Desde que a Internet passou a ser uma realidade para além da conexão discada, nossas vidas foram impactadas por uma avalanche de conteúdos e novas demandas sociais. Se no final dos anos 1990 o auge da interação social na web eram as salas de bate-papo, hoje é possível interagir de todas as formas e a qualquer hora.
Mas é exatamente 0 uso excessivo e a disposição 24 horas de tais dispositivos que têm chamado a atenção de especialistas. Alguns estudiosos, como Nicholas Carr já causou polêmica ao afirmar que a internet estaria nos deixando mais burros. Outros alertaram para a nossa capacidade multitasking ser levada a exaustão através do uso diário do computador para realizar desde tarefas cotidianas ao trabalho de todos os dias. Mas agora a comunidade médica identificou outras patologias associadas ao mundo virtual. É o caso do Dr. Larry Rosen, autor do livro iDisorder que se debruça a compreender a nossa obsessão com a tecnologia. A seguir, conheça as novas doenças atribuídas à internet:
1- Depressão do Facebook
Um estudo da Universidade de Michigan identificou que a depressão entre jovens pode estar intimamente relacionada ao quanto tempo eles dedicam ao Facebook. Uma das hipóteses é que as pessoas tendem a postar na rede social somente aquilo que convém, o que significa fotos de viagens, de festas, de confraternizações. Ou seja, tudo aquilo que de uma forma ou de outra denota que uma pessoa é bem sucedida, mesmo que este não seja o caso real.
Ao ver que a vida de todo mundo está tão positiva como um comercial de margarina, jovens poderiam se frustrar com a realidade palpável dos dias. Ou seja, mais melancolia para as novas gerações que se debruçam na matemática cheia de arestas: expectativa x realidade.
2- Hipocondria digital ou Ciberpocondria
Basta reunir três sintomas distintos no Google para você receber um diagnóstico sombrio do seu futuro. De acordos com os resultados, você poderá não ter muitos dias pela frente, mas a única coisa que você sentiu era uma dor de cabeça, uma tontura e certa dormência na perna. E agora?
A questão é que a vasta enciclopédia médica disponível hoje em dia na internet pode levar pessoas já com tendência à hipocondria a assumirem diagnósticos precoces – e bem precoces – a respeito de sintomas até inexistentes. O perigo disso, segundo um estudo realizado pela Microsoft em 2008, é que autodiagnósticos feitos a partir de ferramentas de busca online geralmente levam buscadores aflitos a concluir o pior, o que pode causar novas ansiedades e a automedicação.
3- Naúsea Digital
Há pessoas que se queixam de certa sensação de enjoo ao lerem um livro em um carro em movimento. Esta mesma sensação pode ser vivenciada quando usamos telas virtuais. Um exemplo disso foi a recente atualização do iOS, sistema operacional móvel da Apple. A última versão foi responsável pela reclamação de diversos usuários que se queixaram que a nova interface causava desorientação e náuseas.
Essa sensação se dá em grande parte ao efeito que faz com que os ícones e a tela de abertura pareçam estar se movendo dentro de um mundo tridimensional, abaixo do visor de vidro. Tais tonturas e náuseas resultantes de um ambiente virtual são explicadas por conta da sensação de movimento, mesmo quando não estamos realmente nos movimentando. É como se nosso cérebro estivesse sendo enganado.
4- Efeito Google
Antes da Internet, para ter acesso a alguma informação era preciso se voltar à revistas, jornais e enciclopédias. Mas graças a ela, qualquer pessoa pode se perguntar qualquer coisa e obter uma resposta instantânea. No entanto, realizar buscas constantes, a ponto de não precisarmos nem ativar nossa memória, estaria contribuindo com que nossos cérebros retenham menos informações. Segundo especialistas o “The Google Efect” estaria nos deixando mais preguiçosos, uma vez que ficamos com a impressão de que não precisamos mais memorizar algo, pois afinal, tudo está ao alcance da mão.
Mas por outro lado, segundo o Dr. Rosen, o mesmo Efeito Google poderia ser visto com bom olhos. Ele poderia ser encarado como o marco de uma mudança social, uma espécie de evolução, onde novas gerações estariam mais informadas, logo, mais espertas.
5- Síndrome do toque fantasma
O telefone não tocou, mas você fica com a paranoica sensação de que está ouvindo o toque dele ou sentindo a sua vibração. No entanto, quando você vai checá-lo não há nenhum sinal de ligação ou notificação. A experiência pode ser explicada cientificamente. Segundo o Dr. Rosen, 70% dos heavy users de dispositivos móveis já relataram ter experimentado tal sensação e tudo graças a mecanismos de resposta perdidos em nossos cérebros.
Em entrevista ao site TechHive, Rosen diz que o leve formigamento no nosso bolso seria associado a uma simples coceira. Mas agora, que configuramos o nosso mundo social para girar em torno desse aparelho, sempre que sentimos um formigamento recebemos uma explosão de neurotransmissores do nosso cérebro que podem causar tanto ansiedade quanto prazer. Mas ao invés de achar que é só uma coceira, reagimos como se fosse o telefone que devemos atender prontamente.
6- Nomophobia
Para algumas pessoas, ficar sem o telefone – seja porque a bateria acabou ou porque o esqueceu em casa – pode levar a uma sensação de ansiedade profunda. A “nomophobia”, abreviatura para “no-mobile phobia” (medo de ficar sem telefone) está diretamente relacionada a sensação de não poder se conectar prontamente.
Para algumas pessoas, há um caminho neural que associa diretamente essa sensação desconfortável de privação tecnológica a uma crise de ansiedade. E claro, o distúrbio é bem mais intenso em heavy users de dispositivos móveis.
A questão está intimamente relacionada com a FOMO (Fear of Missing Out), síndrome dos tempos atuais que diz que devido as redes sociais estaríamos com medo de ficar por fora das últimas novidades da timeline, por exemplo.
7- Vícios de jogos online
Na Coreia do Norte, o jogo online é tão levado a sério que o governo promulgou uma lei chamada “Lei Cinderela”, que corta o acesso a games online da meia-noite às 6h para usuários com menos de 16 anos. A medida veio após um estudo que constatou que cerca de 18% da população com idades entre 9 a 39 anos sofrem com a dependência de jogos online.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de grupos de ajuda online destinados a essa dependência aumentou nos últimos anos. Para se ter uma ideia, o Online Gamers Anonymous formou o seu próprio programa de recuperação de 12 passos.
Embora a atual edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders não reconheça o vício em jogos online como um transtorno único, a Associação Psiquiátrica Americana decidiu incluí-lo em seu índice, o que significa que estará sujeito a mais pesquisa e pode eventualmente ser incluído junto a outras dependências não baseadas em substâncias químicas, como o vício em jogos de azar.
8- Transtorno de Dependência da Internet
Depois de ler todas essas “novas doenças”, não é preciso sofrer de ciberpocondria para identificar que o uso excessivo da Internet pode interferir na vida cotidiana. O Transtorno de Dependência da Internet é exatamente o uso desmedido da tecnologia, no entanto os termos “dependência” e “transtorno” são um tanto controversos dentro da comunidade médica, que acredita que a compulsão da Internet está relacionada com outras doenças.
Segundo a Dra. Kimberly Young, médica responsável pelo Centro de Dependência da Internet, diagnósticos duplos são comuns, de modo que a dependência da internet está associada a outras doenças como depressão e o Transtorno de Déficit de Atenção.
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