“É a glória, é a gloria”

Quando eu contei ao João Carlos Martins que o DJ Anderson Noise, sentado ao lado da gente, certa vez, ao responder a uma enquete de uma revista especializada em música eletrônica tinha dito que “se emociona ouvindo João Carlos Martins”, ele comentou:”Quer saber de uma coisa? Pra mim, ouvir isso na Sala São Paulo, em qualquer lugar, é o máximo. Mas um DJ falar isso pra mim… é a glória, é a glória.”

A manhã estava apenas começando. Era novembro de 2008. Sua fiel secretária tinha avisado que ele teria apenas uma hora para o encontro – que resultaria na matéria “O maestro e o DJ” para uma revista – depois tinha compromisso.

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Velho, não; seminovo
Noise não conseguia parar de reverenciar o mestre. Não conseguia tratá-lo por “você”. Era “senhor” pra lá e pra cá. Não adiantou levar “bronca” do João Carlos:

“É que me chamando de senhor eu me sinto velho e me chamando de você eu me sinto seminovo.”

João Carlos queria saber tudo sobre os DJs.

“Você tem um trabalho de quantas horas consecutivas?”

“Eu já toquei 12 horas.”

“Quanto tempo tem uma peça?”. “O DJ também é compositor?”. “Essa música pode ter lirismo ou é só pauleira?”. Dúvidas e mais dúvidas.

Noise responde que compõe também, tem peças suas, que mistura com outras, de DJs de todo o mundo. Uma peça pode ter de seis a nove minutos, atualmente. “Pode ter lirismo, é claro. Eu tenho muita música eletrônica que não tem prato, não tem quique.”

“Pode ser uma coisa que dê som de violino?”

“Não é muito usado, seria bom usar.”

Manda puxar o almoço
Os dois se entendem. O maestro é um músico erudito desde os 12 anos; Noise é autodidata:

“Nunca estudei música, mas tenho noção para compor.”

O que quero saber mesmo do maestro é:

“Você acha que pode dar certo a sua orquestra tocar junto, ao vivo, com o Anderson Noise?”

“Dá”, responde ele, sem evasivas. “Podemos fazer isso na Sala São Paulo.”

Empolgado, suspende o compromisso e ordena simpaticamente à cozinheira:

“Olha, o negócio aqui tá legal, manda puxar o almoço pra todo mundo.”

Todo mundo quer dizer eu, o Noise, o videomakerdo Noise, o fotógrafo, sua assistente e é, claro, Carmem, a mulher do maestro.

Durante o almoço ele concebeu o espetáculo:

“Nós vamos ter durante o concerto uma peça sua… uma peça de dez minutos, que vai começar de uma forma muito romântica. A peça começa romântica e de repente, quando você entra com a tua batida, a orquestra vai com você.”

“A gente pode compor… acho que tem duas músicas minhas que são mais românticas…”.

A revolução
“Então vamos fazer diferente. Nós vamos fazer uma participação tua de 25 minutos e nos últimos cinco minutos você vai entrar na 5ª de Beethoven…”

“Eu tenho uma música perfeita para isso.”

“Eu tô querendo fazer uma revolução”, diz João Carlos. “No nosso concerto vamos ter uma peça sua onde a orquestra o auxilia e a outra é Beethoven, auxiliada por você.”

“Vai ser uma honra, um sonho.”

“Entre abril e maio, tá bom pra você?”

João Carlos anuncia novos detalhes do futuro concerto:

“Pra realmente chamar a atenção do Brasil inteiro, vamos colocar no convite do nosso concerto: acima de 25 anos, de smoking; abaixo de camiseta. Você de casaca, eu de camiseta. Eu de costas pro público, você de frente. Vamos fazer um negócio pra valer.”

E vão fazer mesmo, em 9 de maio na Sala São Paulo e em 7 de junho no Anhembi, o primeiro concerto de uma orquestra com um DJ no Brasil. O segundo no mundo.

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