Prever o comportamento da economia não é exercício dos mais confortáveis. Que o digam os economistas que profetizaram uma era de estabilidade após o advento do Plano Cruzado, em 1986, ou aqueles que vaticinaram um processo de hiperinflação a partir da edição do Plano Real, em 1995. Ou ainda os que apostaram na derrocada da economia com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
Ressalva registrada, os principais economistas, técnicos e analistas – independentes e oficiais – ouvidos pela Brasileiros acreditam que nem mesmo os solavancos provocados pela crise que se abateu sobre o mercado imobiliário norte-americano no segundo semestre de 2007 são capazes de turvar o brilho da economia brasileira em 2008.
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“No pior dos cenários, que seria o de confirmação de uma recessão da economia americana, trabalhamos com uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5%”, calcula Fernando Sampaio, economista e sócio da LCA Consultores (o PIB é o indicador que mede a criação de riquezas de um país).
Na média, entretanto, os analistas ouvidos pela Brasileiros projetam um crescimento entre 4,3% e 4,5%, índices próximos dos 5% previstos pelo Ministério da Fazenda para 2007. “O crescimento da economia brasileira está sendo impulsionado pelas condições positivas do cenário externo – que continua demandando produtos agropecuários e minerais, os quais produzimos com extrema eficiência – e por conta dos sólidos fundamentos macroeconômicos”, explica Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“A economia brasileira está bem-protegida contra uma eventual crise internacional”, concorda Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, lembrando que o País dispunha de reservas superiores a US$ 174 bilhões no final de outubro.
Cálculos da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) estimam que o Brasil deve encerrar o próximo ano com reservas internacionais superiores a US$ 200 bilhões.
As projeções dos analistas independentes são corroboradas por avaliações feitas por órgãos oficiais, como as divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em meados de dezembro. De acordo com o órgão, o crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2007 foi de 5,7% em relação a igual período do ano anterior. As projeções do IBGE reforçam as expectativas do Ministério da Fazenda. “Encerraremos o ano de 2007 com um crescimento de 5% e esse crescimento equilibrado, com bases sólidas e inflação sob controle, nos dá todas as condições de crescer mais em 2008”, analisa o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“O aumento do crédito, a boa saúde das empresas, a inflação sob controle, a redução do déficit e da dívida pública e, principalmente, a expansão do investimento indicam que a tendência é a manutenção de um crescimento econômico robusto”, avalia o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, as perspectivas da economia para 2008 são muito boas, “talvez as melhores das últimas três décadas”.
No próximo ano, segundo ele, será preciso avançar nas obras de infra-estrutura (portos, aeroportos, rodovias, energia etc.), fundamentais para apoiar o crescimento; continuar o processo de redução dos juros, o que permitirá diminuir o custo dos investimentos; trabalhar para aprovar a reforma tributária no Congresso Nacional, para criar um regime mais moderno e menos punitivo sobre a produção e, portanto, sobre o consumo; e, além de tudo isso, perseverar na luta contra a inflação, “para que os trabalhadores não sejam punidos com o mais injusto de todos os impostos”, lembra. “Precisaremos crescer 5% e criar mais de 2 milhões de empregos – e esses objetivos são possíveis”, afirma o ministro.
Apesar da CPMF
E nem mesmo a rejeição, pelo Senado, da emenda constitucional que prorrogava a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em dezembro – uma ducha de água fria num ambiente de tantas notícias positivas – foi capaz de alterar o tom positivo das projeções de economistas e analistas. Em primeiro lugar, porque o governo dispõe de recursos para compensar a perda de arrecadação prevista, da ordem de R$ 40 bilhões.
Os cofres públicos também estão mais cheios. Resultado do aquecimento da economia, a arrecadação vem batendo sucessivos recordes. De janeiro a outubro de 2007, a arrecadação da Receita Federal somou R$ 484,74 bilhões, 14,04% acima dos R$ 425,06 bilhões colhidos em igual período do ano anterior. O ganho de arrecadação, a propósito, da ordem de R$ 59,68 milhões, é 50% superior ao total que seria recolhido com a CPMF.
Finalmente, o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratou de tranqüilizar o mercado: “Em nenhum momento vamos mexer na equação fiscal do País. O governo vai manter a política de responsabilidade fiscal”, disse ele, imediatamente após a rejeição da prorrogação da CPMF. O recado foi entendido pelo mercado.
“A derrota do governo não enfraquece a posição da nota soberana brasileira, dado o sólido avanço nas contas externas”, registrou a agência internacional de classificação de risco Fitch. Como ela, a maior parte das agências de rating aposta na elevação da nota de risco do Brasil a grau de investimento (investment grade), abrindo caminho para a redução da taxa de juros e para atrair novos investimentos diretos.
Energia garantida
A safra de boas-novas dos últimos meses foi reforçada em novembro de 2007 por uma das mais promissoras notícias dos últimos tempos para a economia brasileira: o anúncio da descoberta de uma enorme província petrolífera, que se estende pelas bacias do Espírito Santo, Campos e Santos.
Os testes realizados pela Petrobras nesse megacampo, provisoriamente denominado Tupi, indicam um volume recuperável de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de óleo e gás natural – o equivalente à metade de todo o petróleo descoberto pelo País nos últimos 50 anos.
A nova área petrolífera poderá aumentar em mais de 50% as atuais reservas de petróleo e gás do Brasil, que somam hoje 14 bilhões
de barris.
Por estar situado em horizontes mais profundos e em rochas denominadas pré-sal, entre 5 mil e 7 mil metros de profundidade (como medida de comparação, o Monte Everest tem 8.844 metros), o megapoço deverá entrar em operação a partir de 2010, assegurando energia para sustentar o crescimento econômico nos próximos anos.
Bases sólidas
Um dos segmentos econômicos de maior potencial de crescimento em 2008 é o da construção civil, que vive uma fase de explosão de lançamentos. O mercado imobiliário está sendo impulsionado pelo aumento de renda das classes menos favorecidas e da classe média, e pela maior capitalização das empresas do setor, que estão recorrendo à abertura de capital para ganhar mais fôlego financeiro – em 2007, 14 empresas lançaram ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
De acordo com projeções da construtora Cyrela, a maior empresa do mercado, o número de novos lançamentos em 2008 deve movimentar cerca de R$ 50 bilhões, 40% acima do total registrado em 2007.
O espaço para crescer é enorme. Basta lembrar que os financiamentos imobiliários no Brasil representam apenas 2% do PIB, relação que chega a atingir 12% em países como o México. Com a queda das taxas de juros e a maior concessão de financiamentos por parte do sistema bancário, a participação do Brasil pode chegar a 15% dentro de cinco anos.
A desenvoltura da construção civil – setor de grande importância econômica por ser um dos principais geradores de mão-de-obra – pode ser avaliada pela carência de profissionais qualificados para atender à demanda: no final de 2007, as construtoras tinham dificuldade para contratar engenheiros civis.
Agricultura
O campo, de sua parte, continua produzindo boas notícias para o País. Um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta, o Brasil segue colhendo safras recordes. A produção de grãos no Brasil, na safra 2007/08, que começa a ser colhida em março, deve atingir o recorde de 135,5 milhões de toneladas, um acréscimo de 2,9% (3,8 milhões de toneladas) sobre a produção obtida na safra 2006/07, de acordo com o levantamento realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A principal razão para o novo recorde é o ganho de produtividade dos agricultores brasileiros, que estão produzindo mais grãos por área plantada. Basta observar que a área de plantio manteve-se praticamente inalterada, passando dos 46,2 milhões de hectares, na safra 2006/07, para 46,8 milhões de hectares.
A maior oferta de alimentos não apenas contribui para arrefecer o custo de vida dos brasileiros, como ainda concorre para o ingresso de divisas em moeda forte para o País. De acordo com projeções da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as exportações do agronegócio brasileiro devem saltar dos US$ 56 bilhões a US$ 57 bilhões, registrados em 2007, para mais de US$ 60 bilhões, em 2008.
“Do ponto de vista macroeconômico, as perspectivas são excelentes. O momento é perfeito para desamarrar os diversos nós que comprometem a rentabilidade dos produtores”, diz Ricardo Cota, superintendente técnico da CNA, citando a concentração dos mercados de defensivos e fertilizantes e a precariedade do sistema de infra-estrutura.
Talvez o melhor indicador de horizontes mais promissores em 2008 seja o nível de confiança do empresariado. Otimistas com o crescimento do consumo interno, 58% das indústrias brasileiras pretendem ampliar seus investimentos em 2008, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Cerca de 42% das companhias planejam aumentar as compras de máquinas e equipamentos no próximo ano e também investir na melhoria da qualidade e no lançamento de produtos. Tais investimentos devem se traduzir em novos empregos e realimentar o processo de aquecimento da economia ao longo de 2008 – um ano que se desenha promissor.l
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