A guerra suja das campanhas na web: aqui, não!

Os assuntos mais comentados pelos leitores durante a última semana

Balaio

Alckmin e Mercadante em SP: 257

Eleições/ Mídia e pesquisas: 202

Andar a pé é mais rápido: 128

Folha

Glauco: 91

Lula: 80

Royalties do petróleo: 62

Veja (a revista não publica mais o número de comentários recebidos)

Caso Bancoop

Lula e a ditadura cubana

Lya Luft

***

O levantamento acima sobre os assuntos mais comentados pelos leitores do Balaio, da Folha e da Veja, as duas publicações impressas de maior circulação do país, que também divulgam este ranking, é publicado aqui desde setembro de 2008.

Semana após semana, os temas políticos dominam as manifestações dos leitores, que deixaram de ser agentes passivos para participar ativamente do debate provocado pelo noticiário, tanto na velha mídia, como nos novos meios eletrônicos. Nossa freguesia já não aceita o prato feito. Quer ter voz ativa no cardápio que lhe é oferecido. Somos agora todos, ao mesmo tempo, emissores e receptores das informações que circulam no país.

Por isso mesmo, acabou o monopólio dos chamados “formadores de opinião”, aqueles donos da verdade dos tempos em que um pequeno grupo decidia o que devemos pensar, comprar, assistir, achando que estavam elegendo e derrubando governos, decidindo os destinos do país e do mundo.

Este foi um dos temas tratados na longa entrevista que dei na sexta-feira à colega Andréa Zilio, da rádio Aldeia FM, de Rio Branco, no Acre. Ela queria saber qual seria o papel e a importância da internet nas eleições gerais deste ano, se o fenômeno da eleição de Obama nos Estados Unidos poderia se repetir no Brasil.

Sim, respondi à Andréa, a grande rede, à qual já estão ligados mais de 60 milhões de brasileiros, terá pela primeira vez uma grande influência nos rumos de uma eleição presidencial no nosso país. É só ver o que já está acontecendo nos sites e blogs jornalísticos, e nas estruturas profissionais montadas na web pelos principais partidos, antes mesmo da campanha começar oficialmente.

Assustado com a quantidade de comentários relacionados à campanha eleitoral e, em especial, com a agressividade, a radicalização e a baixaria que está tomando conta do debate aqui no Balaio, resolvi dar uma olhada nos outros grandes portais noticiosos. Fiquei mais assustado ainda, confesso.

Em lugar de defender as propostas e ações de seus candidatos, a maioria se limita a acusar e ofender os adversários de uma forma muitas vezes criminosa, um verdadeiro passeio pelo Código Penal. Se isto já está acontecendo em março, época de definição de chapas e alianças, como será nos meses seguintes quando a campanha começar para valer?

A democratização do debate, a interação entre quem escreve e quem lê, que se apresenta como o grande trunfo da internet, corre o risco sério de manipulação por esquemas de caluniadores profissionais, que agem com os mesmos métodos das torcidas organizadas no futebol, menos interessadas em ajudar seu time do que em detonar o adversário.

Em lugar de argumentos para defender o candidato de cada um, o que domina o debate é a baixaria, um festival de preconceitos e de intolerância, acusações sem provas, ofensas, injúrias e difamações, que em nada ajudam o eleitor a tomar a decisão mais correta na hora de votar, agora que está livre da ação dos “formadores de opinião”.

Alguns deles migraram para a internet, achando que, com seus blogs ou colunas, vão influenciar o voto dos eleitores, escrevendo no mesmo nível rasteiro dos comentaristas e seguidores que frequentam seus espaços. Criaram algumas seitas internéticas e se acham impunes, acima do bem e do mal, não admitem opiniões contrárias e não respeitam ninguém.

Esquecem-se que, assim como nos jornais e nas revistas, também na internet quem se interessa em participar do debate já definiu seu voto há muito tempo, e quer apenas, no grito, em letras maiúsculas, conquistar novos adeptos para o seu lado.

Acaba dando um empate de soma zero, em que todos perdem, em especial o processo democrático. O resultado é o mesmo dos gritos de dona Toninha, uma pobre indigente que passa os dias blasfemando coisas sem nexo pelas ruas do bairro onde moro.

Para quem, como eu, passa a maior parte do dia no computador, escrevendo ou moderando comentários dos leitores, muitas vezes o trabalho não só é cansativo como frustrante. Como vocês sabem, apenas levanto temas para o debate, sem tomar partido e sem brigar com os fatos, deixando democraticamente aberto o espaço de comentários para as opiniões de leitores de qualquer tendência política, até dos que defendem a volta da ditadura.

Mesmo assim, alguns me acusam de censura e até de “macartismo”, como se publicassse apenas os comentários de quem concorda comigo, o que não é verdade – muito provavelmente, afirmam isso sem saber o que é nem uma coisa nem outra. Tenho o direito de manifestar a minha opinião sobre os fatos sem esconder o que penso, fiel à minha trajetória, e não quero dar uma de “isento” porque isso simplesmente não existe nem na vida nem no jornalismo.

Já publiquei um aviso no pé do texto anterior e repito aqui: o Balaio não é espaço para bate-boca neste Fla-Flu entre lulistas, serristas e dilmistas, petistas e tucanos, muito menos acolherá comentários claramente produzidos por profissionais de campanhas dedicados a fazer a guerra suja na web.

A cada dia, qualquer que seja o assunto tratado no post, sou obrigado a excluir um número cada vez maior de comentários grosseiros, chulos, impublicáveis, com acusações levianas até a familiares de homens públicos e jornalistas, como se campanha eleitoral fosse mesmo uma disputa entre torcidas organizadas, um vale-tudo em que apenas a vitória interessa, a qualquer preço.

O pior de tudo são os comentários escritos por anônimos, com seus pseudônimos, alcunhas, nicks, seja lá o que for, o supra sumo da covardia de quem não é capaz de assumir o que escreve. Tem até blogueiro que escreve sem se identificar, homiziado na moita dos pusilânimes.

Aqui, não! Mesmo que diminua o número de leitores e comentários publicados no Balaio, não vou me submeter a este jogo. Vivo até hoje do que escrevo, dependo, como todos os outros, da audiência deste blog, mas ninguém me obrigará a escrever o que não quero nem publicar comentários que vão contra os meus princípios.

Nem sei o que prevê a Justiça Eleitoral, tantas mudanças já foram feitas nas regras do jogo. Mas nem é preciso ter leis para a gente saber o que pode e o que não pode. Basta ter bom senso e um pouco de educação. Ganhe quem ganhar as eleições, a vida continua, e é preciso que cada um se dê ao respeito e respeite os outros para termos uma convivência minimamente civilizada.

Espero contar com a compreensão de vocês e gostaria também de saber a opinião dos leitores sobre esta questão que considero vital no momento em que a campanha começa a esquentar: qual é o papel e quais são os limites de cada um de nós neste debate eleitoral pela internet.

Bom domingo a todos.


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