Rosiana Lima Beltrão Siqueira administra milhões de reais e toneladas de carga que entram e saem do Porto de Maceió, em Alagoas. Desde maio de 2011, ela comanda o pelotão desse espaço de 570 mil m2 de área física, o equivalente a cem campos de futebol. Só para ter ideia: no ano passado, arrecadou R$ 15 milhões e movimentou mais de três milhões de toneladas em um único mês. Em quase um ano de gestão, ela diz que muita coisa já mudou. Mas Rosiana, 48 anos, tem ainda um desafio maior: desvincular o Porto de Maceió da Docas do Rio Grande do Norte, autoridade portuária de Alagoas. Vinculação que pode, por exemplo, autorizar saques no caixa de Maceió para pagar indenizações devidas pelo Rio Grande do Norte. Até outubro, ela deve encaminhar à presidente Dilma Rousseff o projeto de independência do porto. Enquanto isso, Rosiana comemora o enxugamento nos gastos e a chegada de novas empresas que devem gerar cerca de mil empregos diretos. A saber: o Porto de Maceió tem como carro-chefe a exportação de cana-de-açúcar.

Foto Ricardo Ledo

Antes de assumir o posto, Rosiana foi prefeita por duas gestões (2000-2004 e 2004-2008, pelo PMBD) do município alagoano Feliz Deserto, que ultrapassa com esforço a marca dos quatro mil habitantes. Ocupou cargos nos altos escalões de associações de prefeitos e participou dos bastidores da campanha de Dilma Rousseff. Sofreu um infarto aos 47 anos, possivelmente influenciado pelo estresse, mas não parou e foi indicada pela própria presidente para assumir o posto no porto.  Rosiana tem o perfil típico de uma workaholic, mas sempre com uma frase positiva para dizer: “Para fazer diferente, você tem de acreditar”. Ou ainda: “Se tem uma coisa que não pode envelhecer em uma mulher é o coração”. Gosta também de citar o grego Arquimedes, um dos principais cientistas da Antiguidade clássica: “Dê-me um ponto de apoio e eu moverei o mundo”.

Rosiana sempre usa a palavra “viver”, nunca sobreviver, quando fala da época em que seu pai, o eletricista de máquinas pesadas José Valério Sobrinho, hoje com 72 anos, sustentava a mulher e os nove filhos com apenas dois salários mínimos e meio. “Eu era de uma família privilegiada. Nunca vi meu pai desempregado e minha mãe sem comida para por na mesa”, diz ela, a mais velha da prole.

A mãe, Terezinha Valério, 71, ajudava no orçamento doméstico, vendendo doces. O maior trabalho dela, no entanto, era cuidar da casa e dos filhos. Rosiana admira o esforço da mãe. Mas a menina que nasceu em Cumaru, no agreste pernambucano, e se mudou aos 5 anos para Alagoas, queria mais. Queria ser executiva.

Começou a trabalhar aos 14 como professora primária das crianças que, assim como ela, moravam nas casas destinadas aos empregados de uma das usinas de cana-de-açúcar da região. “Foi ali que comecei a notar a minha liderança.” Saiu da casa dos pais ainda adolescente para estudar Ciências Contábeis em Maceió.

Mas entrou na política pelas mãos do marido (hoje ex), 22 anos mais velho que ela. De uma família de políticos, o fazendeiro do ramo da cana era o maior agropecuarista de Feliz Deserto, a cerca de 100 km de Maceió. Influente na região, foi convidado por empresários para se candidatar à prefeitura. Disse não, que não levava jeito. Mas a mulher, ela sim, era “jeitosa”. Assim, Rosiana virou prefeita de Feliz Deserto – desde 2008, a administração pública da cidade está a cargo de Maykon Beltrão Lima Siqueira, também do PMDB.

Logo, Rosiana mostrou sua liderança na região. Tornou-se presidente da Associação dos Municípios de Alagoas (AMA), do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Municípios e do Conselho Fiscal da Confederação Nacional dos Municípios. “Em 2003, Lula criou o Comitê de Articulação Federativa, para discutir os problemas nacionais. Tínhamos reuniões a cada dois meses com, no mínimo, oito ministros. E a reunião terminava no gabinete do presidente”, diz ela, com o orgulho de quem saiu da pequena Feliz Deserto para discutir os problemas do País. Dali à participação na campanha de Dilma Rousseff foi um pulo.

Dias antes da posse da presidente, em 27 de dezembro de 2010, Rosiana sofreu um infarto. Foram dez dias de hospitalização, três deles na UTI. Depois, férias forçadas de quatro meses. Por isso, ela lamenta não ter ido à posse da presidente e não ter usado o tailleur branco e preto com renda renascença, típica do Nordeste, comprado especialmente para a ocasião.

A pedido de Dilma, em 5 de maio de 2011, Rosiana, ainda em tratamento do infarto, assumiu o Porto de Maceió. “A presidente notou que alguns portos estavam apresentando resultados que não agradavam. Foi quando tiveram a ideia de me colocar aqui. Era uma questão de gestão”, diz ela, tentando mostrar que, mais do que política, aquela era uma decisão técnica, devido à sua formação em Ciências Contábeis e à sua experiência em um cargo executivo. Justificativa que não convence a todos. “Ela é uma mulher sóbria, inteligente e com bastante influência. Mas esse é um cargo meramente político. Rosiana é mais um fantoche”, diz Neilton Barbosa dos Santos, sindicalista e integrante do Conselho de Autoridades Portuárias. Visão não compartilhada por todos. “Ela é excelente com os trabalhadores. Senta, conversa e, no que for possível, está atendendo”, afirma Milton Jorge da Silva, do Sindicato dos Portuários de Alagoas.


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