A Polícia Militar de São Paulo e alguns dos movimentos que organizaram o protesto contrário ao governo federal concordam que 1 milhão de pessoas ocuparam a região da Avenida Paulista na tarde deste domingo (15) para levantar uma série de bandeiras, a maioria delas contra a presidenta Dilma Rousseff e o seu partido, o PT. Mais tarde, o instituto de pesquisas Datafolha, o número de participantes no ato reuniu 210 mil pessoas.
Entre as reivindicações apresentadas no ato, houve pedidos de intervenção militar no País, o impeachment ou a renúncia de Dilma e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos acusados de desvios de verba na Petrobras. O ato reuniu também gente que pedia desde o fim do indulto de Natal para presidiários até a construção do Parque Augusta, antiga discussão da cidade.
A divisão entre os líderes da manifestação chegou a ser irônica em determinados momentos: separados pelo canteiro de obras da avenida, dois carros de som de movimentos diferentes trocaram indiretas durante a maior parte da manifestação. O primeiro, do Movimento Brasil Livre, um dos principais convocadores do ato, pedia o impeachment de Dilma, mas deixava claro que não era a favor da intervenção militar. O segundo, de um grupo chamado S.O.S Forças Armadas, respondia que apenas o impeachment “não resolveria o problema do Brasil, apenas a entrada do exército no poder”.
“Nós conseguimos mobilizar a maior manifestação contra o PT da nossa história e isso é só o começo. Depois que ela [Dilma Rousseff] cair vamos ter muito trabalho para tirar o PT do governo”, disse à Brasileiros um dos líderes do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri.
“Eu queria estar em casa, no meu lazer, queria estar tirando fotos, postando nas redes sociais, mas estou aqui falando de uma coisa chata que é a política. É chato, porém, necessário, porque senão vamos virar uma Venezuela”, disse outro líder do MBL. Em outro momento, um representante da Igreja Católica rezou um Pai Nosso.
O ex-jogador Ronaldo, o apresentador do SBT, Danilo Gentili, a cantora Wanessa Camargo e os deputados Floriano Pesaro (PSDB-SP) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP) foram os nomes que mais chamaram atenção no protesto. Ronaldo subiu ao carro de som do Solidariedade com a namorada, a modelo Celina Locks, e a cantora Wanessa Camargo. Com uma camisa em que se via escrito o nome do tucano Aécio Neves, ele falou rapidamente ao microfone. “O Brasil precisa mudar. Precisamos acabar com a corrupção. Muda Brasil!”, gritou. Em seguida, Wanessa cantou o hino nacional.
O presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, também tentou falar à multidão, mas foi xingado e vaiado, sendo obrigado a abandonar o veículo. Enquanto ele saía do protesto pela avenida, também foi hostilizado pelos protestantes. “É normal. A política brasileira está em baixa e as pessoas estão descrentes mesmo”, afirmou à Brasileiros. O seu partido colhia assinaturas para apresentar no Congresso um pedido de impeachment de Dilma. Segundo a legenda, a expectativa era coletar 1 milhão de assinaturas até o fim da manifestação.
A senadora Marta Suplicy (PT) demonstrou apoio ao ato em seu perfil no Facebook. “Protestos contra os equívocos e a inércia de um governo que se tem mostrado incapaz de dar respostas a uma sucessão de crises. Que saibam compreender a mensagem das ruas”, escreveu. O candidato derrotado nas eleições do ano passado e senador tucano Aécio Neves também se manifestou pela rede social, explicando porque não quis ir ao protesto. “Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado”, disse.
De acordo com a Polícia Militar, a única ocorrência foi a detenção de um grupo de 20 jovens denominado Carecas do Subúrbio. Eles foram surpreendidos com bombas de fabricação caseira, rojões e socos ingleses em suas mochilas.
Jarbas Portella, integrante do grupo Carecas do Subúrbio, disse que estava no protesto para exigir uma reformulação política e jurídica no País. “O governo corrupto está acabando com a estabilidado do País. Não acho o impeachment a melhor saída, mas é o meio que temos para lutar por algo melhor. Queremos uma reformulação política, jurídica. Intervenção militar para reformular uma nova política pode ser, mas não para se estabilizar no poder. O Brasil não precisa de mais ditadura, precisa de desenvolvimento. Não me incomodam os carros de som pedindo intervenção militar, respeito a posição deles, venho de uma família de militares. Em último caso, que a reformulação seja feita pela força”.
O empresário Oscar Maroni, presente no protesto, também considera a possibilidade de uma intervenção militar para “moralizar” o País. “Não acredito nos políticos que estão aí. Eles mamam nas tetas do governo. Temos que mudar isso. Se conseguirmos o impeachment, os políticos vão passar a nos respeitar mais. Éramos pacíficos, mas agora não somos mais. Aécio deveria ter feito muito mais como oposição. Quero que se acabe com essa corrupção, mas não sei quem deve entrar no lugar da Dilma. É delicado falar em intrevenção militar porque estamos jogando no lixo a nossa democracia. Mas os militares entraram no poder para moralizar é de se pensar”.
Metrô
Inícios de confusão foram registrados também em alguns acesso da linha verde do Metrô. Na estação Consolação, apenas um dos lados das entradas estava aberta, provocando filas gigantescas. A catraca também estava repleta, mas a reportagem de Brasileiros não viu a liberação dos bloqueios, como correu nas redes sociais. Os trens passavam direto pela estação e, quando um deles parou, algumas pessoas chutaram e deram socos na composição.
Veja vídeo do carro da S.O.S Forças Armadas entoando o hino do Exército:
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