Temer atua para evitar cassação de Cunha

A deputada Tia Eron, do PRB, que se ausentou da reunião do Conselho de Ética - Foto: : Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
A deputada Tia Eron, que faltou à reunião do Conselho de Ética – Foto: : Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados

A edição do Jornal Nacional de ontem revelou que o governo provisório de Michel Temer atuou decisivamente a favor de Eduardo Cunha no processo de cassação que corre contra ele no Conselho de Ética. A votação decisiva estava marcada para ontem, foi adiada para hoje, mas ontem à noite o presidente da Comissão, José Carlos Araújo, suspendeu a reunião de hoje e não marcou outra data.

Segundo o Jornal Nacional, o voto que vai decidir o destino de Cunha, o da deputada baiana Tia Eron, foi discutido na reunião que aconteceu na manhã de hoje entre Marcos Pereira, ministro de Temer e presidente do partido de Tia Eron, o PRB e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Tia Eron é uma estranha no ninho. Foi plantada no Conselho de Ética em substituição a Fausto Pinato, que primeiramente foi afastado da relatoria e depois teve que ceder sua vaga à deputada.

A substituição foi feita por Cunha para impedir a consumação de sua cassação, p0is Pinato havia declarado que votaria contra ele, o que consolidaria o placar de 11 a 10 a favor da cassação.

Para não dar na vista, a estratégia combinada com Tia Eron, e acertada na reunião entre o presidente do seu partido e o chefe da Casa Civil de Temer, não seria ela votar a favor de Cunha, e sim faltar à reunião. Se ela se ausentasse votaria em seu lugar o suplente que ficasse em primeiro lugar na lista de presença.

Confirmando a manobra, Tia Eron de fato não compareceu à sala do Conselho de Ética, embora estivesse na Casa, e o primeiro da lista de presença seria Carlos Marun, que foi o primeiro a chegar à reunião e é um fiel aliado de Cunha.

Tudo indicava que a manobra seria bem sucedida, o relatório seria derrotado e Cunha absolvido, já que esse resultado dispensaria a votação em plenário. Só não deu certo porque o relator, percebendo que seria derrotado, pediu prazo para examinar o voto em separado de outro aliado de Cunha, João Carlos Bacelar, que propôs trocar a pena de cassação pelo afastamento de três meses.

O presidente da comissão, então, determinou o encerramento da reunião e adiou a votação para hoje. Mas ainda na noite de ontem comunicou que a reunião de hoje foi cancelada.

A revelação do Jornal Nacional é grave não só porque mostra a disposição do presidente provisório em proteger Cunha, mas também porque desse modo ele colabora com a manobra do mesmo, que foi afastado da presidência da Câmara dos Deputados pelo STF justamente por estar obstruindo o seu processo de cassação.

O fato também confirma as declarações da presidente Dilma Rousseff, de acordo com as quais Cunha é peça-chave do governo provisório e o presidente se submete às suas pressões.

Resta saber que providências tomará o colegiado do STF em relação a Cunha, que desobedeceu à determinação de não interferir no processo de cassação; quais serão as repercussões para o governo Temer por se associar a Cunha na obstrução de seu processo de cassação; porque o presidente provisório aceita ser pressionado por ele, além da gratidão por ter sido ele o responsável por deflagrar e coordenar o impeachment fraudulento que o conduziu ao posto mais importante da República e o que Cunha vai fazer agora que a sua manobra foi desmascarada pelo Jornal Nacional.     


Comments

2 respostas para “Temer atua para evitar cassação de Cunha”

  1. Avatar de Cesar Augusto
    Cesar Augusto

    “A manobra foi revelada pelo Jornal Nacional” termo que aqui significa “inventada pra dar ibope”

  2. Avatar de Cleide Montenegro
    Cleide Montenegro

    Interessante que todos estão aguardando Eduardo Cunha ser caçado pelo Conselho de Ética da Câmara. Eu pergunto então: CADÊ O STF que foi provocado desde o dia 20/08/2015, através da Procuradoria Geral da República, com um pedido de 184 anos de prisão para Cunha e quase UM ANO DEPOIS AINDA NÃO FOI JULGADO!
    http://www.valor.com.br/politica/4188998/procuradoria-pede-184-anos-de-prisao-para-eduardo-cunha

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