70 vezes Gil

Fotos Luiza Sigulem

São 70 anos de vida, 50 de carreira e uma história que se mistura com a formação da cultura musical brasileira. Mais do que um ícone artístico, o baiano Gilberto Gil se tornou fonte de inspiração e admiração para a sua e outras gerações do País. Reunindo influências que vão dos estrangeiros Beatles e Bob Dylan aos brasileiríssimos Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, Gil liderou – ao lado do amigo e conterrâneo Caetano Veloso – a crista da onda da Tropicália, movimento que agitou e redefiniu os rumos culturais do Brasil contemporâneo.

Após lotar o Theatro Municipal do Rio de Janeiro em um elogiado show comemorativo em junho, mês de seu aniversário, o artista ganhou neste final de ano mais uma homenagem por sua contribuição histórica à música e à cultura brasileiras. Sediada no Itaú Cultural, em São Paulo, a exposição GIL70 foi inaugurada na capital paulista na noite de ontem, dia 11, depois de uma aclamada temporada carioca que movimentou o Centro Cultural Correios, no Rio.

Com curadoria do poeta e designer gráfico André Vallias, a mostra reúne 24 obras de arte que tem como inspiração as músicas de Gilberto Gil. Entre os 28 artistas que participam de GIL70 estão nomes como Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Luiz Zerbini, Augusto de Campos e Ivan Cardoso.

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“O critério foram as afinidades eletivas, pessoas que tinham uma ligação com o Gil, que colaboraram com ele em algum momento e que já tinham uma certa intimidade no trato. É um grupo de amigos que se reúnem pra fazer uma homenagem, entre tantas outras que seriam possíveis”, explica Vallias, que concebeu e idealizou o projeto GIL70, iniciativa aprovada pelo próprio homenageado. “Pela repercussão que teve nele, mostra que é uma escolha representativa. São pessoas que dizem alguma coisa”.

Criador do site do músico, Vallias viu na exposição a oportunidade de reunir obras interativas e focadas no dinamismo dos formatos audiovisuais. “Você tem um grande caleidoscópio do Gil, e era a única maneira que eu via de fazer alguma coisa que fosse representativa, que espelhassem um pouco a diversidade da obra dele, a diversidade dos interesses dele e a diversidade dos diálogos que ele abre”, explica.

Com presença do prefeito eleito Fernando Haddad, da ministra da Cultura Marta Suplicy, da presidente do Itaú Cultural Milú Vilela e do próprio Gilberto Gil, a edição paulista da exposição foi oficialmente aberta com discursos no auditório do local. “Não sei se o Gil já é cidadão paulistano, mas se não for eu vou providenciar para que seja”, falou Haddad, arrancando aplausos da plateia. Último a discursar, Gil agradeceu as homenagens: “A festa de aniversário é feita pelos outros. Vocês é que estão me dando esse presente”,  falou antes de receber um violão da produção e tocar “Eu vim da Bahia”.

Marta enalteceu o trabalho de Gil como artista e como ministro na pasta que ocupa hoje, destacando sua atuação no cargo durante o governo Lula. “Vim homenageá-lo, porque o Gil foi um grande ministro da cultura, deixou um trabalho com uma enorme capilaridade, inovador, e agora os 70 anos dele, que são comemorados com a abertura dessa exposição. Eu não poderia deixar de estar aqui para aplaudi-lo”, declarou em entrevista à Brasileiros.

Filho do músico Edgard Scandurra, outro nome de peso da música brasileira, o artista plástico Daniel Scandurra é um dos convidados que participa da GIL70. Criada em parceria com os amigos Ariane Softi, Gregorio Gananian e Gabriel Kerhart, a instalação “essa é pra tocar” permite que os visitantes interajam com a obra mesclando vídeos e áudios do músico baiano. “O Gil é uma referencia desde que eu me lembro de curtir música e de ter meus próprios discos. A gente tomou o trabalho dele como matéria prima pra pensar em alguma coisa que chegasse aos pés da importância dele, não só dentro da música, mas de uma forma interdisciplinar. Então montamos uma estrutura hipertextual em que as pessoas interagem, disparam áudio e vídeo e fazem a montagem ao vivo, e com isso podem ser os criadores da obra também”, explica ele.

Para Haddad, Gil é “um ícone da cultura e da política brasileira”. O prefeito também relembrou o passado do músico, que ao lado de Caetano e de outros artistas foi exilado pela ditadura militar e teve que deixar o País. “Gil é uma pessoa que nunca se furtou a emitir opiniões importantes a favor da radicalização da democracia, da democratização do acesso aos bens culturais, enfim, uma pessoa que sempre esteve do lado certo, promovendo liberdade, a criatividade, a generosidade”, continuou. “É uma figura imprescindível em todo o canto do Brasil e talvez uma das expressões mais genuínas do ser brasileiro.”

Cercado por organizadores e admiradores, Gil passeou por algumas das obras da instalação. Atencioso, atendeu a Brasileiros e falou sobre o segredo de, aos 70 anos, continuar sendo um dos artistas mais influentes e queridos do Brasil. “Fica claro que viver é bom, ainda mais assim, quando você pode ter a proximidade dos amigos e dos admiradores”, confessou em seu jeito tranquilo, como se ainda não se desse conta da magnitude que seu trabalho representa para a música nacional. “Tudo o que a gente precisa na vida é isso: gente ao nosso lado.”

GIL70

De 12 de dezembro 2012 a 17 de fevereiro de 2013
De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h
Sábs. doms. e feriados, das 11h às 20h
Entrada franca

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1776/1777
www.itaucultural.org.br


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