A poesia não vem de hoje. Mas só agora se sentiu madura para expor seu trabalho no campo reduzido do poema, em que cada palavra conta muito mais do que em um romance. Parte da Paisagem foi escrito nos últimos dois anos. Como ela explica, é um livro que parte da preocupação algo abstrata com o valor da palavra e vai abrindo para um panorama (paisagem) muito mais amplo, que inclui a morte recente da mãe, fato profundamente sentido pela autora e que marca, com aquele que talvez seja seu melhor poema, o final do livro.
A seguir, a simpática e estimulante conversa que tivemos por Skype.
Brasileiros – Como surge a poesia num momento em que você é bastante reconhecida como romancista?
Adriana Lisboa – A poesia é anterior à prosa na minha vida. Passei a adolescência inteira escrevendo poemas e acho que isso influenciou os meus romances e narrativas mais curtas, não apenas tematicamente, com a presença do Manuel Bandeira em Um Beijo de Colombina, de 2003, e do Bashô, em Rakushisa, de 2007, mas acho que também em nível da construção do próprio texto. O poeta tem um trabalho muito minimalista, olha muito para o peso de cada palavra, para o ritmo das frases. Acho que uso um pouco essa técnica na minha escrita de prosa, embora eu saiba que não dá para escrever prosa como poesia, mas como sou uma pessoa só, alguma coisa fica. Estava faltando coragem de dar a cara a tapa e publicar poesia. Eu tenho muito mais dificuldade em avaliar minha poesia do que a prosa. Mas chegou um momento que achei que tinha um conjunto de coisas mais ou menos maduras dentro daquilo que eu tinha condições de fazer e mostrei para algumas pessoas que foram super favoráveis, como o Samuel Leon, da Iluminuras, que gostou do trabalho e topou publicar.
Brasileiros – São poemas de diversas épocas que você foi juntando ou são mais recentes?
A.L. – Mais recentes. Parte da Paisagem não foi pensado como livro inicialmente, mas eu peguei uns poemas dos últimos dois anos, porque acho que eles têm uma unidade temática e estilística maior e funcionavam como livro. Uma vez reunidos, retrabalhei vários deles para dar ainda mais coesão e unidade.
Brasileiros – E qual seria essa unidade? De cara, me passa pela cabeça a discussão sobre a palavra, da dificuldade em capturar um sentimento ou uma emoção.
A.L. – Sem dúvida. Os primeiros poemas falam da relação do poeta com a palavra, do escritor com a escrita. E o livro para mim é como se fosse uma abertura a partir desse foco, ele vai indo, depois fala de uma relação amorosa, depois abre um pouco mais e fala da relação em família, tem alguns poemas ali que escrevi pensando no meu filho, depois a amizade, depois uma coisa de observação do mundo… É como se o foco fosse se abrindo e terminasse no mundo. O livro estava pronto até o começo do ano e acabei acrescentando alguns poemas. No mês passado, perdi minha mãe. Foi a primeira vez que perdi alguém muito importante na vida… É claro que isso me fez revisar uma série de coisas. Escrevi um poema para ela naquela época e ele fecha o livro (ver quadro na página seguinte). É como se o livro fosse mesmo uma viagem do micro para o macro, da palavra para o mundo, e eu terminei com esse poema para ela.
Poema inédito, que encerra o primeiro livro de poesia de Adriana, PARTE DA PAISAGEM, com lançamento previsto para maio, pela editora Iluminuras
Mãe
Sem você é como se a casa
se insubordinasse –
ninguém ajeitou o pano da pia
nem as almofadas do sofá,
e aqueles frascos
estão disseminados sobre a cômoda
feito personagens tímidos
numa festa onde não conhecem ninguém.
Quando mais cedo você
segurou a minha mão
nas suas mãos machucadas
e me fez a pergunta à qual respondi
que sim
(será que eu vou ficar boa?)
estreávamos um outro tempo,
eu sei:
um tempo em que talvez já não importem
o pano da pia
nem as almofadas do sofá.
Mas que outra disciplina conhecemos?
Que outra fórmula
para o que nos desvestiu das fórmulas?
Então vou lá e ajeito
o pano da pia
e as almofadas do sofá,
por nada,
por acaso,
por amor.
Brasileiros – Agora falando dos romances, algumas poucas críticas mencionaram uma certa falta de espontaneidade em seus primeiros livros, sugerindo que são muito pensados, muito ligados à forma. Como você vê isso?
A.L. – Claro, tem pessoas que acham que esse é um ponto fraco da minha obra e outras que acham que é um ponto forte. Olhando para as coisas mais antigas, hoje não escreveria da mesma forma, eu faria uma escrita mais simples. O Hanói é um livro muito mais despojado nesse sentido. Estou trabalhando em um novo romance agora, que espero publicar no ano que vem, e acho que essa perseguição da simplicidade, de uma coisa realmente mais direta, mais espontânea, é algo que eu venho buscando conscientemente nos últimos anos. Mas, por exemplo, o Sinfonia em Branco, meu segundo romance, de 2001, é um livro muito pensado, mas para muitas pessoas é o meu melhor livro, justamente por causa desse trabalho de texto. Então, tem um lado meu que concorda com a crítica e tem outro que diz: bom, todo crítico tem seus gostos e predileções, ele também é um leitor e uma pessoa antes de ser um crítico.
Brasileiros – Existe sempre um tipo de suspense nos seus livros. Você faz um planejamento das suas histórias?
A.L. – Não, planejo muito pouco o que escrevo. Meu modo de trabalhar é diferente de pessoas que eu conheço, de mil roteiros e que planejam todos os personagens antes de começar a escrever. Eu tenho as linhas gerais do que quero narrar e muitas coisas vão se completando no processo. Mas acho que o suspense é uma estratégia de todo contador de histórias que quer prender o interesse de quem está te ouvindo, não tem nada a ver com uma fórmula artificial, do tipo “Ah, todo romance deve ter um mistério, que vai se desvendando aos poucos”. É algo que eu faço quase que naturalmente. No caso do Sinfonia em Branco, sabia onde eu ia chegar e, como o livro funciona muito em flashbacks, idas e vindas temporais, as pistas vão sendo dadas no início e vão formando um círculo que vai se ampliando, até que você efetivamente chega ao momento em que é desvendado esse mistério. É uma estratégia narrativa bastante comum, muitos romancistas e contistas recorrem a ela.
Brasileiros – Imagino que à medida que vai escrevendo, você também queira se sentir enredada como leitora, se deixar levar pelo texto.
A.L. – Sim, conforme a gente vai trabalhando, o texto vai oferecendo suas próprias soluções e criando seus próprios problemas. Agora, com o romance novo, é curioso como os personagens mudam. Às vezes, eu pensava: “Ah, esse personagem vai ter tal profissão, vai ter tal idade”. De repente começava a ver que aquilo que eu tinha concebido originalmente já não combinava muito com os rumos que a história estava tomando e aí eu voltava lá trás para mudar uma coisa ou outra. Então, a história também diz por onde ela vai. Mesmo os temas, às vezes tenho a impressão de que não somos nós que escolhemos, são eles que escolhem a gente. Esse tema da morte, por exemplo, que sempre faz parte dos meus romances de um jeito ou de outro. Por quê? É uma coisa bem subjetiva. Eu não procuro falar sobre um tema ou outro, mas quando sento para escrever, são essas coisas que me ocorrem.
Brasileiros – Outro tema recorrente na sua obra são as viagens.
A.L. – É um pouco natural, porque sou muito influenciada pelo que vejo e presencio. Tem sete anos que moro fora do Brasil e claro que essa experiência é extremamente marcante na minha vida – e também as viagens que fiz a trabalho ou para pesquisa, como quando fui ao Japão para escrever o Rakushisha, ou para o próprio Vietnã, quando eu estava escrevendo o Hanói. Nos Estados Unidos, comecei a entrar em contato com imigrantes ilegais, que já é uma outra experiência, e aí num grau acima trabalhei com refugiados aqui durante algum tempo. Se no Rakushisha eu trabalhei a coisa da viagem mesmo, do casal que vai ao Japão, no Azul-corvo, de 2011, é mais uma história de imigrantes, legais e ilegais. No Hanói, incorporei um pouco essa experiência que tive com refugiados aqui. O curioso é que agora dei uma volta de 180 graus, porque o livro que estou escrevendo atualmente não tem nada a ver com isso, é 100% passado no Rio de Janeiro, que é minha cidade natal.
Brasileiros – Você pode falar um pouco sobre esse trabalho com refugiados?
A.L. – Eu não sabia até então, mas os Estados Unidos recebem mais refugiados do que todos os países do mundo somados. É uma população grande e por isso tem muitas ONGs que trabalham para situar essas pessoas na sociedade. Fui voluntária por um ano numa ONG que é uma das maiores do país, e meu trabalho era justamente fazer uma espécie de aclimatação cultural, embora não seja americana: ensinar como uma pessoa pega ônibus, como matricula a criança na escola, ajudar se precisa de um dentista, ajudar a ter um cartão na biblioteca… é um trabalho que te coloca em contato com uma experiência muito interessante, porque coisas que são óbvias para você, não necessariamente são óbvias para alguém que está chegando de uma cultura completamente diferente. Às vezes, você conhece pessoas que nunca viram uma geladeira, por exemplo, ou nunca tiveram luz elétrica. Acabei me interessando pela história da migração dos vietnamitas para os Estados Unidos depois da guerra, por causa dos filhos dos soldados americanos no Vietnã. Era uma história que eu não conhecia e a achei fascinante e perturbadora ao mesmo tempo, que coloquei no Hanói.
Brasileiros – A música parece ter um papel importante na sua obra.
A.L. – Me formei em flauta. Meu primeiro trabalho foi como musicista, como cantora de música brasileira, mas já tem um tempo que eu não trabalho mais com isso, mas a música é muito presente na minha vida e também é uma coisa que entra de um jeito ou de outro nos livros e entrou tematicamente no Hanói, que tem um personagem trompetista. Foi uma experiência boa, pois eu acabava ouvindo as músicas citadas várias vezes para entrar no clima dos personagens. Foi um livro bem musical mesmo, em que a música acompanhou a escrita. Tem várias músicas que aparecem nos outros livros também, Police, Caetano Veloso, Noel Rosa no Azul-corvo… Ontem mesmo, escrevendo o livro novo, surgiu Índigo Blue, aquela do Gil, que o personagem escuta. No Sinfonia em Branco tem música clássica, um personagem que canta música barroca e alguém que fala de Led Zeppelin. E no livro de poesia também, tem uma epígrafe do Radiohead e uma do Leonard Cohen, que eu adoro, acho a poesia dele fabulosa.
Brasileiros – A política também é frequente na sua obra, às vezes tangencialmente, às vezes tematicamente, como em Azul-corvo. Você é uma pessoa politizada?
A.L. – Não tive passado politizado, porque nasci em 1970, em plena ditadura, e como muita gente da minha geração, cresci num ambiente em que não se falava nada, era um assunto tabu mesmo. E aí eu acho que tem uma coisa da minha geração que é um olhar para trás, para recuperar uma história que foi nossa. É o que acontece nos meus livros, uma tentativa de reconquistar um passado que era meu. E é bem como você falou mesmo, em alguns livros a ditadura aparece meio tangencialmente, como no Sinfonia em Branco, em que as coisas que aconteciam em surdina dentro da família ecoam as coisas que aconteciam em surdina nos porões brasileiros. No caso do Azul-corvo, isso entra de forma bem mais intensa, através de um personagem que foi guerrilheiro, que lutou no Araguaia, se autoexila e nunca mais volta para o Brasil. Mas eu acho que esse assunto para mim também já esgotou. No livro que estou escrevendo agora, por exemplo, estou mais interessada na história dos bairros do Rio.
Brasileiros – Mas é um romance histórico?
A.L. – Não, é uma história narrada no presente, mas recuperando os eventos que aconteceram na vida dos personagens há 20, 25 anos. Mas como é uma narrativa muito diretamente ligada à cidade do Rio, então tem esse dado, assim, de em determinados momentos surgirem pequenas anedotas sobre a história da cidade.
Brasileiros – Aliás, uma característica forte do seu estilo, e muito evidente, é essa facilidade com que você passa de um tempo para o outro e de uma voz para outra.
A.L. – Acabou virando um traço meu mesmo, mas não foi algo intencional. No fundo, gosto desse movimento, que comparo com o movimento da memória. Fiz análise durante dez anos, é um processo em que a gente trabalha muito com a memória e você vê como ela é desorganizada, você não tem uma narrativa sequencial da sua vida, a memória vem de uma forma caótica e às vezes você se lembra de pequenos detalhes sem nem saber bem o porquê e de outras coisas mais relevantes você nem tem registro. É um ritmo que gosto de explorar ficcionalmente, ele oferece desafios, não é uma coisa simples, e à essa altura eu já estou até um pouco habituada a trabalhar dessa maneira.
Brasileiros – Você reescreve muito?
A.L. – Muito, muito mesmo. Reescrever é um trabalho até mais importante do que o primeiro movimento espontâneo, que vem da inspiração ou sei lá o que está por trás disso.
Brasileiros – E o que significa escrever na sua vida?
A.L. – É algo absolutamente visceral. É parte constituinte daquilo que sou e eu escreveria mesmo que não publicasse. Quando comecei a publicar, era quase que uma oficialização de uma coisa que faria parte da minha vida de qualquer maneira. Antes da minha mãe morrer, passei uma semana com ela no hospital, a gente era muito, muito ligada, e quando tive de voltar pra casa, a primeira coisa que fiz foi sentar e escrever, acho que é algo absolutamente fundamental para dar conta de mim mesma, sabe? Para eu conseguir conviver com as coisas, boas ou ruins, ou neutras, ou seja lá o que for. Mas não é que eu precise escrever necessariamente sobre mim, evito até um pouco fazer isso, eu não gosto muito de autoficção, procuro fugir dessa escrita muito autorreferencial. Fala-se muito dessa angústia do escritor, daquela coisa “decifra-me ou te devoro” da página em branco… Tenho uma posição um pouco ambivalente diante disso, acho que às vezes a gente romantiza muito a figura do escritor e o próprio escritor gosta de romantizar a sua condição. Escrevo porque em última análise é bom pra mim, é uma coisa que não faria se fosse um sofrimento e vejo determinados escritores dizendo “Ah, é um sofrimento”. Eu penso “Poxa, então vai fazer outra coisa, vai plantar couve-flor ou algo assim” (risos).
Brasileiros – Já que você tocou nesse assunto, você acompanha a literatura contemporânea brasileira?
A.L. – Eu procuro acompanhar, principalmente a poesia. Gosto muito de vários autores, Mariana Ianelli, Paulo Henriques Britto, Carlito Azevedo, Eucanaã Ferraz, Antônio Cícero, Cláudia Roquette-Pinto… E dos prosadores também. Mas tenho algumas ressalvas, porque às vezes esbarro em livros em que fica muito claro que o escritor está falando de si mesmo. Às vezes, gosto, às vezes não, dá uma certa preguiça desse tipo de narrativa que parece muito encantada consigo mesma. Mas tem escritores que eu adoro, o Luiz Ruffato, Milton Hatoum, Sérgio Sant’Anna, Bernardo Carvalho, Michel Laub, Rubens Figueiredo… O André de Leones e a Paloma Vidal, que são mais jovens. Mas eu fico sempre um pouco preocupada com essa hipertrofia da importância da figura do escritor. Tem muita gente fazendo sucesso internacionalmente, aparecendo como pop star e aí você vai ver, então tá, mas como é a literatura dessa pessoa? Que é o que conta em última análise, não é se a pessoa sai bem ou sai mal na foto. E aí muitas vezes eu esbarro nesse cacoete do umbigo, é minha única ressalva à produção de ficção contemporânea no Brasil.
Brasileiros – Você acha que as redes sociais podem ter um papel nisso tudo?
A.L. – Eu não sei se tenho autoridade para falar sobre isso, porque eu estaria entrando no ramo mais da antropologia, mas de fora, acho que é possível. A internet, primeiro com os blogs e depois com o Facebook e as redes sociais propiciam muito essa vida voltada para si mesmo. São tempos extremamente individualistas. Estou aqui em uma das culturas mais individualistas do mundo, e isso é uma dificuldade muito grande pra mim, de ver como as pessoas se protegem, se fecham em suas vidas. E as redes sociais dão o substrato perfeito para que esse individualismo seja exercido a plenos pulmões, por assim dizer. É uma compulsão em falar e uma dificuldade muito grande em ouvir. E quando se ouve, é sempre em um nível muito superficial.
Brasileiros – E como você, que ganhou prêmios importantes (além do Saramago, também o Moinho Santista, pelo conjunto da obra) e é traduzida para várias línguas, se relaciona com a exposição pública?
A.L. – Olha, esse lado público é bem mais forte nos últimos anos. O Brasil está na moda, toda feira literária homenageia o Brasil nos últimos anos: é Frankfurt, é Buenos Aires, é Paris, é Bogotá. E eu sempre penso: “Pô, mas de novo!” (risos). É um fenômeno muito louco de hiperexposição. Tenho uma dificuldade de me colocar aí porque, por um lado, sem querer ser piegas, acho que é como a música do Milton: “Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Participei de vários eventos que foram muito gratificantes para mim, de sentar com as pessoas, bater um papo, fazer uma leitura, responder umas perguntas. Isso faz parte da profissão. Só que tem esse outro lado, perigoso e horroroso da profissão, que é essa coisa do pop star. Lá na Feira de Frankfurt, por exemplo, no ano passado, eu fiquei doente. Cheguei lá e disse: “Cara, isso aqui é o inferno, o pior lugar do mundo!”. Tinha 70 autores brasileiros num hotel e não sei como o hotel não explodiu! Você chegava no café da manhã e via os grupos: aqui está fulano e fulana, ali está fulano que não fala com sicrano, e ali atrás está outro fulano que não fala com esse nem aquele… A sensação de mal-estar era tão grande que fiquei três dias de cama. Eu procuro encontrar um equilíbrio, saber o que é legal para mim e para o leitor e que tipo de troca é bacana, é legal para a profissão. Separar isso do que é só competição, de quem vende mais livros, de quem fala melhor, quem ganha mais programas de televisão, quem consegue matéria na capa.
Brasileiros – Você tem uma relação com o budismo ou é impressão minha?
A.L. – Sim, sou budista praticante. Era do zen budismo durante alguns anos, mas andei meio de mal com o zen, e passei a praticar o budismo mais tibetano. É muito difundido nos Estados Unidos, principalmente nessa região onde eu moro, em Boulder, que nos anos 1960 e 70 foi uma meca de hippies, os poetas da geração beat passaram por aqui e moraram aqui uma época e teve um professor budista muito louco, o Trungpa Rinpoche, que veio do Tibete para cá e fundou a primeira universidade budista dos Estados Unidos.
Brasileiros – O budismo te ajuda a escrever?
A.L. – O budismo ajuda tudo (risos). Cria certo distanciamento, uma relação menos egoica, menos autocentrada com o próprio texto e com a própria atividade da escrita. O budismo faz você olhar para tudo isso de um jeito meio irônico, te ajuda a não levar nada muito a sério.
Brasileiros – Fizemos, recentemente, um debate discutindo a crítica literária. Você lê as críticas de seus livros, lê críticos em geral? Acha que a crítica mudou de valor diante dos milhares de “críticos” na internet?
A.L. – Eu faço questão de não acompanhar a crítica. Acho que o crítico nunca é o dono da verdade, e eu falo isso um pouco por experiência própria, pois no mestrado comecei a escrever umas resenhas e depois parei, pois achava que eu não tinha distanciamento. Também acho que o papel da crítica mudou imensamente de valor, o que é positivo, porque antes era aquela mão superior que apontava e te dizia o que é para você ler e o que não é para você ler e, hoje em dia, você vai no Googlereads ou na própria Amazon, vê os comentários das pessoas e seleciona, é muito mais democrático. Se afinal de contas literatura é uma coisa que se faz para todo mundo, que todo mundo leia e compartilhe suas opiniões, pode não ser uma opinião especializada e acadêmica, mas os livros não são feitos para os acadêmicos e especialistas.
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