O texto abaixo carrega todos os defeitos da juventude. Escrevi há quase 15 anos, meses depois da morte de Ayrton Senna. Eu era um dos jornalistas brasileiros que estavam em Imola no dia 1º de maio de 1994. Foi a maior tragédia do esporte nacional, maior até do que a perda da Copa do Mundo de 1950 – ninguém morreu no Maracanã por causa daquela derrota, que se saiba. A perda do ídolo (e do objeto da notícia, falando friamente, embora tenha sido difícil ser frio naqueles dias) embaralhou corações e mentes.
Aos 29 anos, eu era correspondente de F-1 da Folha de S.Paulo, depois de ter sido editor de Esportes do jornal mui precocemente, aos 24. Aos 29 anos, a gente acha que sabe tudo. Não sabe de nada. Ninguém estava preparado para aquela morte, do jeito que ela aconteceu. Antes mesmo de voltar ao Brasil, me demiti do jornal. A vida tomou outros rumos, embora quase sempre ligados ao automobilismo e à velocidade, e seguiu quase incólume. Fui rabiscar estas linhas a pedido de um estudante de jornalismo de uma faculdade de Santa Catarina. Foi a primeira (e única) vez que escrevi sobre a morte de Senna para contar o que vi e o que se passou naquele fim de semana frio e ensolarado no norte da Itália. Quinze anos depois, acho que não mudaria uma vírgula. Deixaria inclusive os defeitos da juventude. Que, afinal, não eram tão grandes assim.
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Há nove meses ensaio a abertura deste texto. Por uma série de circunstâncias eu, o enviado especial do maior jornal do País que estava lá, em Imola, naquele dia, nunca escrevi sobre a morte de Ayrton Senna. De certa forma, sou um privilegiado. Não caí na vala comum. Não elaborei teorias. Não filosofei em público. Fui demitido antes. Estou isento. Ninguém pode me acusar de omissão.
‘È morto’, assim imaginei a primeira frase. Abrir com aspas, desde que seja uma declaração forte, importante, decisiva. É o que ensinam alguns manuais de redação. ‘È morto.’ Estávamos parados na fila do pedágio, na entrada de Bolonha, no carro que eu aluguei. Um Fiat Punto vinho metálico, sem rádio. Eu dirigia. Ao meu lado, Mario Andrada e Silva, do Jornal do Brasil. Meu partner, o cara que começou no jornalismo comigo, na Folha, em 88. Eu editor-assistente, ele um ex-economista que resolveu virar jornalista, o sujeito que mais conhece Fórmula 1 no Brasil. Foi meu repórter, eu editor, depois trocamos as funções, mais adiante viramos concorrentes.
‘È morto.’ Sem rádio no carro, eu e o Mario vivíamos momentos de uma agonia indescritível. Saímos de Imola logo depois da corrida, direto para o Hospital Maggiore de Bolonha. No meio de um congestionamento monstruoso, a falta de notícias dava nos nervos. Sabíamos que ele ia morrer, arriscávamos até que já estava morto quando entrou naquele helicóptero. Mario dormiu no caminho. Era seu jeito de enfrentar a tensão. Eu, agitado, procurava algum jeito de fugir daquele mar de carros. Não dava. No pedágio, pedi a ele que perguntasse ao carinha do carro ao lado se havia alguma notícia sobre Senna. ‘È morto’, respondeu o rapaz. Eram quase sete da noite. Comecei a tremer. Enquanto pegava as moedas no console, repetia ‘puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu’.
É horrível admitir que minha primeira reação tinha a ver com o que me esperava nas próximas horas. De uma maneira ridícula, esqueci qualquer tipo de sentimento para me envolver com a cobertura. Não me venham com o papo furado de que fiz o que qualquer bom jornalista teria que fazer. É balela. Preferia ter chorado. Puta que pariu, puta que pariu. A gente não sabia onde ficava o Maggiore. Seguimos as placas e achamos. Descemos do carro correndo, como se fosse possível registrar os últimos suspiros do Ayrton, como se ele estivesse nos esperando para morrer.
Não gosto de lembrar, e provavelmente vou rechear estas linhas de clichês, coisas como ‘parece que foi ontem’. Mas parece mesmo. É indiscutível que essa foi a cobertura da minha vida, que jamais vou passar por coisa parecida. Por isso é natural lembrar de tantos detalhes com tamanha precisão. Fiz questão de guardá-los. Senti que poderia ser a última corrida da minha vida. Era preciso preservá-la.
Imola, sábado à noite. Saio do autódromo com uma sensação esquisita. Nunca tinha visto ninguém morrer ao vivo, perto de mim. Dou carona a uma jornalista alemã, Karen, que estava hospedada num hotel ao lado do nosso, em Riolo Terme – uma cidadezinha a 15 quilômetros do circuito. Ela chorava feito doida. Ratzenberger era seu amigo. Karen se envolvia demais com os pilotos. No caminho, exercitando um desconhecido inglês sentimental, tentava estancar aquela choradeira com as bobagens de sempre: acontece, esse negócio é perigoso, a Fórmula 1 precisa rever seus conceitos, calma, a gente tá vivo ainda, porra.
Não saímos para jantar. Estávamos no quarto eu, Mario e o Marcelo D’Angelo, da Rádio Eldorado. No mesmo andar, Lemyr Martins e Alex Ruffo, da Quatro Rodas. Cansados, fomos direto para a cama. O fim de semana vinha sendo desgastante. Na sexta, o acidente de Rubinho. Para piorar, um furgão da Williams atropelou a mala onde eu levava meu computador, na saída do autódromo. Foi uma aventura fazê-lo funcionar à noite. No sábado, morre um cara. Chega. Acaba logo antes que piore.
Como sempre, eu, Mario e Marcelo acordamos tarde no domingo. Um cappuccino urgente e pista. Duas horas antes da largada, cada um em seu posto. Os dois na cabine da Eldorado. Eu, na da Jovem Pan, onde era comentarista. Em Imola, as cabines de rádio ficam em containers sobre o terraço do edifício dos boxes. No andar logo abaixo fica a sala de imprensa. É muito ruim para transmitir. Locutores e comentaristas só têm à disposição dois monitores: um com as imagens da TV e outro com os tempos. O ar-condicionado não funciona direito e não há janelas.
Logo na largada, uma batida feia de Pedro Lamy em J.J. Lehto. Um sinal, talvez. Quando Ayrton bateu, berrei ‘Senna!’ no microfone. Apesar dos precedentes, não era para morrer. Caramba, o cara mexeu a cabeça! Não, não ia morrer. Mas percebi que havia algo de errado quando os comissários de pista chegaram ao carro e se mantiveram à distância. A partir daquele momento, a correria atrás de informações era frenética. Eram 9h13 quando Senna bateu na Tamburello. Subi e desci as escadas atrás de notícias uma dezena de vezes. Na segunda, terceira, sei lá, passei pela cabine da Globo. Galvão Bueno me perguntou se eu sabia de alguma coisa. Idiota, respondi que a orrida iria recomeçar, como se aquela fosse a informação mais importante do momento. ‘Eu quero saber se ele está vivo, porra!’, me disse o Galvão. Foi até gentil demais.
Soube que Ayrton estava morto – ou que, se não estava, não tinha mais volta e morreria a qualquer momento – ainda no autódromo, pelas informações que chegavam de Bolonha por telefone, transmitidas por repórteres italianos que haviam corrido para o hospital. Tivera paradas respiratórias e morte cerebral. Mas eram informações desencontradas e não-oficiais. A corrida não tinha terminado, e relutei em matar Senna antes da hora, no ar. No corre-corre, entre a cabine e a sala de imprensa, liguei para a redação do jornal. Não havia ninguém. Só consegui falar com meu editor por volta das 11h, horário de Brasília, no final do GP. ‘Pode se preparar para o pior’, disse. ‘O cara morreu.’ Ouvi, do outro lado da linha, que iríamos fazer um caderno de oito páginas. Ok, ok, estou indo para o hospital.
‘È morto.’ Quando entrei no saguão do Maggiore, a primeira pessoa que vi foi o Luiz Roberto, da Rádio Globo/CBN, de São Paulo. Com um celular, me colocou no ar, ao vivo. Não sabia direito o que dizer. Fazia meia hora que Senna tinha morrido e eu ainda não tinha me dado conta do tamanho da notícia. Procurei ser sensato. Disse que estava chocado e que o Brasil perdera um grande esportista. Muito original. A cabeça estava em outra. Quem ouviu a Adriane? E a família? E a Xuxa? E o presidente? Pela primeira vez, em oito anos de Folha, sentia que a edição fugia do meu controle. Maldito vício, esse de repórter que já foi editor querer editar tudo à distância. À minha esquerda, Nílson César, o locutor da Pan, me chama para uma entrada ao vivo também pelo telefone. No aparelho ao lado, Cândido Garcia, da Bandeirantes, faz o mesmo. Ameaço chorar quando ele se refere ao Mario, ‘seu grande amigo’, que disse não sei o quê. Naquele momento, naquele exato momento, caí na real. Percebi que uma fase da minha vida, das nossas vidas, tinha chegado ao fim. ‘Meu grande amigo’ Mario. Será que voltaríamos a nos ver uma vez a cada 15 dias, cada vez num país diferente, eu filando seu Marlboro Menthol Lights, ele usando meu shampoo?
É gozado esse egoísmo que tomou conta de mim. Pensava na minha vida, na minha carreira, na família que a gente formava e que nunca mais seria a mesma. Fim, fim. Não chorei e fiz um discurso indignado, algo do tipo ‘meu jornal me manda aqui para cobrir um evento esportivo e eu sou obrigado a relatar uma carnificina’. Cara, quanta bobagem.
Ficamos no hospital até as 21h30, quando, no 12º andar, vi uma maca passar à minha frente, com um corpo coberto por um lençol. Subi num banco para poder enxergar melhor. Abracei o Galvão. Abracei a Betise, assessora de imprensa do Senna. Não derramei uma lágrima. Precisava falar com o jornal, urgente.
Não havia mais nada a fazer no Maggiore. Tinha a hora da morte, 18h42, o comunicado da médica-chefe do Centro de Reanimação do hospital, vi as pessoas chorando no saguão, sabia o que tinha acontecido com Senna. Voltamos para o autódromo. Era hora de escrever. Jamais havia imaginado que um dia escreveria sobre a morte daquele sujeito. Antes, liguei para o jornal. ‘Temos isso, temos aquilo, temos fulano?’, falava, sem parar. Meu editor tentou me tranquilizar. ‘Se precisar, a gente faz tudo daqui.’ E reiterou: ‘Nada de emoção nos textos’. Fiquei puto. Como, a gente faz tudo daqui? Claro que vou escrever sem emoção! Mas quero um espaço para um texto em primeira pessoa. Vamos ver, vamos ver. Quando cheguei de volta a Imola, me informaram que não precisava de texto na primeira pessoa.
Havia poucas pessoas na sala de imprensa. Eu, Mario, Celso Itiberê, de O Globo, a Karen desesperada, alguns ingleses e japoneses. Poucos italianos, já que era 1º de maio e a maioria dos jornais não circulou no dia seguinte. Liguei meu velho Toshiba T1000 e o lead, surpreendentemente, saiu fácil. Tinha usado o ideal no dia anterior: ‘A Fórmula 1 matou ontem o austríaco Roland Ratzenberger…’ Era bom. Mas decidi escrever o texto mais gelado e despido de emoções da minha vida. Nem precisava. Há certos fatos que falam por si só. Dane-se o que o jornalista pensa. Resolvi usar uma construção inédita do meu repertório: ‘O brasileiro Ayrton Senna da Silva’. O brasileiro. Nunca tinha chamado Senna de ‘o brasileiro’. ‘O brasileiro Ayrton Senna da Silva, piloto profissional de Fórmula 1, morreu ontem…’ Ficou legal.
Escrevi rápido. Cinco ou seis matérias. A Williams, a suspensão, o hospital, a pista, essas coisas. Quando terminei de transmitir tudo, me veio uma sensação horrível de trabalho malfeito. Aquela coisa de não interferir na edição. Cheguei a escrever um recado emocionado aos colegas da redação que ajudaram naquele dia, que tiveram suas folgas cassadas, que colaboraram na elaboração de um produto bom num episódio tão trágico. Meu drama interior era um só: não fiz nada que os outros não tenham feito. E o resultado da edição do dia seguinte dependia muito mais de quem estava em São Paulo do que de mim. Ninguém nunca leu esse recado, que está guardado num disquete em casa ao lado da caneta que eu usei para minhas anotações naquele domingo. Uma caneta que eu achei na sala de imprensa de Aida, com a ponta mordida. Ninguém leu porque o texto não chegou a ser transmitido. A linha caiu, deu ocupado, sei lá. Desisti.
Os dias seguintes foram piores que o domingo. Na segunda-feira, fomos cedo para o Instituto Médico Legal de Bolonha, sempre eu, Mario e Marcelo. Tinha gente para todos os lados e nenhuma notícia. Às 8 horas de Brasília, 13 horas na Itália, falei com meu pauteiro de um telefone público num bar. Não tinha muito a dizer, daria retorno mais tarde, e ele me avisou que alguém na redação queria falar comigo antes de eu desligar. Era uma moça, Cleusa Turra, secretária-assistente de redação. Pensei o pior. Vão querer que eu entreviste o caixão, o muro, essas coisas da Folha. Caí do cavalo. Cleusa queria saber apenas se eu estava legal. Me emocionei pela segunda vez. Não esperava nada muito humano do jornal. Estou legal, respondi.
Foi um dia fraco de notícias, cheio de desencontros e alarmes falsos. A Folha enviara um fotógrafo para Bolonha, o Pisco Del Gaiso, hoje na Placar. Só o vi no IML. Perdemos o contato depois. No fim da tarde, nos transferimos de mala e cuia para o Novotel de Bolonha, onde estava instalado o QG da diplomacia brasileira que iria cuidar da transferência do corpo no dia seguinte. Alguns colegas voltaram ao Brasil na segunda à noite, no mesmo vôo que levou o irmão de Senna, Leonardo. Os que ficaram viraram atração; só eu fui entrevistado por uma rádio italiana e uma TV alemã. À noite, liguei para o jornal. ‘Chegou tudo?’, perguntei. Sim, chegou. Eram 22 horas aqui, 3 horas de terça-feira lá. Fulana quer falar com você. Era a secretária de redação do jornal, uma figura que raramente me cumprimentava na redação. Vinha bomba, com certeza. Resumo da nossa conversa, um tanto quanto áspera: nossa avaliação (deles) é de que O Globo saiu melhor, blá-blá-blá. E achamos que você deveria ter ido para o hospital na hora do acidente. Por que não foi? Porque achei que não deveria ficar uma hora no escuro, sem informações, sabendo que ele poderia morrer a qualquer momento. Não foi por causa da rádio?, insinuou a secretária. Ali percebi que meus dias na Folha estavam contados. Inventaram uma desculpa para me implodir.
Na terça-feira, irritado com a insinuação da véspera, alguns quilos mais magro (não dava tempo de comer direito e faltava apetite, essa é a verdade), vivi novos momentos de emoção. O corpo embarcou no fim da tarde num avião da Força Aérea Italiana, em Bolonha. Não vi a decolagem. Estava falando com o jornal. Na mesma hora, a maioria dos jornalistas brasileiros embarcou para Paris, de onde voltariam a São Paulo no mesmo vôo do caixão. Me senti só. Ficamos eu e o Mario em Bolonha. O resto foi embora. Foi nessa terça-feira que consegui minha melhor matéria. Uma ex-namorada, de 13 anos antes, quando eu ainda morava no interior, era legista no IML de Bolonha. Consegui encontrá-la. Brigou comigo, depois de tantos anos, porque eu não a procurei antes. ‘Eu te mostrava o corpo!’, me disse, num português bastante razoável. Foi até meu hotel e me deu uma longa entrevista. Descreveu a cabeça de Senna, contou que colocou uma rosa na sua mão antes de fecharem o caixão, falou sobre os legistas, seus professores. E me revelou que o laudo iria concluir que ele morreu na pista. Foi uma grande matéria. Minha última na Folha, manchete do jornal no dia seguinte, 4 de maio.
Naquela noite, no mesmo horário, três da manhã, liguei para a redação para avisar que estaria voltando no dia seguinte. A secretária de redação queria falar comigo de novo. Dois assuntos: 1) você não pode mais colaborar com a rádio; 2) decidimos que você vai ficar na Itália acompanhando o inquérito. Como acompanhar o inquérito? Isso vai levar meses! Pela primeira vez na minha vida, gritei com alguém no telefone. Queria voltar. Tinha motivos de sobra para isso. Primeiro, os jornalísticos: havia o velório, o enterro, todos os pilotos estariam no Brasil, eu precisava cobrir essa merda! Além do mais, um inquérito policial é um negócio que demora muito tempo. Não vou descobrir um assassino para o Senna, argumentei. Todo mundo já foi embora. ‘A Folha não é todo mundo’, ouvi. Seguiu-se um bate-boca. Chegamos a um impasse. Apelei para o pessoal. Queria voltar, estava estressado, emagreci cinco quilos, precisava ver gente viva. ‘Nós decidimos. Você vai ficar e pronto’, me disse a secretária. Eram três da manhã e eu não queria esticar aquele papo. Fui bem claro: ‘Quem decide o que eu faço sou eu. Peço demissão e estou voltando amanhã’. Do outro lado da linha, ela tentou contemporizar. ‘Não é bem assim, vou falar com fulano e te ligo depois’, disse. Eu encerrei de vez: ‘Não, ninguém me liga mais hoje. São três da manhã e eu tenho um avião amanhã cedo. Tchau’. Desliguei e pedi à recepção que não passasse mais nenhuma ligação para meu quarto. ‘Eles vão dar para trás’, resmungou o Mario, que já dormia. Ligaram, eu soube depois. Mas eu já estava dormindo. Pela primeira vez, desde a morte de Senna.
Na quarta-feira, saímos os dois do hotel. Mario para Pisa, onde pegaria um avião para Londres. Eu para Milão, de onde voaria para Madri. Ambos, como sempre, atrasados. Mas, também como sempre, chegamos a tempo. No aeroporto de Linate, devolvi o Punto vinho e só embarquei porque era brasileiro. Ficaram com pena de mim. Cheguei a Madri, fui para o bom e velho Trip Hotel, liguei para meu editor, comuniquei-lhe que estava demissionário e fui ao cinema assistir Proposta Indecente. No fim da noite, emocionei-me pela quarta vez: na TV, mostraram as imagens do Morumbi lotado gritando o nome de Senna antes do clássico São Paulo x Palmeiras. No gramado, um jogador, ajoelhado, rezava. Era Gilmar, zagueiro são-paulino, hoje na Portuguesa.
Tentei esquecer Senna, a Fórmula 1 e a Folha. Na manhã seguinte, embarquei em Barajas levando um monte de acessórios que comprei numa concessionária Renault para meu carro novo, que eu ainda não tinha nem visto. Cheguei a São Paulo na quinta à noite, logo depois do enterro. Minha mulher me esperava. Nos abraçamos em silêncio. Tentei manter a pose. Na Avenida Tiradentes, vi bandeiras negras, faixas, ônibus com a inscrição ‘Valeu Senna’. Na sexta, fui ao jornal para oficializar minha saída. Não fui recebido pela direção de redação. O pessoal da editoria não sabia que eu estava fora. Minha coluna, ‘Warm Up’, estava diagramada para ser publicada no dia seguinte. Ela nunca foi escrita. Fui demitido na segunda-feira, por insubordinação.
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