A Bienal do Novo

Depois da “Bienal do Vazio”, realizada em 2008 e marcada pela ausência de obras em um pavilhão do prédio da Fundação Bienal, a instituição, comandada desde 2009 por Heitor Martins, deu a volta por cima e realizou uma vigorosa 29a edição em 2010, celebrada por crítica e público, com o tema Arte e Política e curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias.

Tudo parecia correr bem até que, no início deste ano, um imbróglio envolvendo dívidas públicas da instituição (um montante de mais de R$ 75 milhões, acumulados entre 1999 e 2006) ameaçou a realização da 30a edição da mostra internacional de artes, considerada a segunda mais importante do mundo (atrás apenas da centenária Bienal de Veneza, na Itália). Foram quatro meses de uma aflitiva novela, que poderia legar um triste fim à edição que marca os 60 anos da Fundação Bienal. Em medida emergencial, o Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Instituto Tomie Ohtake chegaram a ser proponentes da realização da mostra, mas, em 23 de março, o Tribunal Regional Federal (TRF) liberou as contas da instituição e devolveu à fundação o direito de realizar o evento.

Em entrevista à Brasileiros, dias antes da abertura, Heitor Martins falou sobre as dificuldades superadas: “A instituição tem 60 anos de tradição, atravessou o período militar, mudanças de governos, hiperinflação, a crise dos anos 1980. A resiliência e a capacidade da Bienal de se reinventar é muito forte. A Bienal faz parte da cultura brasileira, do imaginário paulistano, e a sociedade quer uma Bienal forte. Toda vez que essas crises testam a Bienal, a sociedade abraça a instituição e a empurra para frente. Acho que essa vai ser uma Bienal mais sensível, que retoma discussões sobre a estética, sobre os processos de criação, mais voltada para o fazer artístico”, defende Martins.

Com curadoria do venezuelano Luis Pérez-Oramas, a 30a edição defenderá o tema A Iminência das Poéticas. Na ocasião do anúncio oficial da mostra, no final de abril, Pérez-Oramas elucidou o conceito que norteia os trabalhos dos 111 participantes desta Bienal, entre eles 23 artistas brasileiros: “A iminência é nosso destino. É aquilo que acontecerá e não sabemos. A poética é nossa arma, e a arte é a arma não violenta, fundamental para que o mundo mude”.

Se a 28a edição foi marcada pelo vazio e sua sucessora, impulsionada pela discussão das intersecções entre arte e política, reiterou a importância da mostra, a 30a edição será arejada pelo novo, como enfatiza Martins: “Teremos um recorde de obras inéditas, 70% dos artistas estão trazendo trabalhos que nunca foram expostos. Boa parte deles feita especialmente para esta edição da Bienal. Algo muito importante para garantir a vitalidade da mostra”.

A Bienal, que abre em 7 de setembro e seguirá até o dia 9 de dezembro, tem entrada gratuita e oferece mais de uma centena de eventos paralelos, além da importante atuação do núcleo educativo, dirigido por Stela Barbieri, que deverá formar 20 mil professores das redes pública e privada e pretende receber 200 mil alunos.

 


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