40 anos da morte de Pablo Neruda

Há quarenta anos, no dia 23 de setembro de 1973, morria o poeta chileno, Pablo Neruda. Ele faleceu na Clínica Santa Maria, em Santiago, alguns dias depois do general Augusto Pinochet bombardear o Palácio La Moneda e inaugurar os 17 anos de ditadura no país. Ele havia sido internado com câncer de próstata, mas a causa de sua morte é polêmica.

Em março deste ano, seu corpo foi exumado por conta da suspeita de que o poeta teria sido envenenado por ordens de Pinochet e não morrido de câncer. A denúncia foi feita pelo motorista e secretário de Neruda, Manuel Araya. Para ele, o poeta foi envenenado no hospital, um dia antes de partir para o exílio no México. Ele contou que, apesar de ter sido diagnosticado com câncer de próstata, Neruda não estava à beira da morte.

A Brasileiros publicou, em sua edição 70, de junho deste ano, a Crônica de um assassinato presumido. Uma matéria sobre a exumação de Pablo Neruda. Confira.

Neruda é conhecido por sua militância no Partido Comunista. Em 1945 ele se tornou senador pelas províncias nortenhas de Tarapacá e Antofagasta, mesma ocasião em que conheceu Salvador Allende. Também foi cônsul na Birmânia, em Singapura, no México e na Espanha. Além disso, ele era o pré-candidato do Partido Comunista às eleições de 1970, mas não concorreu ao cargo para apoiar Allende. Mais tarde, em 1971, o presidente o nomeou embaixador da França. 

Para muitos, Neruda é o maior poeta latino do século XX. Suas obras mais românticas incluem 20 Poemas de Amor y una Canción Desesperada e os Versos del Capitán. Já, dentre as de cunho político destacam-se Residência na Terra, España en el corazón (inspirado na Guerra Civil Espanhola) e Canto Geral. Nesse domingo, em cerimônia para marcar os 40 anos da morte do Prêmio Nobel de Literatura de 1971, um dos sobrinhos do poeta afirmou que “Neruda ainda tem muito a oferecer e continuamos a apreender com ele”.

Leia abaixo o poema Tenho fome da tua boca:

Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,
e ando pelas ruas sem comer, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.

Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amêndoa.

Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas

e faminto venho e vou farejando o crepúsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratue.

Versão original, em espanhol: Tengo hambre de tu boca

Tengo hambre de tu boca, de tu voz, de tu pelo
y por las calles voy sin nutrirme, callado,
no me sostiene el pan, el alba me desquicia,
busco el sonido líquido de tus pies en el día.

Estoy hambriento de tu risa resbalada,
de tus manos color de furioso granero,
tengo hambre de la pálida piedra de tus uñas,
quiero comer tu piel como una intacta almendra.

Quiero comer el rayo quemado en tu hermosura,
la nariz soberana del arrogante rostro,
quiero comer la sombra fugaz de tus pestañas

y hambriento vengo y voy olfateando el crepúsculo
buscándote, buscando tu corazón caliente
como un puma en la soledad de Quitratúe.


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