Os portões foram abertos exatamente às 8 da manhã. Às 3 e meia daquele domingo, 30 de julho de 1930, o estádio Centenário, construído especialmente para a primeira Copa do Mundo e em homenagem aos 100 anos da independência do Uruguai estava com apenas 7 mil torcedores a menos que a sua lotação total, de 100 mil.
Tudo pronto para o início do espetáculo. Argentina e Uruguai estavam em campo. Mas o juiz John Langenus, da Bélgica, não trilava o apito, como se dizia então.
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Àquela altura, os dois times ainda discutiam que bola usar. O Uruguai não abria mão da sua, mais pesada; os argentinos batiam pé na deles, mais leve. A querela foi arbitrada pela Fifa. Salomonicamente, as duas bolas foram adotadas. O primeiro tempo, com a bola argentina, acabou em 2 a 1 para os donos da bola, gols de Peucelle e Stábile e Dorado para o Uruguai.
O segundo, com a bola uruguaia, foi vencido pelo Uruguai por 3 a 0, gols de Cea, Inarte e Castro. Resultado final, 4 a 2 para a seleção da casa. O Uruguai recebeu a taça das mãos de Jules Rimet que seria, vinte anos depois, nome do troféu. No dia seguinte, foi feriado nacional no Uruguai. Na Argentina, houve quebra-quebra.
Por aí se vê a importância da bola em um jogo de futebol. A bola é mais importante que tudo o mais. Você pode jogar bola sem chuteira. Você pode jogar bola sem uniforme. Você pode jogar bola sem campo de futebol. Mas você não pode jogar bola sem a bola.
As bolas ainda não tinham nome, nem grife em 1930. Nem eram tão redondas assim.
Corra, Adolf, corra A Adidas havia sido fundada há 10 anos na Alemanha, mas não se ocupava com bolas e sim com sapatos de corrida, especialidade na qual o fundador Adolf Dassler era mestre. A Adidas fez sua primeira bola somente em 1963. Era do tipo capotão, marrom e pesada, chutá-la era como chutar uma pedra. Eu, como outros moleques de 13 anos dessa época, não dava conta de chutar nela. Ou pegá-la como goleiro. Machucava demais. Três anos depois de entrar no mercado, a empresa sacou que ter a bola oficial da Copa seria uma grande jogada publicitária. Empenhou-se para conceber uma bola inédita, de 32 gomos, mas não adiantou: a Fifa escolheu uma bola inglesa em 1966, Copa da Inglaterra. By appointment of your majesty... A primeira vez da Adidas foi em 1970, quando o Brasil estufou as redes no México com a Telstar, bola de 32 gomos costurados à mão. Foi considerada a bola mais redonda da época. E também a primeira bola de futebol branca, com losangos pretos, para ser mais visível, foi a primeira Copa com TV. Telstar queria dizer estrela da televisão. Foi a "pá de cal" na bola marrom. Como a Adidas conseguiu o feito? Sendo a primeira grande patrocinadora da entidade. Eram outros tempos, não havia cofres abarrotados como hoje. E isso a Fifa não esqueceu jamais, ela costuma ser fiel a seus parceiros, dizem os que a conhecem. O efeito Madonna Nem esses, no entanto, sabem ao certo se há concorrência ou não para escolher a bola da Copa. "Parece que há", arrisca o jornalista Orlando Duarte. O fato é que ela fornece as bolas desde que virou patrocinadora da Fifa. Como o é até hoje. A Nike, que é norte-americana e a primeira do mundo em material esportivo (Adidas é a segunda), não tinha muito a ver com bolas de futebol nos anos 1960, assim como os norte-americanos. Agora, a Nike também está nesse mercado milionário das bolas. E pretende, é claro, um dia desbancar a Adidas. Mas, como será isso e quando, ninguém sabe. A Telstar serviu de modelo para todas as bolas modernas. E foi usada em 1974, igualzinha, sem tirar nem pôr. Em 1978 foi criada a bola Tango, para a Copa da Argentina. As bolas das Copas seguintes - Espanha, México, Itália, Estados Unidos e França - basearam-se na Tango. Os anos 1990 foram turbulentos para a dona da bola. O presidente da empresa, Bernard Tapie, contraiu grandes empréstimos ao mudar a produção para o Paquistão e contratar Madonna como garota-propaganda. Em 1992, Tapie não teve como pagar os juros do empréstimo. Contratou o Banco Crédit Lyonnais para vender a Adidas, mas o banco deu uma de "Miguel" e comprou para si mesmo, o que é normalmente proibido pelas leis francesas. Aparentemente, o banco estatal tentou fazer um favor a Tapie, tentando livrá-lo dos problemas, já que ele era ministro de Assuntos Urbanos (Ministre de la Ville) da França. Mais para frente, Tapie processou o banco, porque se sentiu prejudicado na transação. Em fevereiro de 1993, o Crédit Lyonnais vendeu a Adidas para Robert Louis-Dreyfus, um amigo de Bernard Tapie que se tornou o novo presidente da empresa. Era também presidente do Olympique, de Marselha, ao qual Tapie era intimamente ligado. Tapie foi à falência em 1994. Ele foi alvo de vários processos, principalmente relacionados à manipulação de resultados no clube de futebol que dirigiu. Passou seis meses na prisão La Santé, em Paris, em 1997, depois de ter sido sentenciado a 18 anos. E o vento levou Em 1998, a Adidas lançou a primeira bola multicolorida, desenhada para a Copa da França, de 1998, chamada Tricolore. De péssima memória para os brasileiros. Robert Louis-Dreyfus foi muito bem-sucedido administrando a empresa até 2001. Em 2002, o Brasil ganhou a Copa da Coreia com a Favernova. Para a Copa de 2006, na Alemanha, a empresa lançou "a melhor bola de futebol de todos os tempos", a +Teamgeist (Espírito de Equipe). Mas o Brasil não mandou para lá o melhor time de todos os tempos. Muito menos o espírito de equipe. Nunca uma bola da Copa foi tão criticada como a Jabulani, da África do Sul. Não faltaram insinuações de que os críticos eram jogadores patrocinados pela Nike, e os patrocinados pela Adidas foram só elogios. Bobagem. Esperar que o atleta elogie sua própria marca é perfeitamente razoável. Mas alguém atacar a marca rival sem fundamento parece fora de propósito, em se tratando de estrelas da bola que tem, acima de tudo, um nome a zelar. Não seria por sugestão ou pressão da Nike que o goleiro Júlio César taxaria a bola de horrorosa e produto "de supermercado". Nem Luís Fabiano diria que ela vai para onde quer. Atletas de outros países também reclamaram dela. Há um fato: é uma bola mais leve, com perto de meio quilo de peso. Não chega a ser uma pluma que o vento vai levando pelo ar. Mas, como toda bola mais leve, seja ela de vôlei, seja uma bexiga de ar ela oferece menos resistência ao vento, que dita a sua direção com mais força que em bolas mais pesadas. Costureiros do Paquistão De qualquer maneira, chamar de bola de supermercado a um produto que custa no Brasil a bagatela de 400 reais - e não está em nenhum supermercado - beira as raias do exagero. Se é boa ou não, para chutar ou para agarrar, só os atletas podem mostrar em campo. Mas ela é uma exceção, uma vedete entre as bolas. A produção de bolas de futebol, neste ano de Copa, poderá chegar a 85 milhões. Mais de 60 milhões delas são costuradas à mão pelos trabalhadores do Paquistão (a Jabulani é colada eletronicamente). Eles fornecem para a Adidas e para a Nike, não importa. Um dia foi trabalho de crianças. Mas a Nike chiou, rompeu contratos com tais empresas. O costureiro ganha meio dólar por bola, e consegue fazer seis bolas por dia. Para cada bola, são 20 retalhos hexagonais e 12 pentágonos de couro sintético, além da câmara e da linha que são fornecidos por companhias paquistanesas, como a Forward Sports. Ela vende as bolas para a Adidas por 5 a 10 euros por bola. Nas lojas da Europa, a bola sai por 100 euros.APITO AMIGO, CONTE COMIGO | ||
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