A pequena e distante cidade de Ibirataia, no interior da Bahia, localizada a mais 300 km de Salvador, é uma amostra de como a cultura pode brotar forte mesmo em ambientes onde parece pouco provável.
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Em meu primeiro dia no município, junto com a caravana do 10° Mercado Cultural, procurava a esmo uma banca de revistas para conhecer o jornal da região – como costumo fazer nos lugares por onde passo. Logo, descobri que não existiam bancas de revistas, tampouco jornal local. Nem cinema, teatro ou algo semelhante.
Não há o que se fazer por lá. As opções se limitam a rezar nas igrejas ou render-se ao arrocha, ritmo dançante muito popular na região. A música é tocada por todos os cantos da pequena cidade, em bares, praças e carros estacionados. Se para muitos parece o lugar perfeito para ‘não ir’, no caso de Ruy Cesar, diretor e idealizador do Mercado Cultural, é justamente o que procurava.
O Mercado Cultural andava muito bem, mas Ruy Cesar ainda assim estava incomodado com os impactos do evento para o cenário cultural local. “Tempo gasto, recursos humanos e materiais envolvidos, artistas escolhidos com muito rigor vem o Brasil, tocam uma vez no Mercado e vão embora, e o que fica disso?”, questiona.
A resposta o levou a “desconstruir o sucesso”, botar o pé na estrada, levando um bando de gente com ele. “Estava desesperado para seguir para algum outro lugar onde pudesse me deparar com o inusitado”.
A ideia também era aproveitar melhor esse momento anual do evento. “Queria mais tempo junto com os artistas e produtores, por isso criamos um processo de convivência que saísse do circuito viciado de grandes eventos em metrópoles e capitais”, explica o diretor do Mercado Cultural.
Segundo ele, o objetivo da caravana é fazer um movimento oposto à tendência mais comum. Ou seja, sair do centro e ir em direção às periferias. Primeiro, começaram – nos anos de 2005 e 2006, pelas periferias mais barra pesada de Salvador, depois começaram a expandir para o interior da Bahia. “Senti um impulso de ir para um lugar onde não tivesse nada”, conta.
A resposta em Ibirataia não poderia ser mais animadora. A cidade abriu as portas de suas casas e acolheu artistas, produtores, jornalistas e fotógrafos com festa, alegria e muita comida. Ficou evidente na maioria, sobretudo entre os jovens, a ânsia por uma infraestrutura que viabilize vida cultural. Segundo informou o prefeito Jorge Abdon, um projeto de uma casa de cultura está sendo elaborado e deve sair em 2011. “Já temos o prédio”, garantiu. Depois de uma pressionada ligeira, Abdon informou que a construção deve começar em março.
Após três dias de muito sol, música e festa, deixamos Ibirataia para seguir em frente com a caravana. Pelo caminho ainda tem muita estrada até passarmos por Dário Meira, Valentim e Vitória da Conquista. Na saída da cidade, um aplauso coletivo e um grito uníssono: “Viva Ibirataia!”.
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