O destino de Eduardo Cunha nesta terça-feira (14) pode estar nas mãos da deputada federal Eronildes Vasconcellos Carvalho (PRB-BA), mais conhecida como Tia Eron. Será dela o voto decisivo pela continuidade ou arquivamento do processo de cassação do deputado federal afastado.
O relator do processo, o deputado federal Marcos Rogério (DEM-RO), recomendou a cassação de Cunha. Dentro do Conselho de Ética, nove deputados votarão a favor da cassação, e 10 deputados votarão contra. Se Tia Eron também votar contra, o resultado ficará em 11 votos contra 9: Cunha ficará livre da cassação, e receberá no máximo uma advertência. Mas, se ela votar a favor, haverá empate em 10 a 10, e aí a cassação de Cunha será aprovada pelo voto de minerva do presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA).
Tia Eron, que é integrante da Igreja Universal do Reino de Deus, foi indicada ao conselho pelo PRB no lugar de Fausto Pinato (PP-SP) com o objetivo de salvar Cunha, já que Pinato havia entrado em choque com o peemedebista. Em sua primeira manifestação, ela disse que admirava o trabalho de Cunha na condução da Câmara: “É um presidente que fez essa Casa produzir como nunca, que limpou as gavetas de projetos que estavam parados. Tem minha admiração e meu respeito”.
Tia Eron começou sua vida política no PFL, atual DEM, em 2000, ao tornar-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Salvador. Reeleita três vezes, ficou no cargo até 2014, quando foi eleita deputada federal. Filiou-se ao PRB em 2013. Desde criança, é frequentadora da Igreja Universal do Reino de Deus, onde construiu sua base eleitoral. Foi também onde ganhou o apelido “Tia Eron”, quando passou a lecionar na Escola Bíblica Infantil, para filhos de fiéis da igreja. Hoje é presidente do PRB da Bahia.
Como vereadora, foi presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres na Câmara, de 2008 a 2012. Defensora de pautas ligadas aos direitos das mulheres, Tia Eron foi relatora na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara do PL 123/2007, que determina a realização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de cirurgia plástica reparadora de sequelas de lesões causadas por atos de violência contra a mulher. Ela também é relatora da PEC 205/2007, que fixa reserva de vagas para mulheres na Câmara dos Deputados e no Senado.
Segundo a ex-vereadora Marta Rodrigues, presidente do PT de Salvador, no entanto, a atuação de Tia Eron na Câmara Municipal sempre foi contra os avanços das mulheres: “O perfil dela era de não se envolver nas questões polêmicas, de saúde das mulheres, aborto é pior ainda, porque ela é evangélica. Então ela votava sempre contra essa temática, junto com os vereadores evangélicos”. Um dos projetos de lei como vereadora foi a “Lei Antibaixaria”, que proíbe o uso de recursos públicos para contratação de artistas que exponham mulheres ao “constrangimento” em suas músicas ou coreografias.
De acordo com a vereadora Aladilce (PCdoB-BA), o trabalho de Tia Eron à frente da Comissão dos Direitos das Mulheres foi mais voltado ao combate à violência. Ainda assim, diz que a colega era uma das mais ausentes na Câmara: “Ela sempre somou com a gente em temas de defesa da mulher. Nunca tivemos nenhum embate intenso mas isso porque não entramos em assuntos mais polêmicos, como aborto e a questão de gênero – nos quais ela se posicionava com a igreja evangélica”.
Tia Eron é contra o uso do nome social por travestis e transexuais. Ela é uma das signatárias do Pedido de Decreto Legislativo (PDC) para sustar o decreto da presidenta Dilma Rousseff que reconhece os nomes sociais no serviço público. Como deputada, também votou a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Afastamento
Em 2014, o Ministério Público da Bahia pediu o afastamento do então presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Pedro Godinho (PMDB) e de outros vereadores, incluindo Tia Eron, sob acusação de improbidade administrativa. Os parlamentares teriam usado uma “manobra ilegal” para aprovar itens do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da Copa de 2014 depois que a tramitação desse projeto foi suspensa por ordem judicial. A ação civil pública tramita no Tribunal de Justiça da Bahia.
Recentemente, Tia Eron se envolveu em outra polêmica. A dois dias da votação do impeachment de Dilma no Senado, ela e o deputado federal Jutahy Maglhães Júnior (PSDB-BA) foram hostilizados em um avião para Brasília, no qual também estavam a bordo 73 delegadas a caminho da Conferência Nacional de Mulheres.
Segundo Marta Rodrigues, que participou do ato, elas puxaram palavras de ordem contra os deputados que votaram a favor do impeachment. “Chamamos eles de golpistas e falamos que Tia Eron, ao contrário do que diz, não representa as mulheres negras da Bahia. Ela então pediu para as aeromoças falarem com o piloto, que chamou a Polícia Federal”, diz Marta. As mulheres ficaram duas horas detidas no avião e depois foram conduzidas a uma sala da PF. “Foi quando acionamos diversos parlamentares e advogados, e aí nos liberaram”, conta. Por meio da página de Facebook, Tia Eron disse que não solicitou a presença da polícia.
Deixe um comentário