Uma coisa que sempre me incomodou muito na internet, mesmo antes de começar a escrever nela, é a covardia dos comentaristas anônimos, que se escondem sob pseudônimos, alcunhas, niks, apelidos, codinomes e o diabo a quatro.
Há os mais preguiçosos que se assinam simplesmente assim: “Anônimo”. Já vi blogs em que praticamente todos os comentaristas escondem suas verdadeiras identidades das mais diversas formas. Gostaria de saber: por que?
Um estudante me perguntou o que achava disso durante o debate de que participei esta manhã sobre “Caminhos da Reportagem” na Semana de Jornalismo promovida pela Faculdade Cásper Líbero.
É difícil explicar as coisas que nem entendo – por isso, fico me perguntando. O que leva uma pessoa a gastar seu tempo emitindo opiniões o dia inteiro em blogs e se recusar a assumir a própria identidade? Tem vergonha ou medo do que escreveu?
O que eu não sabia era que a Constituição Federal de 1988 já trata destes casos, como li esta semana num texto que me enviou, para um livro que estou fazendo, o Advogado-Geral da União, o amigo José Antonio Toffoli. Diz o texto constitucional com todas as letras:
“Estabelece no Capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos a liberdade de manifestação do pensamento, vedado o anonimato (inciso IV do art. 5º).
“Prevê como antídoto a qualquer abuso eventualmente cometido o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização pelos danos materiais ou morais à imagem (inciso V do art. 5º)”.
Será que sabem disso os que despejam anonimamente seus ataques rasteiros e preconceitos doentios na internet? Sabem eles que hoje há recursos tecnológicos para descobrir a origem das mensagens criminosas, mesmo quando anônimas, e que a Justiça já está processando e punindo seus autores?
Desde que comecei a escrever em jornal, em meados do século passado, sempre batalhei para que minhas matérias fossem assinadas, de preferência na primeira página – e eram tempos de ditadura militar, em que os jornalistas corriam muitas vezes risco de vida no exercício do seu trabalho.
Justo agora, que vivemos o mais longo período de liberdades públicas desde o final do Estado Novo, e uma avenida sem fim se abre na internet para que todos possam manifestar democraticamente suas opiniões, sem censura, não consigo entender esta febre do anonimato que se espraia pela web.
No texto de apresentação deste Balaio, comuniquei aos leitores que não pretendia fazer nenhum tipo de moderação porque o grande barato deste novo meio de comunicação é justamente a garantir a liberdade para cada um falar o que sabe, pensa, sente, gosta ou desgosta, gerando discussões e debates.
Deu certo nos primeiros dias, mas depois fui obrigado a pedir ajuda aos meus colegas do iG para filtrar os comentários quando um bando de cachorros loucos sob diferentes pseudônimos entrou aqui xingando e ofendendo todo mundo.
Mesmo assim, apesar das providências tomadas, o leitor Fernando Cesar em seu comentário das 19h25 de 17/10 cobrou-me uma nova varredura:
“Como um espaço democrático é mal utilizado. O grande culpado é o sr. blogueiro que não faz uma varredura dos comentários de baixo nível”.
Ao contrário de alguns concorrentes, não me importo quando os leitores me criticam ou escrevem comentários agressivos, chamando-me, no mínimo, ora de petista, ora de tucano. Acho que faz parte do jogo. Só não aceito ataques a terceiros, que às vezes escampam.
Pra falar bem a verdade, nem posso me queixar porque a absoluta maioria dos comentários aqui postados são, na forma e no conteúdo, bem mais civilizados e bem escritos do que os que leio por aí na concorrência.
Tenho fé que, com o tempo, todos descobrirão que é bem melhor assinar com nome e sobrenome verdadeiros porque assim tem mais valor o que a gente escreve.
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