O imediatismo das redes sociais voltou a tomar a discussão política entre eleitores paulistanos na última terça-feira (3). A pesquisa eleitoral do Instituto Datafolha coloca o apresentador de TV e deputado federal Celso Russomano (PRB) na liderança da corrida pela cadeira de prefeito de São Paulo, hoje ocupada por Fernando Haddad (PT). Enquanto alguns já decretavam a vitória do candidato conservador, outros se concentraram na “derrota anunciada” do petista, em quarto lugar. Recuperada pela Brasileiros, as pesquisas do instituto feitas no mesmo período das três eleições municipais anteriores indicam uma única coisa: o líder das pesquisas não venceu a eleição.
No levantamento anunciado na terça, Russomanno aparece com 34% das intenções de voto, seguido de longe pelos demais: a senadora Marta Suplicy (PMDB) e o apresentador José Luiz Datena (PP) têm 13%; Haddad aparece com 12%.
Voltemos no tempo: em dezembro de 2011 (em novembro não houve pesquisa), o mesmo Russomanno liderava a disputa com 20% das intenções, faltando seis meses para o início do horário eleitoral. Em segundo lugar, aparecia Netinho de Paula (PCdoB), com 14%, acompanhado por Soninha Francine (PPS), com 10%, e pelo então desconhecido Haddad, com 4%.
Naquele momento, a surpresa era a desistência da então petista Marta Suplicy, convencida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ceder seu lugar para o então ministro da Educação. Em pesquisa Datafolha de setembro, a ex-prefeita liderava a corrida com 35% das intenções. Lula apostava no resultado do mesmo levantamento que apontava a disposição de 40% dos paulistanos em votar em um candidato indicado por ele. Na época, Marta desdenhou: “Se ele [Lula] estiver pensando em não ganhar a eleição, mas criar um nome novo, pode caminhar nessa direção [de apoiar Haddad]”. Venceu Haddad.
Mas talvez o exemplo mais próximo ao atual cenário tenha sido estampado na pesquisa de novembro de 2007, quando o então candidato à reeleição Gilberto Kassab (então DEM, hoje PSD) amargava a terceira colocação com 13% das intenções, o mesmo patamar de Haddad na pesquisa mais recente. Geraldo Alckmin (PSDB) – que não chegou ao segundo turno – liderava com 26% das intenções, um ponto à frente de Marta. Kassab terminou reeleito. Já na pesquisa divulgada em novembro de 2003, o líder era Paulo Maluf (27%), com Marta (25%) e Luiza Erundina (17%), do PSB, aparecendo em seguida. Levou o tucano José Serra, que só entrou na disputa no ano seguinte.
Cientista política, a professora da UFScar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro Braga acredita que as pesquisas divulgadas a um ano do pleito servem para esquentar uma disputa que só vai engajar o eleitor quando o horário eleitoral começar. “É cedo para dizer que o Haddad não leva.”
Para ela, a campanha do ano que vem terá muitos ingredientes novos. Um deles é a forte rejeição ao PT, que pode comprometer o desempenho do prefeito, outro – e mais importante – será o comportamento da economia. “Quanto melhor o cenário econômico, melhor será para Haddad. Esse é um fator sempre importante em campanha.” Uma vantagem do prefeito pode ser o engajamento do jovem eleitor. “Ele pode tirar seu título para votar no Haddad, já que seus pais e avós tendem a preferir uma opção conservadora.”
A ascensão da direita pode tanto ajudar o atual prefeito chegar ao segundo turno quanto comprometer sua vitória no final, analisa a professora. “O campo conservador tem Marta, Russomanno e Datena, que dividem o mesmo eleitorado. Ainda tem o PSDB, que não definiu seu nome”, diz.
Em São Paulo, lembra ela, só o Haddad assume o papel de centro-esquerda. No segundo turno, sua missão será atrair o apoio de algum adversário. “As forças conservadoras vão se unir contra ele.”
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