A internet é como uma casa virtual: só entra quem respeita o dono

A maioria dos leitores, claro, comemorou o fim da ameaça de restrições e a liberação geral da internet nos períodos eleitorais, tema do meu post de quinta-feira (ver aí abaixo: “Vitória! Reação da blogosfera faz Congresso recuar e liberar a internet”). No texto, atribuí a vitória à reação da blogosfera, que, desta vez, foi ouvida pelos parlamentares – ou melhor, lida em suas caixas de mensagens.

Mas teve gente que achou pouco. “Não ganhamos nada! Proibir o anonimato? Faça-me o favor!”, protestou Raphael Tsavkko Garcia, às 17:48 de ontem.

Calma lá, meu caro leitor internauta. Sou absolutamente a favor desta regra que exige identificação correta de quem frequenta a rede. Cada um tem que ser responsável pelo que escreve, como acontece em qualquer outro meio de comunicação. Já defendi esta posição aqui mesmo no Balaio, quando o blog foi invadido por uma malta de cachorros loucos anônimos, e fui muito criticado por isto.

Fico com o que escreveu Salete Cesconeto de Arruda, às 14:30 de hoje: “Minha mãe me disse que opinar escondido atrás de um biombo é um prazer mixo. Principalmente porque uma opinião ética não coloca em risco a vida de pessoas que vivem numa democracia. Não estamos em tempo de ditadura! Não faz sentido o anonimato para isso”.

Por coincidência, no post anterior, em que escrevi sobre a reabertura do caso Fiel Filho, conto como foi a decisão de assinar com meu nome a matéria do Estadão na qual denunciei o assassinato do operário. Se fiz isso no tempo em que revelar o que se passava nos porões da ditadura era correr risco de vida, não posso aceitar que agora, quando vivemos num clima de plenas liberdades públicas, alguém defenda a covardia do anonimato para ofender, injuriar e caluniar os outros.

Qual é o problema de se identificar honestamente, sem usar codinomes, nicks, pseudônimos e outros disfarces? Tem medo do que ou de quem esta gente? Da polícia, do patrão, do governo ou da Justiça? Se é da Justiça, tem mais é que temer mesmo porque, apesar da liberdade de expressão agora assegurada na internet, o Código Penal continua em vigor e destruir reputações é crime.

Nenhum jornal publica cartas anônimas. O leitor tem que dar não só seu nome, como RG, CPF, endereço, etc. para que as cartas sejam publicadas. Por que haveria de ser diferente na internet?

É preciso deixar bem claro que há limites para tudo na vida. A internet é como nossa casa virtual, é preciso respeitar o dono. Ninguém pode entrar na casa dos outros chutando a porta e xingando o dono. Depois, quando o comentário destes valentes anônimos não é publicado, eles saem gritando em letras maiúsculas como se todo mundo fosse surdo: “CENSURA!CENSURA!CENSURA”.

Nada de censura: é só uma questão de civilidade e respeito aos demais leitores. Uma das minhas funções neste blog é zelar pelo nível do debate, garantir a todos um espaço decente para as discussões. A maioria dos leitores já entendeu isso, tanto que a cada semana cai o número de comentários que sou obrigado a deletar. Dos mais de 40 mil comentários que este blog já recebeu e eu li, 99,9% foram publicados.

Para mim, é muito bem-vinda esta regra que veta o anonimato na web. Se isto se tornar mesmo realidade, poderei ser dispensado do cansativo trabalho de moderação de comentários. Quando cada um for responsável pelo que escreve, ninguém mais vai sair por aí chutando o balde e ofendendo os outros como se a internet fosse uma porta de banheiro.


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