A cena, mostrada ao vivo pela TV, poderia ser classificada de ridícula, se não fosse trágica. Sob vaias e gritos de “golpista”, o presidente interino Michel Temer, acompanhado por seguranças, assessores e pelo ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, fugiu em desabalada carreira após deixar o gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros, cercado por parlamentares, jornalistas, fotógrafos, câmeras e muitos servidores do Congresso Nacional.
Para complicar as coisas, Temer e seu grupo tiveram que descer uma larga escadaria até chegar ao Salão Negro, comum às duas Casas Legislativas. Lá, saudados aos gritos de “golpistas”, o interino e sua comitiva entraram nos carros oficiais e rumaram ao vizinho Palácio do Planalto, onde, como vem se tornando rotina, entraram pela garagem.
Entre os que acompanharam Temer ao Senado estava o agora ministro licenciado Romero Jucá. Romero, como os amigos o chamam, seguiu em um carro separado de Temer ao Senado e assim conseguiu escapar das vaias, entrando e saindo pela garagem.
A ida de Michel Temer ao Senado foi para tentar convencer Renan a acelerar a tramitação e votação da nova meta fiscal, onde o país fica sabendo que, para os inquilinos temporários do Planalto e da Esplanada é necessário que o Congresso aprove um megadéficit fiscal de mais de R$ 170 bilhões.
Para o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, esse valor é um gigantesco “cheque especial” que o governo temporário tenta emplacar para continuar gastando. Na porta do Senado, um assustado Renan afirmou ao jornalistas que deverá antecipar a sessão inicial de análise da nova meta fiscal para a manhã desta terça-feira. Pelos cálculos do presidente do Senado a votação poderia acontecer até o final da noite.
A pressa se justifica, pois, se a meta não for aprovada até dia 30, a MP que a acolhe caducará: “Não há a menor condição de iniciarmos a apreciação da meta fiscal e nem qualquer reunião relativa ao processo de impeachment”, atacou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), comentando as gravações das conversas entre o ex-senador Sergio Machado (PMDB-CE) e o agora ministro licenciado Romero Jucá (PMDB-RO).
A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) disse que a hoje oposição vai impedir tanto a tramitação da meta fiscal quanto o impeachment, “pois ninguém pode confiar em um único número dessa meta”. O deputado André Figueiredo (PDT-CE), ex-ministro da Comunicações do governo Dilma, considera que o adiamento da análise da nova meta é necessário: “Quem está no meio do escândalo das gravações não é um ministro qualquer, e sim o do Planejamento. Como vamos discutir qualquer coisa com ele?”
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