Prestes a assumir Fazenda, Henrique Meirelles fala em Brasil de “eleições regulares” e “Judiciário independente”

Para Henrique Meirelles, instituições brasileiras são "sólidas" - Foto: EBC
Para Henrique Meirelles, instituições brasileiras são “sólidas” – Foto: EBC

Já tratado como o novo ministro da Fazenda em um eventual governo de Michel Temer, o economista e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, escreveu neste domingo (8) um artigo no jornal Folha de S.Paulo em tom de político. Além de redigir promessas vagas para a retomada do “crescimento sustentável”, surpreendeu a forma como enalteceu a “sólida” democracia brasileira, embora o governo do qual possa fazer parte seja considerado ilegítimo por parte da sociedade.

Colunista dominical do jornal, Meirelles escreveu sobre “o que pode unir o País” neste momento em que ele se divide entre defensores e críticos do golpe de Estado, ou do impeachment, como preferem os defensores de Temer.

Segundo o ex-ministro de Lula, “para colocar a economia novamente em trajetória de crescimento” será preciso corrigir os “desequilíbrios acumulados ao longo de anos”, o que não se dará “em poucos meses”.

Para a “retomada da confiança” de investidores, o Brasil precisará contar com suas “instituições”, as mesmas colocadas à prova por seu futuro chefe. “Temos instituições sólidas, Judiciário independente, eleições livres e regulares, mecanismos que proporcionam a resolução pacífica de conflitos e uma imprensa livre e vigorosa”, escreveu.

Será mesmo? O “Judiciário independente” vem sendo achincalhado pela esquerda depois da atuação duvidosa do juiz Sergio Moro na condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no vazamento ilegal de grampos com conversas telefônicas da Presidência da República no âmbito da Operação Lava Jato.

O mesmo Judiciário que impediu a posse de Lula na Casa Civil, embora ele não seja réu em nenhuma ação, ou sofreu forte pressão social – na instituição do Supremo Tribunal Federal – para que tomasse providencias tardias contra Eduardo Cunha, o agora afastado presidente da Câmara dos Deputados.

Quanto à “imprensa livre e vigorosa”, basta uma leitura no artigo da ONG internacional Repórteres Sem Fronteira em que acusa a imprensa brasileira de “insuflar a população para derrubar Dilma”. A própria Ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, escreve neste domingo que o jornal vem publicando “quase notícias de um quase governo”, em referência à forma como os políticos ligados a Michel Temer plantariam notícias sobre a formação de um governo que ainda não tomou posse – e, pior, nem foi eleito. “São dias em que vicejam mais barrigas – no jargão jornalístico, informação errada – do que furos – a informação exclusiva”, diz.

E o que dizer sobre as “eleições livres e regulares”? Todo o teatro que ajudou a inviabilizar o governo Dilma Rousseff desde sua reeleição culminou em um espetáculo de cinismo em que ministros e partidos aliados viram as costas para o governo para voltar a ele logo que o PT é substituído pelo PMDB. As eleições podem ser livres e regulares, caro “ministro”, mas, para valerem de verdade, precisam durar até o último dia sem o boicote da mesma imprensa e Judiciário “livres”.


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