Berlim-Viena. Para muitos alemães e austríacos, a Primeira Guerra Mundial não teve vencedores. Ao contrário. Em 4 de agosto deste ano – dia do centenário do mais sangrento e devastador teatro de guerra da história, que deixou mais de dez milhões de mortos e 20 milhões de feridos, entre combatentes e civis –, exposições e eventos na Alemanha e na vizinha Áustria apresentam de forma quase obstinada a ideia de que a guerra terminou por deslealdade aliada.
Ou seja, se não fosse a ausência de mão de obra nas fábricas de armamentos, as revoltas e deserções dos exércitos exaustos, e a chegada, no último ano do conflito, de tropas ianques bem alimentadas e frescas, teria sido possível a coalizão dos povos germânicos para derrotar o Reino Unido e seus coadjuvantes italianos, franceses, russos e norte-americanos.
Por ser a história das guerras contada geralmente pelo vencedor, resolvi virar a perspectiva de ponta-cabeça, buscando fontes na Alemanha e na Áustria, países considerados responsáveis tanto pelo conflito de 1914 como pela Segunda Guerra Mundial, iniciada 24 anos depois, em 1938.
Alemães e austríacos com quem conversei acreditam que o desfecho da Primeira Guerra, em 1918, foi extremamente injusto com a aliança Áustria-Alemanha. Principalmente porque reparações de guerra exigidas pelo Tratado de Versalhes, de 1919, eram praticamente “impagáveis”, como afirma Juliane Haubold-Stolle, historiadora nascida na Alemanha e curadora da exposição A Primeira Guerra Mundial, no Museu Histórico Alemão, em Berlim. “Menos de 20 anos depois, teriam sido essas mesmas reparações de guerra que levaram à depressão econômica alemã, à chegada ao poder, em 1934, de Adolf Hitler e à Segunda Guerra Mundial.”
Mas limitar a lembrança da Primeira Guerra só por ter antecipado a Segunda seria mal servir a história do século 20. Mundo afora, historiadores têm feito a releitura do período de 1914 a 1918. Documentos, filmes, mostras e eventos hoje revelam o conflito como recomeço da história da civilização ocidental, dessa vez livre das monarquias absolutistas que até então haviam determinado o destino das massas.
Pela primeira vez, uma guerra sob o comando de alguns poucos países envolveu todos os continentes, de um extremo a outro, desde a Europa ocidental até a China. A partir da Europa, o mundo se dividiu entre a Tríplice Aliança, composta pelo Império Austro-Húngaro, a Alemanha e a Itália, e a Tríplice Entente, aliança entre Reino Unido, o Império Russo, a França e seus aliados, incluindo os Estados Unidos e o Brasil.
Sinônimo de mutilação, morte, fome, doença, campos de concentração, revoluções e mudanças nas fronteiras, a Primeira Guerra transformou de maneira permanente o modo com o qual a sociedade ocidental define parâmetros de violência. Honra, jogar limpo, lutar honestamente foram colocados de lado com a introdução de armas químicas, metralhadoras semiautomáticas que matavam homens quase por metro, aviões e submarinos.
Escondidos em centenas de quilômetros de trincheiras, espalhados nos campos e à volta de cidades na França, Áustria, Alemanha, Rússia, Itália e Turquia, vivendo como toupeiras, morrendo também de doenças, como diarreia e hepatite, ou envenenamento por gás mostarda, milhões foram dizimados ou feridos a serviço de seus países, deixando marca indelével na sociedade.
Como consequência, os países envolvidos foram forçados a investir na melhoria da qualidade de vida de seus sobreviventes, buscando próteses ortopédicas, produtos têxteis, sistemas de tubulação e engenharia mais eficientes, entre outros. Também pela primeira vez, embora a humanidade já tivesse vivenciado outros conflitos, foram conduzidos estudos psicológicos do impacto da guerra sobre o comportamento humano, ajudando no planejamento do pós-guerra.
O fim de uma era
Neil Faulkner, arqueólogo e historiador da Universidade de Bristol, no Reino Unido, explica que a Primeira Guerra Mundial serviu para terminar de vez com um sistema sociopolítico, que já estava em decadência. Foi substituído o poder do berço, abrindo caminho para o que o sociólogo britânico Michael Young, anos mais tarde, chamou de meritocracia. “Havia a Europa dos impérios, dos grandes industriais, dos generais e banqueiros; e uma segunda Europa, a dos mineradores do sul do País de Gales, da Boêmia ou da bacia do rio Don.”
Essa divisão se traduzia na seguinte realidade: para uma pequena camada da sociedade, a guerra representava a glória no campo de batalha, a defesa de um meio de vida baseado na dominação social e enormes lucros com a indústria de armamentos, uniformes e todo o aparato militar. Mas para a grande maioria, era muito diferente, segundo Faulkner. “O trabalhador, obrigado a vestir o uniforme dos exércitos nacionais, enxergava o patrão como inimigo, e não o soldado do outro lado da trincheira. O mesmo argumento serve para os movimentos nacionalistas que pipocavam por toda a Europa. Para o nacionalista irlandês ou indiano, o inimigo era o Império Britânico, não a Alemanha.”
Entretanto, ainda leais aos velhos padrões de comportamento em que a aldeia praticamente pertencia ao proprietário rural, na Inglaterra, comunidades inteiras se ofereceram para lutar no front e foram dizimadas, deixando uma geração de mulheres sem parceiros ou casadas com homens mutilados física ou psicologicamente.
Uma boa descrição do fenômeno está na peça Fácil Virtude, de Noel Coward, recém-transformada em filme hollywoodiano, com o ator Colin Firth e a atriz Jessica Biel. Em uma cena entre um aristocrata falido inglês e a nora norte-americana “de passado esquivo”, ele revela a vergonha de ter levado à morte – e ter sobrevivido sozinho – um batalhão de homens da aldeia que servia as terras da sua família na Inglaterra. Nos primeiros dois anos do conflito, morreram muito mais homens do que se previa. No primeiro dia da Batalha do Somme, em 1915, a primeira grande ofensiva no front ocidental, os ingleses tiveram 60 mil baixas, segundo o historiador escocês Niall Ferguson.
Autor do livro O Horror da Guerra, Ferguson conta que, até a introdução de táticas de batalha trazidas do Oriente, as tropas britânicas caminhavam sem qualquer proteção em direção ao inimigo, como se fazia na Idade Média, caindo como moscas em frente de metralhadoras alemãs.
De Nicky para Willy
Vista de baixo para cima, a história da Primeira Guerra Mundial é sobre um sistema social em turbulência, a última batalha pelo poder imperial. Em quatro anos, foram redesenhadas as velhas fronteiras europeias, e o desenlace do conflito resultou no colapso quase completo da velha ordem política da Europa. Com o desmantelamento de quatro casas monárquicas – Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Rússia – substituídas por repúblicas, uma delas comunista, milhões de indivíduos passaram a participar do mundo político e econômico, antes vetado à pessoa comum, acelerando o processo de cidadania com o qual identificamos a Europa hoje. Ironicamente, os titulares das casas imperiais europeias, curiosamente a maior parte netos ou bisnetos da rainha Vitória da Inglaterra por casamento ou consanguinidade, previam que lutar uns contra os outros seria pôr tudo a perder.
“Caro primo Willy”, escreveu o imperador Nicolau II, da Rússia, ao kaiser Wilhelm II, da Alemanha: “Veja que logo estarei pressionado a tomar medidas que levarão à guerra. Para evitar tal calamidade, peço em nome da nossa velha amizade que faça o que puder para conter seus aliados”.
Telegramas trocados entre os primos demonstram que os imperadores já teriam perdido o poder sobre seus ministros. De fato, até o velho imperador Francisco José, da Áustria, considerado o país que incitou a guerra, quando pediu mais cautela, foi ignorado por Conrad Von Hötzendorf, comandante-chefe das Forças Armadas do Império Austro-Húngaro.
Novas estratégias
A tecnologia de comunicação introduzida durante a Primeira Guerra modificou a estratégia militar e a maneira de os exércitos se enfrentarem. Já essencial instrumento na rivalidade entre países, a espionagem se tornou mais sofisticada e eficiente com a melhoria da tecnologia de telecomunicações, e trouxe as trincheiras para mais perto dos centros de comando. Com efeito, o Exército alemão instalou, na ocasião, seis milhões de quilômetros de cabos telefônicos, mantendo Berlim conectada a todos os centros de comando, da Alemanha ao Oriente. Eram mais de 8.100 agências de correios, que enviaram, em quatro anos, cerca de 29 milhões de cartas, telegramas e pacotes. Foram construídos milhares de quilômetros de linhas de trem e estradas para manter viva a comunicação entre as tropas.
Usando em parte a tecnologia instalada pelo aparato militar e a cultura das artes presente à época, a propaganda também foi marcante. De uma vez, a elite dos países europeus compreendeu que não mais seria servida cegamente, era preciso garantir o apoio psicológico das massas. O cinema, que já tinha papel essencial na vida da população europeia, passou a exibir filmes feitos no front da Alemanha e da Inglaterra. Eles faziam parte da propaganda para manter o apoio popular ao conflito e recrutar jovens.
Na Áustria, foi montado o Kriegspressequartier – o departamento de propaganda imperial. Seu trabalho era mostrar a glória da guerra e retratar a virilidade do soldado perante a possibilidade da morte. Sintetizando ainda a história guerreira dos povos germânicos, esse órgão de propaganda apelava para a tradição guerreira do povo austríaco e procurava dissipar a noção coletiva de direitos, que começava a despontar por toda a parte.
Ao contrário da Alemanha, que já no início da década concentrou sua propaganda em fotografias, filmes e programas de rádio, na Áustria os artistas da vanguarda enfileiraram-se para participar da propaganda imperial. No front, recebiam materiais difíceis de conseguir até em tempos de paz. Instruídos a serem fiéis ao que viam e observavam, artistas, como Gustav Klimt, Max Beckmann, Otto Dix e Schiele, produziam dezenas de esboços de cenas de guerra, personagens e imagens, muitos a lápis.
Em pouco tempo, as pinturas e os esboços deixaram transparecer a tragédia da guerra. Mais sutil do que muitos colegas, no trabalho Estrelas sobre uma Casa Maléfica (1916), de Paul Klee, nas casernas repletas, soldados dormem sob a noite em paz. “A propaganda foi uma das melhores armas usadas pelo Império Austro-Húngaro no aparato militar”, conta a historiadora norte-americana Elizabeth Clegg. “Foi usada com notável imaginação e estilo, muitas vezes com grande efeito.”
Aproveitando a obsessão nacional com a leitura de jornais, na Grã-Bretanha, o governo, o único em que o serviço militar jamais fora obrigatório, promovia o conflito também por meio da imprensa escrita, conseguindo convencer jovens a se juntarem ao esforço para libertar os vizinhos na Bélgica e evitar a possibilidade de um desembarque alemão nas Ilhas Britânicas.
Ímpeto para a arte
Essa Guerra representou para a Europa, não apenas a fratura irreversível na história daquele continente e de suas culturas, mas também uma ruptura na história da arte. Assim escreve o curador e historiador alemão Uwe Schneede em um recente ensaio sobre o impacto da guerra e a arte, publicado no catálogo de arte do Leopold Museum, em Viena: “A guerra sustou de uma hora para outra o fervoroso crescimento dos movimentos internacionais da arte vanguardista – seus participantes encontraram-se sem estúdios, sem cavaletes, sem tintas e sem os marchands que os promoviam”.
Schneede descreve de que maneira artistas, como Kandinsky, Paul Klee e Marcel Duchamp, se sentiram estrangeiros onde antes eram celebrados. Duchamp, em carta de 1915, já de Nova York, descreve Paris como “um prédio abandonado. As luzes já se apagaram. Os amigos se foram para o front. Ou já foram mortos”.
Por um lado, alguns artistas, como o próprio Duchamp, saíram da Europa a toque de caixa quando estourou a guerra. Outros, como Kandinksy, Richard Huelsenbeck, Hugo Ball e Hans Richter, se esconderam sob o véu neutro dos Alpes suíços, formando o movimento dadaísta, com sua capa de protesto. Paul Klee tomou “ódio” de Franz Marc, “aquele uniforme”, escreveu em uma carta em protesto à atitude do colega. Justa a implicância ou não, Marc se alistou por acreditar na guerra como uma espécie de “oportunidade para corrigir” uma Europa “decadente e cheia de vícios”.
O mesmo sentimento levou Egon Schiele ao front. Mas, para ele, o que começou como uma ideia interessante terminou em tragédia, perante a enormidade do massacre – como está refletido em sua obra produzida durante o período. Schiele morreu em decorrência da epidemia de gripe espanhola, que afetou o continente em 1917, um ano antes de a guerra terminar, vítima das péssimas condições higiênicas e de má nutrição a que eram submetidos soldados e civis.
Marc não estava só. Muitos artistas apoiaram o esforço de guerra. Fosse por ingenuidade, oportunismo ou temor – apesar do vanguardismo –, compreendendo que o mundo seria diferente se o sistema patronal dos impérios terminasse. Ainda na Áustria, Kokoschka e Klimt foram para o front por nacionalismo. Nenhum dos dois parou de pintar durante o período, desenvolvendo um trabalho quase reativo ao caos que se embrenhava na Europa.
Em outros países, o apoio à guerra foi mais uma vez a manifestação de um sentimento antiburguês. Na Itália, os futuristas exigiram que o país rompesse a neutralidade e declarasse guerra contra a Alemanha e a Áustria. Louis Marcoussis, da Polônia, e František Kupka e Otto Gutfreund, da Tchecoslováquia, se juntaram à legião francesa para mostrar seu apoio à luta contra a unificação europeia pelo poder teutônico.
Independentemente da inclinação política dos artistas, o fato é que, apesar do colapso prático da vanguarda, a guerra resultou em uma produção artística inusitada. Curiosamente, o governo do velho imperador Francisco José compreendia intrinsecamente a necessidade de cooptar artistas ao esforço de guerra. Se esses vanguardistas, que tanto sacudiam a sociedade com o movimento secessionista apoiavam o conflito, a população não faria oposição.
O Leopold Museum, em Viena, comemora o centenário da Primeira Guerra com a exposição Ainda Assim Houve Arte (Trotzdem Kunst, em alemão). Contando com obras e instalações de grandes nomes da arte secessionista, vanguardista e moderna, estão expostos trabalhos feitos entre 1914 e 1918 de Schiele, Albin Egger-Lienz, Anton Kolig, Anton Faistauer, Herbert Boeckl, Oskar Kokoschka, Gustav Klimt e outros. A exposição contém ainda cartas e documentos, demonstrando a posição tomada pelos artistas em diferentes momentos do conflito, assim como o perfil de cada pintor.
Antes da guerra
No início do século 20, o Império da Prússia – hoje Alemanha – rompeu muitas das barreiras da tecnologia promovidas pela Revolução Industrial, lançada em 1890 pela Inglaterra. Já em 1905, o desenvolvimento da tecnologia industrial alemã se consolidou, lançando a base do que é até hoje considerado padrão de qualidade absoluta. Em 1905, também saíram inúmeros manifestos por autores alemães, chamando pela unificação dos povos alemães. O ano 1905 também ficou marcado pelo lançamento do Plano Schlieffen, em que a Alemanha determinava como invadiria a França em caso de ataque pela Rússia. Elaborado pelo conde Alfred Von Schlieffen, o plano assegurava os membros da Tríplice Aliança – Áustria-Hungria, Alemanha e Itália – de que estariam preparados para uma possível guerra. Mais tarde, veio a ser o grito de batalha do Terceiro Reich, lembrando que o austríaco Adolf Hitler serviu com louvor o Exército da Alemanha na Primeira Guerra.
Liderada pelo kaiser Wilhelm II, além da prosperidade econômica da Alemanha crescia a sua população, assim como as artes, a literatura, o teatro e a ambição de competir com outras monarquias europeias na expansão do território para as colônias no além-mar, principalmente na África. Antes de domínio português, francês, belga e britânico, ciente da importância estratégica dos recursos naturais do continente negro, a Alemanha conseguiu, a duras penas, consolidar sua presença colonial, tanto na África Ocidental quanto na Oriental, estabelecendo colônias em Camarões, Namíbia e Tanzânia.
Nesse ínterim, apesar dos ganhos, o kaiser enfrentava graves crises domésticas. Com os gabinetes políticos dominados por uma nobreza teutônica autocrática e autoritária, ansiosa por manter as diferenças de classe e, por extensão, fechada a reformas políticas, a oposição ao regime se dava principalmente pelas minorias nacionais e da classe trabalhista e tecnocrática qualificada, emergente do processo de industrialização. Nesse contexto, para as lideranças militares, uma guerra para consolidar o poder da Alemanha e manter a hegemonia política convenceria as massas duvidosas da velha ordem. Ficaram à espera de uma oportunidade e, pouco a pouco, foram feitos planos para uma possível confrontação com a França e com a Rússia, mas não com a Inglaterra.
A queda do império
Enquanto a Alemanha armava seu aparato militar, a Áustria enfrentava também seus monstros. Sede de uma das monarquias mais antigas da Europa, no vácuo causado pelo colapso do Império Romano, Viena conseguiu consolidar sua hegemonia na Europa Central. Bósnia, Croácia, o norte da Itália, a Hungria, Istria, Montenegro e Tchecoslováquia faziam parte da Áustria no início da Primeira Guerra. Não eram convivências inteiramente pacíficas. Em Praga e Budapeste, onde culturas seculares haviam sido forçadas a ceder lugar à presença germânica, começando pela língua, muitos se ressentiram com o fato de a coroa austríaca jamais ter feito qualquer gesto para, ao menos, aprender a língua local.
Em julho de 1914, aos 83 anos, o imperador Francisco José já teria vivido mais do que a maioria de seus súditos do Império Austro-Húngaro. Multicultural e multilíngue, composto por uma dúzia de pequenos territórios ultranacionais e cujo parlamento, em 1914, proferia discursos em nada menos que 11 línguas oficiais (alemão, sérvio, húngaro, tcheco, eslovaco, esloveno, croata, romeno, ruteno, polonês e italiano), o Império Austro-Húngaro tinha dificuldade em se manter coeso.
Apesar de anos no poder, como chefe da Casa Imperial de Habsburgo, Francisco José, sobrinho-trineto da imperatriz Leopoldina, do Brasil, não teve uma vida feliz. Casado com uma mulher muitos anos mais nova, a famosa imperatriz Elizabeth da Baviera, a Sissi, ela praticamente o acusara de pedofilia poucos anos antes de ser assassinada. Pouco depois, o filho e herdeiro do trono, Rodolfo, ansioso e depressivo, assassinou a amante e, em seguida, se matou no acampamento de caça da família, próximo à capital austríaca.
Para coroar a tragédia, em 28 de junho de 1914, o sobrinho e novo herdeiro do trono, o príncipe Francisco Ferdinando e sua mulher, em Sarajevo, capital da Bósnia, em aniversário de bodas, foram assassinados à queima-roupa por um franco-atirador rebelde-separatista sérvio, Gavrilo Princip. O jovem de 18 anos fazia parte de uma facção que lutava por uma Sérvia livre, composta de jovens das três nacionalidades da Bósnia. Nada menos do que cinco franco-atiradores estavam à espera do herdeiro do trono Habsburgo. Dois falharam, mas Gavrilo apareceu em frente ao alvo e rapidamente fez o serviço. É o que revela o historiador Christopher Clark, no livro Os Sonâmbulos: Como a Europa foi à Guerra em 1914. A obra, que apresenta uma visão diferente da versão aliada, vendeu 60 mil cópias na Alemanha. De fato, apesar das investigações austríacas, nunca foi comprovado se houve ou não envolvimento de alguém além dos estudantes nos movimentos separatistas daquela época na Bósnia. Gavrilo, considerado herói na ex-Iugoslávia, morreu em uma prisão na Áustria, aguardando a conclusão do seu julgamento.
Os dramas familiares do imperador deixaram passados os parentes nobres no restante da Europa. Em apoio ao velho, que não só perdera a família, mas estaria prestes também a perder o Império, o kaiser alemão Wilhelm II prometeu apoio incondicional à Áustria “qualquer que seja a decisão tomada por ela com relação a punir a Sérvia pelo assassinato do herdeiro do trono”.
Desde o início do século preparando seu arsenal, o aparato militar austríaco regozijou-se com a crise. Foi dado um ultimato à Sérvia. Ou entrava nos eixos ou haveria retaliação militar. Mas, apesar de o primeiro-ministro daquele país aceitar as exigências do Império Austro-Húngaro, o apoio do poderoso Exército alemão foi tentação suficiente para os cães de guerra.
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