Trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) protestaram, nesta sexta-feira (20), em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília contra o desmonte que o governo em exercício está promovendo. O primeiro sinal do tipo de mudanças que Michel Temer pretende executar foi a exoneração ilegal do ex-diretor presidente, Ricardo Melo, e a nomeação do jornalista Laerte Rimoli, no Diário Oficial, mesmo com uma série de manifestações contrárias às arbitrariedades.
“Ao não respeitarem o mandato do Ricardo Melo, mostram claramente o pouco interesse pela democracia que tem esse governo provisório”, disse ontem a presidenta Dilma Rousseff, em Belo Horizonte (MG), no Encontro Nacional de Blogueiros.
Assim que assumiu o comando da EBC, Rimoli declarou que sua missão seria “devolver esta empresa para a sociedade brasileira”, sugerindo que a empresa estaria a serviço do governo de Dilma Rousseff e não mantendo a autonomia esperada de uma instituição de comunicação pública.
Coordenador da campanha de Aécio Neves em 2014 e assessor de comunicação da Câmara dos Deputados na gestão de Eduardo Cunha, o próprio Rimoli não costuma esconder o desprezo pelo PT, por Lula ou por Dilma. Declara publicamente seu posicionamento político partidário, alinhado com tucanos e peemedebistas.
Também não é fã dos movimentos sociais, como o Movimento dos Sem Terra (MST), reproduzindo posts do “Vem pra Rua” que ridicularizam o movimento.
A questão é que uma organização de comunicação pública tem como dever se dirigir a camada da população que não é foco de atenção da mídia corporativa. “O papel dos veículos de comunicação pública é dar voz aos seguimentos que não encontram voz nos veículos de comunicação privada”, explicou Rita Freire, presidenta do Conselho Curador da EBC. “O conselho curador está aguardando posição da Justiça, estamos numa situação atípica de uma exoneração questionada no Supremo e uma nomeação no Diário Oficial que ja está na empresa, assumindo a gestão, tomando medidas. Essa situação é de um impacto muito grande para a vida dos trabalhadores da EBC”, alerta.
Também é conhecida a relação do novo presidente da EBC com as organizações Globo, onde trabalhou décadas atrás, e com a família Marinho, especialmente com José Roberto. Na redação da TV Globo, nos anos 1990, gabava-se dessa proximidade. Naquele tempo dirigia o RJTV, apresentado por Claudia Cruz, atual esposa do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha.
Um dia antes de Rimoli ser nomeado à força, o jornal O Globo publicou editorial apoiando a medida: “era preciso começar, e uma primeira medida correta foi a exoneração, pelo ministro da Secretaria de Governo, Eliseu Padilha, do diretor-presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Ricardo Melo. Caso exemplar de aparelhamento, a EBC, controladora da TV Brasil, rádio e agência de notícia, fora convertida em instrumento de propaganda lulopetista. A um custo anual de R$ 750 milhões, dinheiro que estaria sendo várias vezes mais bem empregado se de fato a empresa se pautasse pelo interesse público e não partidário. E nem isto ela fazia bem, pois a audiência de seu veículo potencialmente mais poderoso, a TV, é traço. Não alcança sequer a militância, servia apenas para abrigar apaniguados.”
Uma das primeiras medidas de Rimoli na EBC, de acordo com editores da empresa que não quiseram se identificar, foi o cancelamento da cobertura e transmissão ao vivo da Virada Cultural, evento promovido pela Prefeitura de São Paulo desde 2005. Há rumores de que ele pretende também dissolver o seu Conselho Curador, um dos mecanismos mais importantes de controle social da empresa pública.
A EBC teve construção participativa e está baseada na lei Lei 11.652/2008, que garante mandato de quatro anos a seus presidentes, indicados pelo Presidente da República. O conselho da EBC tem o papel de preservar a independência da produção editorial de ingerências dos governos. Não nomeia, mas pode indicar a saída de presidentes que não seguirem as diretrizes da empresa.
Espera-se de um veículo de comunicação pública que mostre o Brasil como ele é.
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