Três colunistas do jornal Folha de S.Paulo criticaram a direção do jornal pela manipulação da pesquisa Datafolha publicada no domingo retrasado (17), que apontou que 50% dos brasileiros preferiam a permanência de Michel Temer no governo e que só 3% defendiam a convocação de novas eleições. Após os questionamentos de outros sites, o jornal finalmente divulgou dados não publicados, que revelaram que na verdade 62% da população defende a convocação de novas eleições. Em resposta às críticas, o diretor-executivo do jornal, Sérgio Dávila, disse que essa informação não era relevante.
Nesta segunda-feira (25), o roteirista Gregorio Duvivier escreveu, em seu artigo Qual foi, Dona Folha?, que ficou chocado ao ler “a manchete da Folha que dizia que pesquisa indicava que metade do Brasil acha que ‘Temer deve ficar’ – contrariando todas as pesquisas anteriores”. Segundo Duvivier, “entre Temer e uma tomada de três pinos, o brasileiro preferiria a tomada de três pinos –e só Deus sabe como a gente odeia a tomada de três pinos. Mas a pesquisa é do Datafolha, e você sabe: os números não mentem”.
O problema, disse Duvivier, é que “não demorou até que Glenn Greenwald desmascarasse a manipulação: os números de fato não mentiram, mas a Folha omitiu muita coisa. Faltou dizer que a metade que quer que ele fique só quer que ele fique se a outra opção for Dilma. O número cai para 30% quando a outra opção são novas eleições, que ficou com a grande maioria (62%) da preferência popular. ‘Novas eleições’ ganharia as novas eleições no primeiro turno, e isso não foi sequer citado”.
Ele comenta que, quando criticado por ter uma coluna no jornal, ele dizia que “a Folha não é conservadora, ela é capitalista”, pois seu objetivo era vender jornal. Mas, após essa lambança, ficou parecendo que a Folha “é mais conservadora do que capitalista”.
No domingo, foi a vez da ombudsman Paula Cesarino Costa condenar a manipulação dos dados. Ela relatou que “os sites The Intercept, do jornalista Glenn Greenwald, e Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, acusaram a Folha de ‘fraude jornalística com pesquisa manipulada visando alavancar Temer’.” Os dois comprovaram que “o jornal omitira da reportagem e do questionário divulgado no site do Datafolha questão proposta aos entrevistados sobre a convocação de novas eleições”.
Pior: “Revelou-se que o Datafolha colocou em seu site mais de uma versão do relatório da pesquisa polêmica, sendo que em só uma delas constavam as duas perguntas. O instituto explica que faz um relatório completo para a Redação, mas divulga no site apenas o que saiu no jornal. No caso, o primeiro documento continha, por falha, título sobre a pergunta 14, ausente do relatório por não ter sido usada”.
Ela comentou que a direção do jornal julgou que os dados omitidos não eram noticiosos: “Faz parte da boa prática jornalística não publicar o que é pouco relevante”. A ombudsman concluiu: “O jornal cometeu grave erro de avaliação. Não se preocupou em explorar os diversos pontos de vista que o material permitia, de modo a manter postura jornalística equidistante das paixões políticas. Tendo a chance de reparar o erro, encastelou-se na lógica da praxe e da suposta falta de apelo noticioso. A reação pouco transparente, lenta e de quase desprezo às falhas e omissões apontadas maculou a imagem da Folha e de seu instituto de pesquisas. A Folha errou e persistiu no erro”.
Antes de Paula Cesarino e de Gregorio Duvivier, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, já havia criticado o comportamento do jornal em seu artigo Datafolha em xeque, publicado na quinta-feira (17). Segundo Boulos, “a impopularidade de Dilma foi usada de maneira oportunista para sustentar um impeachment sem base legal. Isso fica mais claro a cada dia, com o desgaste do argumento das pedaladas. Agora, querem usá-la para legitimar o governo de Michel Temer, querendo apresentá-lo como ‘menos impopular’.” E concluiu: “É difícil crer que a manchete enviesada a partir de uma pergunta binária tenha sido um simples descuido. Principalmente em se tratando de um tema tão decisivo para a situação política atual”.
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