou na apatia de ruas esvaziadas, lamenta o artigo. “Para muitos, o foco não está mais na política do governo em dificuldades, mas em seus próprios bolsos. Outros concordam com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para quem Temer não era a sua escolha, mas ‘o que está lá’.”   

A falta de referências ideológicas e a raiva dirigida a políticos levaram ao surgimento de extremistas, como o deputado Jair Bolsonaro, que, na votação de impeachment, elogiou um torturador da ditadura. “O Brasil agora tem o mais conservador Congresso em décadas. O campo está aberto para personagens assim ganharem as eleições de 2018.”


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