Luisa Strina acaba de ser eleita uma das 100 personalidades mais influentes no mercado de arte, ranking publicado anualmente pela revista ArtReview. Ela ocupa a 71a posição mundial – os brasileiros Bernardo Paz, empresário e proprietário do Instituto Inhotim (MG), e o curador Adriano Pedrosa aparecem na lista em 80a e 98a posições, respectivamente. Nada acontece por acaso. Luisa está na estrada há mais de 40 anos. Quando começou, escolheu para trilhar o difícil caminho da contemporaneidade, num momento em que a produção brasileira era pouco conhecida. Estamos falando de 1974, 1975, quando São Paulo tinha pouquíssimas galerias de arte, os países da América Latina não se conheciam e o mercado brasileiro era praticamente inexistente.
Nessa época, ela trouxe pela primeira vez ao Brasil obras dos pop americanos Roy Lichtenstein, James Rosenquist, Jim Dine e Andy Warhol, que faziam furor no mercado. No plano nacional, lançou expoentes como Tunga, Leonilson, Cildo Meireles, Antonio Dias e Edgard de Souza. Em 1992, foi a primeira galerista latino-americana convidada a participar da fechada Feira de Arte de Basel, na Suíça.
Passados todos esses anos, o sistema de arte se transformou, especialmente nos últimos cinco anos, e a Galeria Luisa Strina também. Hoje, na mesma rua Padre João Manuel, agora no número 755, nos Jardins, em São Paulo, está mais ampla e confortável. O que não mudou foram os princípios, os conceitos, a forma de trabalhar da proprietária e sua posição top entre as galeristas internacionais. Luisa não para. Organiza exposições de artistas brasileiros no exterior e nas principais instituições nacionais. Participa de feiras internacionais, como Basel, na Suíça; Arco, em Madri; Colônia, na Alemanha; Miami; e Guadalajara, no México. Desde 2001, faz parte do board da feira Art|Basel Miami.
O mercado de arte se alterou. “Há mais feiras e a arte brasileira tem interessado os estrangeiros. O Brasil teve inserção internacional grande, enquanto Europa e Estados Unidos ficaram fragilizados com a crise econômica.” Luisa lembra que entre China, Índia e África, os artistas brasileiros ficaram voltados para sua arte, trabalharam sem copiar o que estava fazendo sucesso lá fora. “Esse é um momento novo da arte brasileira”, diz ela, que acredita que essa nova característica é o que deu força ao artista brasileiro no mercado internacional.
Diante de toda euforia de vendas, a preços astronômicos, as galerias continuam a trabalhar com elencos fixos ou levam para as feiras trabalhos de artistas renomados ou da vanguarda histórica para aproveitar o boom do mercado? Afinal, nem todas as galerias conseguem manter essa política. Como fazer? “Eu faço parte do board da Feira de Arte de Miami e essa questão é amplamente discutida. Uma galeria não pode trazer para a feira um artista que ela não represente. Se uma galeria está apresentando um artista na feira, ela só pode fazê-lo se tem ou teve uma ligação com o trabalho dele.” Caso contrário, segundo Luisa, a galeria será eliminada na próxima vez pelo comitê que circula durante a feira e confere a qualidade dos trabalhos e da montagem.
Luisa diz que as feiras têm mantido regras cada vez mais firmes, especialmente agora, na entrada de novos convidados. “Na Feira de Basel, para se conseguir o cartão VIP, há um controle muito rígido. Tudo isso justamente para dificultar a entrada das pessoas que não interessam.”
Para a galerista, uma feira não tem nada a ver com uma bienal. “Feira é um evento dirigido para um determinado público. É um equívoco as pessoas dizerem que as bienais não têm mais sentido por causa das feiras de arte. Uma não tem nada a ver com a outra. Absolutamente nada. Uma bienal tem a visão de uma pessoa, uma curadoria personalizada. Uma feira de arte é um mercado, cada stand é curado por seu galerista, não há unidade de pensamento.” No entanto, ela acha ótimo que as feiras promovam seminários por que “essas discussões geralmente refletem sobre o mercado, as coleções, é isso que interessa em uma feira”.
Luisa fala que os museus internacionais estão se interessando e procurando cada vez mais a produção brasileira. Para os que costumam dizer que brasileiros só compram brasileiros e que as galerias não conseguem vender para colecionadores internacionais, Luisa tem um dado. “Minhas vendas ocorrem 60% para estrangeiros. Participo das feiras e me preocupo em manter um estande muito bem montado. Feiras, para mim, são institucionais”.
As exportações de arte e antiguidades bateram recorde no ano passado, somando US$ 61 milhões, marca que pode se repetir este ano. Em 2005, as vendas não passavam de US$ 10 milhões. Desde 2008, o Brasil desbancou o México no ranking de exportadores da América Latina. Luisa é otimista para os próximos cinco anos. Mesmo que não queira, o mundo está falando sobre a arte brasileira. “Há um interesse muito grande pelo Brasil, não se pode negar.”
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