As ruas da Esplanada dos Ministérios estão bloqueadas desde a meia-noite desta última terça-feira (10). As avenidas paralelas ao poder estão congestionadas. É difícil se mover na capital do Brasil.
No Senado Federal, o movimento da imprensa e de parlamentares nunca foi tão intenso. Há pouco espaço para caminhar na área externa ao plenário. Enquanto isso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, abre a sessão de votação para o julgamento do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Distante do Parlamento, a população se divide entre indignação e comemoração. Os primeiros levam o olhar triste, que esconde o medo do que está por vir e a angústia pela ameaça à democracia. Os que apóiam o golpe, falam alto e não têm problemas com terem suas conversas escutadas, como se todo o mundo ao redor fosse a favor do impeachment.
Na tarde desta última terça-feira (10), a presidenta Dilma abriu a Conferência Nacional das Políticas para Mulheres, em Brasília. Foi ovacionada pelo público feminino, que cantava palavras de ordem como “no meu país, eu tenho fé, porque ele é governado por mulher”.
Na primeira fileira, no palco, estavam as mulheres que apoiam a presidenta, como a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a ministra Nilma Gomes, da Secretaria Especial da Igualdade Racial, as senadoras Fátima Bezerra (PT-RN) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), a deputada federal Benedita da Silva (PR-RJ), a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres e representantes de movimentos sociais. Emocionada, Menicucci chamou a atenção para a força das mulheres. “Nós não envergamos diante dos torturadores, não vai ser agora que vamos envergar”, afirmou.
Dilma reafirmou que resistirá até o final. Quando terminou o evento, algumas mulheres choravam. Temem perder conquistas e retroceder em políticas. Veem como a mulher mais poderosa do país está sendo tratada.
Antes de iniciar a sessão desta quarta-feira (11), Renan Calheiros, disse que pediu “paciência a Deus” para ajudá-lo a conduzir a votação. O senador Álvaro Dias (PV-PR), acusa os defensores de Dilma de tentarem adiar o processo de votação. “O que houve até agora, lamentavelmente, foi uma tentativa de procrastinação infeliz”, afirmou Dias, que disse, antes de entrar no plenário, esperar que a votação a favor do impeachment seja maior do que o previsto.
Por outro lado, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que o impeachment é golpe, sob protestos dos colegas senadores. “Eu nunca vi, na história deste País, o acusador servir de inquisidor.” Em breve passagem pelo plenário do Senado, o vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) afirmou que não vai votar a favor das propostas do governo de Michel Temer (PMDB-SP). “Não vou legitimar um governo provisório, que nasce com algumas marcas. Uma delas é a indecisão”, afirmou Costa. “É mais indeciso que o Waldir Maranhão”. No dia 17 de abril, na votação da admissibilidade do impeachment na Câmara, assim como muitas mulheres na conferência ontem, o vice-líder do governo chorou muito.
Esse mesmo cenário se reflete nas ruas da capital federal. Movimentos sociais devem chegar em breve para ocupar o espaço esquerdo do muro erguido na Praça dos Três Poderes. Manifestantes favoráveis ao impeachment acampam no Parque da Cidade.
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