Roberto Romano: “Ação cria frente de tensão social”

 

Roberto Romano, professor de Ética Política na Unicamp. Foto: Reprodução/Facebook
Roberto Romano, professor de Ética Política na Unicamp. Foto: Reprodução/Facebook

Roberto Romano, professor de Ética Política na Unicamp, disse, em entrevista ao UOL, que a ação desta sexta (4), da PF contra o ex-presidente Lula pode “criar uma frente de tensão social”. Para ele, que é doutor em filosofia, a ação tem caráter histórico. “É inédito. É a primeira vez que se vê isso no País. O Brasil já teve presidentes depostos e que foram presos por conta da deposição. Mas um presidente conduzido pela polícia por conta de investigações de corrupção é a primeira vez.”

De acordo com o UOL, o professor da Unicamp mostrou-se preocupado com os efeitos colaterais da operação contra o ex-presidente. “É um marco que pode ser positivo se a Justiça e o meio político tiverem capacidade de deglutir isso. Caso contrário, vejo que é possível criar uma frente de tensão muito forte. Os seguidores do Lula não ficarão calados. Podemos ter um embate muito mais radical.” Romano avaliou ainda que a condução da PF contra Lula “não foi uma medida drástica”. “Ele tentou evitar os depoimentos, tentou intimidar os investigadores dando declarações que desqualificavam a operação. Essa troca do ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo deixou o cargo nesta semana, alegando que setores do PT queriam mudanças na sua gestão], tudo isso pode ter precipitado a ação da PF.”

Para ele, uma das maiores prejudicadas com a ação de hoje é a presidenta Dilma Rousseff. “Não é segredo para ninguém que a Dilma nunca teve voo político autônomo. Ela dependia do Leonel Brizola quando estava no PDT e do Lula quando foi para o PT. Se essa operação chegou a esse ponto, é um golpe gravíssimo para ela. Ela fica sem orientador e tutor. É um problema seriíssimo.”

Por outro lado, de acordo com o professor, a oposição não se beneficia com a ação de hoje da PF. “A oposição não tem estratégia nem está preparada para lidar com isso tudo. Não tem massas. Quem pode ganhar com isso não é a oposição, mas alguns setores mais radicais, sobretudo na direita. Em meio a todo esse cenário, personagens folclóricos como um Jair Bolsonaro (PP-RJ) podem surgir com mais força.”


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