Agora que Michel Temer assumiu interinamente o cargo de presidente da República o que vem pela frente é um governo conservador e impopular, pelo menos entre os 54 milhões de eleitores que votaram em Dilma Rousseff nas últimas eleições. Embora a vertente mais branda da esquerda esteja sendo retirada do poder – ela agora terá de recolher os cacos e unir suas diferentes vertentes para uma reflexão. Chegou a hora de, unida, a esquerda se adaptar às novas demandas que chegam das ruas a fim de se refazer.
Enquanto alguns movimentos sociais são historicamente ligados PT e lutaram contra a destituição de Dilma, a história de que possa haver um golpe de Estado em curso torna a situação urgente, gerando mobilização do restante da esquerda.
Parte da esquerda, a que está longe do governo, no entanto, tem outras pautas, como conta o professor de Gestão de Políticas Públicas da USP (Universidade de São Paulo), Pablo Ortellado. “Tem outros setores preocupados com outras coisas. Grande parte do movimento secundarista anda mais ocupada com suas questões políticas. Essa diferença de abordagem tem um pouco a ver com a importância dos partidos políticos.”
Professor pós-doutorando pela UnB (Universidade de Brasília), Gladstone Leonel da Silva Junior acredita que o momento também pode ser propício para o crescimento da esquerda. “Agora é hora de botar nas ruas os projetos populares para enfrentar o caráter golpista desse programa capitaneado por Temer.”
Parte do descolamento do PT em relação aos movimentos populares é culpa do próprio governo, diz Ortellado, que se distanciou de sua base social em meio a uma disputa institucional. “O próprio governo criou políticas impopulares. Aprovaram, por exemplo, a lei antiterrorismo, que agora deve enquadrar as lutas dos movimentos sociais do qual o próprio PT vai fazer parte. Inúmeros equívocos que foram cometidos não podem se repetir.”
Para que o PT se reaproxime das causas populares, será necessário agora um processo de reflexão e muita autocrítica. “O próprio governo criou políticas impopulares, aprovaram, por exemplo, a lei antiterrorismo, que agora deve enquadrar as lutas dos movimentos sociais do qual o próprio PT vai fazer parte”, diz o professor da UnB, que também é advogado de movimentos populares.
Um grande desafio para a esquerda. “Um arranjo que será construído nessa próxima etapa”, aposta, Pablo Ortellado. “O PT precisa entender porque que ele se corrompeu. Porque virou uma alternativa eleitoral que consegue fazer poucos avanços. Enquanto ele não fizer essa reflexão, não vai se recolocar no cenário eleitoral que está disputando.”
A única saída do PT e dos movimentos sociais, conclui Gladstone, é buscar a unidade, “porque, se eles se fragmentarem”, haverá dificuldades nas batalhas que vão ter de enfrentar no futuro. “Diante da crise, no entanto, surge a possibilidade de um novo projeto para a sociedade. Um projeto puxado pelas juventudes, frentes populares, movimentos sociais, diferente do que o PT já apresentou até hoje.”
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