“Podemos nos organizar no trânsito”

Trânsito na Avenida 23 de maio, uma das vias mais movimentadas de São Paulo
Trânsito na Avenida 23 de maio, uma das vias mais movimentadas de São Paulo

Durante a última quarta-feira (28), a Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou o fim do rodízio municipal de veículos, em votação simbólica (quando as lideranças entram em acordo sobre um projeto antes de votá-lo). Apesar disso, as bancadas do PSD, PSDB e do PT já haviam avisado que se a votação fosse nominal a medida seria rejeitada. Ao todo as três siglas somam 27 dos 55 parlamentares. Na sexta-feira (30), o prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou que irá vetar o projeto. 

Mesmo assim, o autor do projeto Adilson Amadeu (PTB-SP) considerou que a votação “serviu para alertar a cidade sobre o que se pode esperar do trânsito em um futuro próximo”. Em entrevista à Brasileiros, o vereador ainda defendeu que o rodízio é uma forma ultrapassada de restrição. 

A proposta de Amadeu – na pauta de votações da câmara desde 2006 – vai contra as últimas ações e discursos do prefeito Fernando Haddad e da gestão da Secretaria de Transportes, que tem dado prioridade ao transporte público. Em dezembro do ano passado, Jilmar Tatto (PT), secretário municipal de transportes, reafirmou que a gestão já estava estudando aumentar o perímetro da restrição, que hoje abrange apenas o chamado “centro expandido”, para outras vias importantes da cidade. Alguns desses projetos estão tramitando na Câmara dos Vereadores. Outros, nas mesas de Tatto e Haddad.

Para Adilson Amadeu, 63 anos, dono da SODESP, um dos maiores despachantes do País, o problema está na ausência de semáforos inteligentes e de agentes de tráfego que orientem os motoristas nas principais vias. “A CET deveria ter mais pessoal principalmente em grandes avenidas onde estão os corredores de ônibus criados pelo [Fernando] Haddad. Quando não tiver ônibus passando nestas pistas, os agentes poderiam autorizar a passagem de veículos. Isso já diminuiria o trânsito consideravelmente. Nós, que temos nossos carrinhos podemos nos organizar no trânsito”, completa.

O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade de São Paulo, Hugo Pietrantônio, critica a forma como o legislativo paulistano lidou com o tema. “O principal ensinamento a ser tirado da iniciativa dos vereadores é a fragilidade da sociedade diante de iniciativas oportunistas – referindo à clara motivação eleitoral que a medida sugere – ou inoportunas, como a ação do Ministério Público sobre a regulamentação do uso dos corredores de ônibus pelos táxis. Em ambos os casos, a atribuição do Poder Executivo municipal foi contestada por ações de áreas alheias, o legislativo e o judiciário, que arrogaram seu poder superior ao intervir em temas corriqueiros da gestão da cidade sem base técnica e impondo responsabilidades ao Executivo”, argumenta.

O assunto repercutiu negativamente nas redes sociais nesta quinta-feira (29), principalmente com pedidos de alternativas práticas para substituir o rodízio. Procurada pela reportagem, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou, por meio de nota, que não vai se pronunciar sobre o assunto. O secretário municipal de transportes da cidade, Jilmar Tatto, não retornou o contato.

O vereador Adilson Amadeu conversou com Brasileiros. Veja abaixo os principais trechos:

Brasileiros: Quais os motivos para você propor o fim do rodízio municipal em São Paulo?

Amadeu: Quando o rodízio de carros foi implantado, em 1997, eu achei a ideia boa. Naquela época a frota era de quase 4 milhões de carros. Hoje estamos com cerca de 7 milhões, sendo que mais de 2 milhões destes estão em situação irregular. Além disso, os semáforos não funcionam, os educadores de trânsito só estão nas ruas em alguns horários – de manhã e no fim da tarde -, e a CET não tem guinchos suficientes, demorando para tirar um veículo quebrado de uma rua, por exemplo. Eu fico ouvindo especialistas que só falam no papel, papel, papel, e na verdade não ajudam nada. Nós precisamos melhorar, senão será um caos em breve. O pico de tráfego de veículos já está gerando depressão nos condutores, que perdem exames em hospitais, compromissos, etc.

Brasileiros: E você vê um culpado nisso?

Amadeu: O governo deu incentivos para a compra de carros nos últimos anos e as classes média e alta compraram dois, três veículos apenas para burlar o rodízio. Junte isso com a ausência de transporte de excelência: não tem metrô, não tem ônibus. Na verdade, o prefeito precisa fazer alguma e vocês, jornalistas, precisam cobrá-lo por isso. A arrecadação de impostos precisa ser destinada para melhorias da cidade, incluindo o transporte. Precisa ser feito por pessoas competentes. Eu acho que causei alguma coisa na cidade com esse projeto.

Brasileiros: As críticas direcionadas ao seu projeto argumentam que, se o rodízio acabar, o trânsito só tende a crescer.

Amadeu: Discordo. Essa semana alguns funcionários da CET ficaram em greve e o trânsito ficou bom. O povo conseguiu resolver uma situação que o Poder Executivo não consegue. Mas o problema são os semáforos, que travam o trânsito, e a ausência de agentes da CET orientando o tráfego corretamente. Sem essa estrutura, tudo vai parar mesmo. Quando acontece um acidente com caminhão, então, é ainda pior. Não tem guincho para tirá-lo e daí a CET precisa alugar um veículo adequado para este tipo de serviço. A situação só vai melhorar com transporte de excelência: metrô e ônibus. Isso está comprovado. Ajudaria também se tivéssemos orientadores sugerindo a entrada de carros nas faixas exclusivas quando não estiver passando ônibus, por exemplo.

Brasileiros: Você está sugerindo que as pessoas podem se organizar no trânsito?

Amadeu: Eu tenho certeza. Todos nós que temos um carrinho podemos nos  organizar no trânsito.

Brasileiros: Você cita cerca de 2 milhões de carros irregulares. Este dado corresponde a que tipo de veículo?

Amadeu: Cidadãos que não pagam IPVA, DPVAT, licenciamento, por exemplo, e continuam rodando com seus carros. Pergunta para um motorista qualquer quantas vezes ele foi parado em uma blitz e teve seus documentos conferidos. Quase ninguém! E ainda quando são pegos, recebem uma guia para regularizar a situação em 30 dias…

Brasileiros: Sobre o projeto, o prefeito Fernando Haddad já disse que vai vetá-lo.

Amadeu: Então ele que crie uma alternativa melhor para o problema. Ele deve estar bravo pelo fato de o projeto ter passado na Câmara.

Brasileiros: Você falou com ele depois da aprovação?

Amadeu: Não falei, mas eu quero ajudar. Eu acho que o [Fernando] Haddad vai fazer uma ótima gestão nestes anos finais que ele tem como prefeito.


Comentários

Uma resposta para ““Podemos nos organizar no trânsito””

  1. Avatar de Rubens de almeida alexandre
    Rubens de almeida alexandre

    Tenho uma ideia desdo ano 2000 que esta pronta que pode virar um projeto, o nome desse projeto chama se: projeto radical. É um projeto para organizar a vida das pessoas que trabalham numa grande cidade como São Paulo.

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