O doleiro Alberto Youssef voltou a confirmar, em acareação com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu propina no suposto esquema da empresa estatal Furnas. É a segunda vez que ele faz a afirmação – já havia feito em seus primeiros depoimentos. “Confirmo por conta do que escutava do deputado José Janene, que era operador dele (Aécio)”, afirmou à CPI da Petrobras nesta quarta-feira (26).
Youssef também voltou a comentar sobre montantes do esquema supostamente mandados à campanha de Antonio Anastasia. “Mandei dinheiro para Belo Horizonte, mas não fui eu que fui lá entregar. A mim não foi dito que seria para o Anastasia. Só o Jaime (de Oliveira Filho) pode dizer para quem entregou”, disse o doleiro.
Aécio Neves foi citado em depoimento na Operação Lava Jato, quando foi questionado sobre quem seria o operador do PSDB no esquema de corrupção na Petrobras. Youssef respondeu que ouviu de José Janene que a operadora seria uma irmã de Aécio Neves, mas nunca teve contato com ela. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou que os indícios não eram suficientes para a abertura de inquérito contra o senador e pediu o arquivamento das acusações contra ele. O pedido foi deferido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavaski.
O senador, por sua vez, desqualificou um pedido de investigação contra ele, apresentado por deputados da bancada do PT em Minas Gerais à Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo os parlamentares do PT, além dos fatos narrados pelo doleiro Alberto Youssef na Lava Jato, a PGR deve investigar a “Lista de Furnas” – suposto esquema de corrupção que veio à tona em 2006, no qual políticos e partidos teriam recebido dinheiro para “caixa dois” de campanha.
Em nota, Aécio disse que a lista “é uma das mais conhecidas fraudes políticas do país, reconhecida como falsa em 2006 pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios”. O senador alega ainda que “não existe uma, mas três listas de Furnas”, e que esse assunto tem sido insistentemente utilizado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) contra ele.
Palocci
Depois de se recusar a responder às primeiras perguntas de integrantes da comissão, Alberto Youssef quebrou o silêncio e negou, mais uma vez, que tenha repassado R$ 2 milhões ao ex-ministro Antonio Palocci, que seriam destinados à campanha da presidenta Dilma Rousseff em 2010. Palocci era coordenador da campanha. “Vou quebrar o silêncio neste assunto. Com respeito ao Palocci, eu confirmo minhas declarações feitas anteriormente. Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor dele. Ninguém me fez pedido para que pudesse arrebanhar recurso para a campanha”, garantiu.
Munido de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, que lhe garante o direito de não responder às perguntas, o doleiro antecipou, em tom de mistério, que novos fatos prometem ratificar sua versão. “Existe uma investigação neste assunto do Palloci, que logo vai esclarecer o assunto. Um novo réu colaborador está falando. Eu não fiz esse repasse e essa colaboração”, afirmou.
Youssef está frente a frente com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa em uma acareação promovida pela comissão. Os dois fecharam acordo de delação premiada com a Justiça para contribuir com as investigações da Operação Lava Jato. A operação da Polícia Federal apura denúncias de irregularidades na Petrobras, e os dois réus foram convocados para falar, no mesmo momento, para que esclareçam divergências nos depoimentos prestados até agora.
Costa foi o autor da denúncia contra Youssef envolvendo o ex-ministro da Fazenda Antonio Palloci. Assim como o doleiro, ele manteve sua versão da história durante os questionamentos dos parlamentares. “Ratifico aqui meus 126 depoimentos”, resumiu. O ex-diretor da estatal explicou, no início de suas declarações, que “entre CPMI [comissão parlamentar mista de inquérito] e CPI, esta é a quinta vez que estou aqui respondendo a perguntas. Prestei 126 depoimentos, e todos são de domínio público. Estou aqui para esclarecer algumas dúvidas. Vossas Excelências conhecem todos os meus depoimentos”, concluiu.
Costa foi condenado a mais de 7 anos de prisão por participar de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ele cumpre a pena em regime domiciliar. O doleiro está preso em Curitiba, condenado a nove anos e dois meses por lavagem de dinheiro.
*Com Agência Brasil
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