2 filhos de dona Kina

Quem faz TV tem fama de escrever mal.

Quando eu disse ao Guga que os pequenos contos que ele tinha escrito eram muito bons, ele não acreditou. Nem ele. “Você tá dizendo isso porque é meu amigo.” (Aliás, um dia ele definiu amizade. Falando a respeito de outro cara, declarou: “Eu sou amigo dele, mas não sou amigo de poder telefonar a qualquer hora do dia ou da noite como com você”.)
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“Não, são muito bons mesmo”, eu insisti. “Dão um livro, se você escrever mais. E eu vou falar com o Hélio pra gente publicar alguns aqui na Brasileiros“. O Hélio reagiu como eu: achou ótimo. Assim nasceu a nossa capa com Roberto Carlos (edição 28, novembro de 2009). Guga tinha dirigido um show de fim de ano dele. Mas a estrela foi Maria Bethânia: exigiu até um pai de santo para gravar.

Enviei os originais para Quartim de Moraes. Ele gostou muito, mas, como é amigo do peito, quis saber: “Foi o Guga mesmo que escreveu ou foi você?”.

O padrasto
Não, foi ele mesmo. Escreveu tudo à mão, com a canhota, é claro. Depois, a Valéria, sua mulher, passou para o Word. Eu li todos os contos, rindo ou chorando, conforme o parágrafo.

O Guga é louco por cinema. No seu livro, tem neorrealismo italiano – as cenas dele e do Boni na pensão com dona Kina, sua mãe… O padrasto jurando Boni de morte… Tem Fellini – publicitários fantasiados de nazistas; tem bang-bang trash, tem suspense à Hitchcock, tem os mafiosos do Coppola. Tem musical da Broadway.

Talvez nem Guga nem Boni tenham percebido até hoje. Mas suas vidas dariam a melhor novela das 8 de todos os tempos! “2 filhos de Dona Kina”.

Desde o começo, eu quis chamar o livro de Tela Quente. Guga preferiu A Vida é um Show. A capa, ele próprio escolheu. Um retrato que o amigo Gustavo Rosa tinha feito quando Guga “nasceu de novo”.

Metade é teu
Guga escolheu também a foto dessa matéria. É do tempo em que ele e Regina Duarte fizeram juntos o seriado Joana. Fora da Globo. Produção independente. Foi quando eu o conheci. Ele, que não tinha nada a esconder, denunciou boicote comercial. Quem patrocinar Joana não anuncia na Globo.

Eu publiquei na IstoÉ. Foi um Deus nos acuda.

Três coisas das quais Guga pode se orgulhar: mulheres, filhas e amigos. Não me esqueço de certa vez, tanto eu quanto ele estávamos duros. Ele tinha dez documentários para vender. Eu achei comprador. Ele disse: “Metade é teu”. Dez documentários dele. E eu ganhei 50%. Mas não é isso que me faz elogiar seu livro. Se fosse ruim, eu seria o primeiro a dizer. Por ser seu amigo.

As fantásticas histórias de Guga de Oliveira


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