Descobri que havia uma epidemia de gripe horas antes do anúncio oficial porque fui a uma clínica pública, onde cuido de um dos meus velhos padecimentos. Ali, me disseram que a infectologista do turno estava em uma força-tarefa: “Foi atender casos atípicos de influenza (gripe); parece que existe uma epidemia no DF (a região do País onde está situada a Cidade do México)”.
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Fiquei pensando que não era temporada de gripe. Mais tarde, li em um portal de internet que um surto de influenza porcina já havia causado vinte mortes e que as aulas estavam suspensas pelas autoridades para evitar uma taxa de contágio maior.
Na sexta-feira (24), cheguei ao meu escritório e a redação estava quase vazia. Meus chefe pediram que eu fosse embora se não tivesse trabalhos pendentes. Começaram as recomendações na televisão, rádio e internet: “Não vá a locais muito cheios; lave as mãos; use máscaras; ao menor sintoma vá à sua clinica de saúde…”
E também a desinformação: “É um vírus novo e a vacina não serve contra ele; sim, há vacina, mas o governo não quer gastar comprando-a: é novo, mas é suscetível a antivirais como o Tamiflu; é novo e muito contagioso; é uma manobra do governo para desviar a atenção das eleições; não estão nos dizendo tudo, está morrendo muita gente; estão exagerando para gerar pânico, só morreram duas pessoas…”
Como recomendou o governo do Distrito Federal, fiquei em casa. Daqui poderia trabalhar sem me expor ao contágio, pois, como outros cinco milhões de pessoas nesta cidade, uso o metrô para chegar à agência.
Abri as janelas para ventilar e entrar sol, medidas sugeridas pela Secretaria da Saúde. Só saí para comprar máscaras, mas elas já tinham se esgotado na farmácia do meu bairro. Também os antigripais. Agora, soldados e policiais estão dando máscaras aos motoristas nas esquinas na cidade.
Até o momento nenhuma autoridade médica sabe como chegou à capital do México esse vírus que tem componentes aviários, suínos e humanos. Ninguém sabe, tampouco, quando vamos normalizar as nossas atividades; a previsão do governo é que talvez isso aconteça em 6 de maio. Talvez. Com 22 milhões de pessoas vivendo em área metropolitana, é difícil predizer como irá se comportar a epidemia.
No final de semana passado, a cidade parecia abandonada. Todos (ou quase) usamos as máscaras, ainda que ninguém tenha comprovado que funcione. Há medo nas pessoas e muitas dúvidas médicas – quais são os sintomas?, é curável ou não?, por que é mortal? – que a mídia e o governo tentam aclarar, mas muito lentamente. Todos nos perguntávamos se o Distrito Federal pararia completamente se o contágio e o número de mortos não cedesse.
Minha mãe e minha sobrinha menor foram para uma cidade na costa com boa parte da minha familia, que decidiu fugir depois do terremoto (na segunda-feira, dia 27) que foi sentido na cidade (outro dos medos mais arraigados entre os chilangos (los chilangos é um apelido dado aos nascidos na Cidade do México).
* Roberto Marmolejo Guarnero é jornalista especializado em Ciência e Saúde e mora na Cidade do México
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