À espera de Francisco

Daniela Souza

Em São Paulo – Vista geral do Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida, onde o papa Francisco fará uma missa.

Espera-se um público de 2,5 milhões de pessoas na Jornada Mundial da Juventude, encontro in­­ternacional de jovens com o papa Francisco que vai acontecer em julho. Se confirmada a expectativa, será a segunda maior edição da história do evento, superada apenas pela a de 1995, em Manila, nas Filipinas, que reuniu 4 milhões de participantes. Francisco começará a sua primeira visita apostólica ao País pelo Rio de Janeiro, onde deve desembarcar no dia 22, e os pontos altos da reunião devem ser mesmo em Copacabana e Guaratiba (zonas sul e oeste carioca) e Aparecida, no interior de São Paulo. Só no Santuário Nacional da cidade paulista, espera-se um contingente de 400 mil fiéis em 24 de julho, quando Francisco celebrará uma missa no local. Mais uma vez, se mantida a expectativa, a presença do papa deve superar o recorde de público já registrado na basílica e do número de pessoas que acompanharam os papas João Paulo II, em 1980, e Bento XVI, em 2007, no mesmo lugar.

Francisco é o primeiro papa não europeu em mais de 1.200 anos – ele nasceu em Buenos Aires, na Argentina – e esse fato elevou a previsão de público para a Jornada da Juventude, segundo os organizadores.

Diante de tanta gente, existe um brasileiro em condição especial. Trata-se de Cláudio Pastro, responsável por produzir todos os objetos religiosos (crucifixos, cálices, castiçais…) que o papa usará durante as missas em Aparecida, Copacabana e Guaratiba. Não é pouca coisa. “Para mim, a leveza e a certeza de um traço vêm do Espírito Santo. Sou apenas seu pincel”, diz o artista, que também trabalha na restauração do interior da Basílica de Aparecida – o projeto está previsto para terminar só em 201

Em São Paulo: imagem que decora o Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida e na Eespanha: No vitral do Real Monasterio de San Pelayo, em Oviedo, São Bento e Santa Escolástica aparecem lado a lado em obra de Cláudio Pastro

Em mais de 40 anos atuando como artista sacro, Pastro também é autor de livros sobre o assunto. Ele acabou de lançar Imagens do Invisível na Arte de Sacra (Edições Loyola), o 12 título de sua carreira e o que dá continuidade ao C. Pastro: Arte Sacra (Paulinas, 2001), que é um inventário de seus trabalhos de 1975 a 2000.

Cláudio Pastro nasceu em São Paulo, em 1948. É filho de pais católicos e, ainda menino, recebeu os primeiros princípios religiosos. “Eu morava em frente a um convento, o das Irmãs Assunção, e meus pais participavam ativamente daquele mundo. Inclusive a descoberta do meu amor pela sobriedade da arte e da liturgia surgiu nesse espaço.” Formado em Ciências Sociais pela PUC-SP, ele foi levado à arte, segundo conta, por uma freira. “Irmã Colette Catta me ajudou a enxergar a vocação e, a partir daí, o ofício da arte sacra passou a guiar o meu destino.”

Com pouco mais de 20 anos, ele viajou para a África para visitar um parente da Irmã Colette, que tinha fundado em Dacar, no Senegal, o mosteiro Keur Mossa. “Fiquei maravilhado com as pinturas.” Mas foi só na metade dos anos 1970 que acabou sendo descoberto por um marchand, o padre italiano Francesco Ricci, que investiu em seu trabalho e promoveu exposições na Europa.

Fabio Colombini

O autor – Cláudio Pastro faz os objetos que serão usados pelo papa e restaura o interior da Basílica de Aparecida

Hoje, além de trabalhar para receber o papa Francisco, Pastro tem obras em várias partes do mundo, como o vitral São Bento e Santa Escolástica, no Real Monastério de San Pelayo (Oviedo, Espanha), o interior da Chiesa dell’Assunzione di Maria (Roma, Itália) e na pintura sobre seda no teto da Matriz de Schwarzenbach (Alemanha). No Brasil, ele assina a Fonte Batismal, da Igreja do Patteo do Colégio, o Altar de Celebração do Presbitério, da Catedral Metropolitana de São Paulo, e a Arcada Oeste Externa e a Nave Sul Interna, da Basílica de Aparecida, entre outros.

Por tudo isso, Pastro é chamado de “Michelangelo brasileiro”. Mas ele é humilde. “É um apelido lisonjeiro, claro. Michelangelo dedicou a vida à arte e foi fiel às convicções cristãs. Ler os escritos dele e conhecer sua biografia é algo tão emocionante quanto vislumbrar suas obras. Só que não há similaridade nem comparação entre nós”, diz Pastro, tomando o maior cuidado para que as palavras não sejam interpretadas como uma inclinação ao pecado da soberba.


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