A mineirinha ferve

Feche os olhos. Imagine um loft bem decorado. Divida-o em duas partes. Uma é a sala de estar por onde circulam empresários, amigos, jornalistas. Outra é um estúdio fotográfico. Você viu Blow-Up? É mais ou menos aquilo. Acrescente um bar – no filme não tem. O fotógrafo Marcio Scavone e seus assistentes estão ocupados com a garota sensação da música brasileira: Paula Fernandes. Bom trabalho. O rosto e o corpo da moça facilitam – e muito. Impossível sair feia. Terminada a sessão de fotos, ela se reúne ao grupo de repórteres da Brasileiros. Retirados vários pares de sapato da mesa, um mostruário delivery trazido especialmente para ela, nós nos sentamos para uma deliciosa conversa a respeito de um assunto que nunca sai de moda: as voltas que o mundo dá.

Brasileiros – Vamos começar com uma pergunta simples: quem é essa mulher Paula Fernandes de Souza?
Paula Fernandes –
Sou uma mulher sensível, filha do campo. Tive uma infância bastante feliz no interior, onde eu tinha meus pés de manga preferidos…

Brasileiros – Que lembranças você tem da infância?
P.F. –
As melhores. Eu tinha bicho-de-pé em todos os dedos e gostava de tirar leite de madrugada com minha tia. Com 5 anos, eu já tirava leite.

Brasileiros – Você morava em um sítio?
P.F. –
Chamo de fazendola, não era uma grande fazenda, mas também não era uma chácara. Era um sitiozinho, bem distante de Sete Lagoas (Minas Gerais), que é a minha cidade natal. O vizinho mais próximo morava a quilômetros de lá. A gente passava mais de 30 dias sem ver ninguém.

Brasileiros – Vocês viviam do que produziam?
P.F. –
A gente vendia de tudo. Tínhamos mais de oito mil pés de banana, que era o que tínhamos de melhor. Mas vendíamos queijo, leite, ovo de galinha caipira, porco. Numa época, tivemos caprino também, só que paramos a criação porque é difícil cuidar de cabrito. Ele é um bicho muito rebelde e sensível, não pode ficar em contato com o chão durante a noite, precisa dormir em um lugar suspenso… Mas fui criada com leite de cabra. Foi uma infância deliciosa.

Brasileiros – Tinha luz no sítio?
P.F. –
Durante um período não tinha luz nem banheiro dentro da casa. Tomei muito banho de barril. Além disso, usava as alpercatas que meu pai fazia com pneu velho, para dar conta da criançada.

Brasileiros – Quantos irmãos você tem?
P.F. –
Somos só eu e o meu irmão, Nilmar Fernandes.

Brasileiros – E os seus pais?
P.F. –
Meu pai é Osvaldo e minha mãe, Dulce. Mas meus avós moraram muito tempo nesse sítio também.

Brasileiros – Sem luz, o que vocês faziam à noite?

P.F. – A gente cantava com luz de lamparina. Meu pai toca viola e sempre gostou de cantar. As memórias que tenho dele são sempre ouvindo música e cantando. Depois a tevê chegou. Era em preto e branco, mas não lembro bem, eu gostava demais de brincar. Engraçado, quando se tem poucas coisas da cidade a gente inventa a própria brincadeira.

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Brasileiros – Você cantava com seu pai?
P.F. –
Cantarolava. Mas um dia, eu tinha 8 para 9 anos, aprendi na rua a cantar a música Desculpe, mas eu Vou Chorar, do Leandro e Leonardo. Aprendi na rua e fiquei insistindo com minha mãe durante três dias para ela me ouvir. Ela trabalhava na nossa mercearia em Sete Lagoas, onde vendíamos os produtos da roça. Ela não tinha tempo para mim, tadinha… Era muito trabalho, aquela correria toda. Até que um dia ela resolveu me ouvir. “Vai, menina, canta!” Comecei a cantar e ela começou a chorar. “Canta de novo”, ela pediu algumas vezes. Uma hora, minha tia chegou e minha mãe  falou para eu cantar de novo. Eu, morrendo de timidez, corri para o quarto e cantei lá de dentro.

Brasileiros – Sem ou com violão?
P.F. –
Sem violão. Depois, ganhei um violão da minha tia, um violão velho que ela tinha guardado. Logo pedi para aprender. Pedi também para inverter as cordas. Desde cedo, quis um violão canhoto.

Brasileiros – Você não é canhota?
P.F. –
Sou canhota e ambidestra dos pés, mas escrevo com a mão esquerda.

Brasileiros – A partir do dia em que sua mãe e sua tia ouviram você cantar, o que aconteceu?
P.F. –
Todo mundo dentro de casa ficou impressionado com o que estava acontecendo. Mas, para mim, era normal.

Brasileiros – Quem ensinou você a tocar violão?
P.F. –
Comecei do nada com o violão velho. Uma vizinha dava aulas e me lembro de ter ido à casa dela quatro sábados seguidos. Na quarta aula, ela disse para a minha mãe me levar para o conservatório, que já tinha me ensinado tudo. Eu tinha muita facilidade, mas a gente não tinha grana para conservatório. Acabei sendo autodidata mesmo. Fui tomar conhecimento da parte teórica quando já tinha 13 anos de carreira.

Brasileiros – Você tirava de ouvido ou lia cifras?
P.F –
Tirava de ouvido. Olhava nas revistinhas, via as pessoas tocando… Sempre fui afinada.

Brasileiros – Teve aula de canto?
P.F. –
Não, a primeira vez que tive acompanhamento de uma fonoaudióloga foi em 2008.

Brasileiros – Como foi a história da gravação do seu primeiro disco?
P.F. –
Foi em São Paulo. Tive dois dias para colocar a voz em 12 músicas.

Brasileiros – E como você foi parar em São Paulo?
P.F. –
Meu pai…

Brasileiros – Ele achava que você tinha algo mais, o dom de cantar?
P.F. –
Quando a gente é criança e tem um dom é prodígio, né. Depois que cresce, fica igual a todo mundo (risos). Meio que aconteceu assim. Meus pais tinham dentro de casa uma criança com um dom, mas a família era muito humilde. Eles fizeram o que acharam que era o certo, que foi mudar para São Paulo.

Brasileiros – Toda a família se mudou?
P.F. –
Eles me perguntaram: “É isso o que você quer?”. E eu com 12 anos de idade.

Brasileiros – Como seu pai descolou esse lance?
P.F. –
Não sei direito como, ele devia ter contato com alguém que tinha um estúdio e uma pequena gravadora, que se chamava Ipanema Discos. Eu gravei o disco em dois dias. Eles ficaram de boca aberta porque eu não desafinava.

Brasileiros – Qual era o repertório?
P.F. –
Adulto. Tinha uma música minha, que fiz aos 10 anos. Mas só aos 12 comecei a compor mesmo.

Brasileiros – Mas o que era? Sertanejo?
P.F. –
Gravei quatro músicas do Odair José, o que fez Pare de Tomar a Pílula.

Brasileiros – Você cantou essa música?
P.F. –
Não, eu cantava música romântica, de sentir falta, sabe? Já tinha até cama nas letras. Cantava com voz forte, nunca tive voz infantil.

Brasileiros – Você é mandona?
P.F. –
Não sou, mas gosto das coisas bem-feitas. Sempre fui exigente. Principalmente comigo.

Brasileiros – No que deu esse primeiro disco?
P.F. – Com o Paula Fernandes, viajei bastante. Essa foi a fase áurea da dificuldade.

Brasileiros – Como assim?
P.F. –
Eu viajava com a minha mãe, com o disco embaixo do braço, ia de rádio em rádio… Depois, fui fazer circo, festa de rodeio, até me mudar para São Paulo. Fiquei sete anos em São Paulo, morei em Cotia. Mas me mudei 24 vezes entre São Paulo e Minas Gerais, junto com minha mãe. Eu ainda era pequenininha. Agora vou mudar pela 25a vez.

Brasileiros – Para onde você vai?
P.F. –
Vou morar também em Belo Horizonte e na chácara onde eu moro.

Brasileiros – Nessas viagens, você ia com seus pais? Eles eram seus empresários?
P.F. –
Eram. Eu tive pequenos empresários, que não investiram nada, mas meio que abriram as portas que tinham. Se o cara era o dono do rodeio, me dava oportunidade de abrir o show do Zezé di Camargo e Luciano. Meus pais trabalhavam na portaria, minha mãe arrumava o camarim dos artistas, essas coisas. Durante algum tempo, meu cachê era o maior da casa.

Brasileiros – Quando você conheceu essa turma toda, o Zezé di Camargo, as coisas ficaram mais fáceis para você?
P.F. –
Eu era pequena, não tive contato com eles, mas sabia tudo deles. Ainda mais a minha mãe mexendo no camarim… Engraçado isso, porque eu não era deslumbrada com essas coisas. Eu achava aquele universo bacana, mas o meu jeito de sonhar com a minha carreira não era “ai, quando eu crescer quero ser famosa assim”. E sim: “Quando eu crescer, quero fazer o que eu faço”.

Brasileiros – O que aconteceu quando, aos 18 anos, você largou a carreira?
P.F. –
Durante os sete anos em São Paulo, não aconteceu com a minha carreira e voltei para casa. Acredito que, graças a essa sensibilidade toda que tenho, às vezes até sinto que meus poros são mais abertos do que o normal… Foi uma junção de fatores, a criação que tive. Meus pais deram o que tinham e o que sabiam, mas houve erros também que eles cometeram nesse desenvolvimento entre ter uma artista dentro de casa e a filha. Não os culpo por isso, mas acho que foi uma coisa natural.

Brasileiros – Você queria ficar independente, é isso?
P.F. –
Não, acho que é porque eu não viajava de férias, era só trabalho… Até que um dia, deu um estalo. Eu estava em uma gravadora que me oferecia condições, já tinha terminado o terceiro colegial e ficava em casa pirando. Não tinha namorado, meus amigos estavam longe. Quando fazia um amigo, eu me mudava. Comecei a descobrir que eu não estava do jeito que queria. E as portas se fechavam também. Diante de tantos “nãos” de gravadoras, empresários, depois de praticamente nove anos de busca…

Brasileiros – Você caiu em depressão? Foi medicada?
P.F. –
Tomei remédio tarja preta, fui ao psiquiatra… Para aceitar o psiquiatra, foi dificílimo, eu achava que isso era coisa de doido. Eu tinha 18 anos. Descobri nessa época que até criança de dois anos pode ter depressão.

Brasileiros – Você era bipolar?
P.F. –
Não. Tive crise de pânico, tremia, tinha medo de andar de ônibus sozinha, medo de dormir sozinha. Meu médico dizia que o alarme da gente fica desregulado. Então, se passa um vento, ele dispara. Só que, ao mesmo tempo, eu estava muito lúcida, sabia o que estava acontecendo. Mas a gente não controla as emoções, porque o copo já encheu. Gradativamente, fui recomeçando a trabalhar, fazendo o tratamento direitinho, amor, amor, amor…

Brasileiros – Amor de quem?
P.F. –
Da família.

Brasileiros – Quanto tempo levou para sair da crise?
P.F. –
Dois anos mais ou menos. A gente vai se desintoxicando e descobri, nessa época, o quanto eu era forte. É impressionante como a gente é uma pessoa antes e depois da depressão.

Brasileiros – Esse é um mundo muito masculino. O fato de você ser mulher…
P.F. –
É! O preconceito… Todo mundo dizia: “Nossa, mais uma mulher! Não, não vai dar certo”. E quando tive oportunidade de entrar em uma gravadora, eles não investiram em mim, optaram por fazer outros investimentos.

Brasileiros – Depois de dois anos de depressão, como você voltou à cena e como foi essa passagem até o encontro com Roberto Carlos?
P.F. –
Naquela época, eu ainda sangrava os dedos. Até que, um dia, me apresentei num programa regional, em Minas, e Marcus Viana, músico, instrumentista e produtor, assistiu. Ele ficou encantado com a forma visceral com que cantei. Eram só músicas minhas. Ele, então, ligou para mim umas duas semanas depois. “Você não me conhece, eu não te conheço, mas preciso te ajudar.” Comecei a trabalhar no grupo que ele tem e em trabalhos paralelos. Ele também começou a me ajudar nos meus autorais. Foi quando nasceu Canções do Vento Sul, que tocou na novela América. Tudo começou aí, em 2005.

Brasileiros – A música nunca a abandonou. Mas você chegou a pensar em abandonar a música?
P.F. –
Cheguei a abandonar completamente. Fiz curso de secretariado, tentei trabalhar como atendente de uma loja de móveis perto de casa, em Contagem. Quando a moça falou o horário que eu tinha de ficar lá, pensei: “Acho que isso não é para mim”. Era das 8 às 20 horas, uma coisa assim, e eu podia tirar uns R$ 600 por mês. Aí, fui trabalhar em boteco. Tocava por R$ 40 por dia, de terça a domingo. Meu maior cachê nessa época foi de R$ 150. Tocava tanto que sangrava a ponta dos dedos. Cada show tinha quatro horas.

Brasileiros – E hoje quanto custa um show seu?
P.F. –
Não tenho ideia (risos). Só tenho noção das despesas lá de casa, que aumentaram muito.

Brasileiros – Só para fazer uma comparação, você trabalhava quatro horas e ganhava R$ 150.
P.F. –
Eu sei que hoje são mais de 40 funcionários viajando…

Brasileiros – Você ganha o quê? Uma Ivete Sangalo por show?
P.F. –
Não, creio que nossos cachês sejam diferentes. As pessoas às vezes se confundem um pouco. Tem um valor cheio e acham que eu ganho isso tudo. Não, divido em muitas partes. Tenho 40 funcionários, fora a chácara, os funcionários da chácara. Contratei gente da minha família para trabalhar na minha base, tenho um escritório…

Brasileiros – Onde é a sua base?
P.F. –
Em Belo Horizonte, o escritório chama Jeito de Mato. Desde o dia 12 de novembro do ano passado, estou administrando a carreira de uma artista chamada Paula Fernandes (risos).

Brasileiros – Marcus Buaiz já disse que você é o sonho de consumo dele, da Nine. Então, você pode dar um furo pra gente e dizer que você já fechou com a empresa dele.
P.F. –
(risos) Não que eu saiba.

Brasileiros – Vocês estão negociando? Foi consenso: Marcus, Ronaldo e mais um sócio. “O sonho de consumo nosso é a Paula Fernandes”.
P.F. –
Que bom! Fico feliz em saber disso. A gente teve pouquíssimas oportunidades de se encontrar, mas ele (Marcus) é uma pessoa maravilhosa e o sogro dele (o músico Zezé di Camargo)é meu grande amigo.

Brasileiros – Você conhece Wanessa Camargo, filha do Zezé?
P.F. –
Vi Wanessa inúmeras vezes, mas não de conversar. Zezé é que é meu parceiro de músicas.

Brasileiros – Como vocês compõem?
P.F. –
Ele me manda as letras, às vezes eu mando para ele. Temos dois grandes sucessos: Pra Você e Eu sem Você. E a música nova que entrou na novela Salve Jorge é nossa também. Chama-se Mineirinha Ferveu. É ideia dele.

Brasileiros – Ele fez a letra e você, a melodia?
P.F. –
A gente faz junto. Isso varia. Às vezes, ele me manda uma frase e já é o suficiente. A parceria é 50% para cada um, independentemente da contribuição.

Brasileiros – Você fez alguma música com Roberto?
P.F. –
Não, não tive oportunidade. Gravei uma música dele no DVD.

Brasileiros – O show Emoções Sertanejas, em que Roberto Carlos reuniu um time de artistas, em março de 2010, foi um divisor de águas na sua carreira. Todo mundo perguntava: “Mas quem é essa moça?”. Você cruzou as pernas, aquele negócio todo…
P.F. –
Aquela cruzada de pernas foi a coisa mais por acaso do mundo.

Brasileiros – Mas chamou atenção…
P.F. –
Prepararam meu vestido… Eu estava sabendo que, na época, Roberto sentia dores, estava em tratamento e precisou de um banquinho. Então, pensei: “Vou sentar ao lado do Rei, tudo bem”. Só que esqueci que estava com um vestido daquele tamanho.

Brasileiros – Você já conhecia Roberto Carlos?
P.F. –
Eu o conheci nesse espetáculo, em que ele comemorava seus 50 anos de carreira.

Brasileiros – Como você foi parar nesse programa?
P.F. –
Por indicação dos próprios artistas, acredita? Já estava nos 45 minutos do segundo tempo! Os artistas insistiram: “Ah, essa menina tem de participar! Olha o CD dela”. Alguém levou meu CD para o Roberto, Dody Sirena (empresário de Roberto Carlos) e Eduardo Lage (arranjador e regente do Rei). E eu entrei.

Brasileiros – E aí você roubou a cena…
P.F. –
Bom, para mim, foi um momento surreal. Até hoje vejo as imagens e fico assim. Deus do Céu! Porque eu tinha tanta coisa para acertar, estava tocando sozinha, eu que puxei a música, tudo precisava estar perfeito. O resultado final foi muito bom.

Brasileiros – Aí as coisas mudaram… Roberto convidou você para o Especial de Fim de Ano de 2010. Como foi estar com ele no palco?
P.F. –
Eu conheci Roberto ali. A gente fez um ensaio antes, mais cedo e nos encontramos em outra oportunidade em que fui convidada para cantar o Hino do Corinthians, no centenário do time. Perguntei, de cara, para o Roberto: “Vou gravar um DVD. Posso gravar uma música sua?”. E ele: “Tudo bem… Estou pensando em te colocar no Especial de Fim de Ano”. Eu falei: “Se você me convidar, já será um prazer pra mim.” E ele: “É, não sei, de repente nesse, ou no próximo”. Eu falei: “Se for nesse, tá lindo. Se for no próximo, também”.

Brasileiros – Você tremeu na hora de falar com ele?
P.F. –
Sabe por que eu não tremi? No único ensaio que fiz com Roberto, ele estava mal, com dor e se tratando. Nesse único ensaio que a gente fez junto, eu me lembro direitinho dele falando para o Eduardo Lage: “Essa parte não está boa. Faz assim”. Tudo confortável para mim. E ele me deu total espaço para que eu falasse, me deixou muito à vontade. Ele tem uma luz, é algo inexplicável.

Brasileiros – Vocês trocaram telefonemas, e-mails?
P.F. –
Não, a gente não trocou telefone. A gente virou notícia nacional! Se eu tivesse me envolvido mesmo com ele, mas não houve nada. Houve um encontro musical. Por ser uma mulher e um homem, as pessoas acabam fantasiando. Parece que elas têm carência de conto de fadas.

Brasileiros – Você se tornou amiga de Roberto?
P.F. –
Temos um contato mínimo pela minha agenda, pela agenda dele… Ele é extremamente discreto, e eu não gosto de forçar a barra com nada, com ninguém. Sempre tive esse tipo de conduta. As pessoas falam muito. Quando a notícia saiu daquela forma, eu me assustei. Como assim? Eu? Nós nos encontramos naquela situação e, no dia 25 de dezembro de 2009, a gente gravou 45 minutos antes de ir ao ar. Na hora que eu estava entrando no ar, cheguei ao hotel. Aí, vi o que tinha acontecido comigo. A minha vida mudou ali.

Brasileiros – Como você ficou perante essa mudança?
P.F. –
Na verdade, a minha voz já era conhecida, mas não a minha imagem. E meu DVD não existia ainda. Todo mundo ficou curioso para saber quem era aquela pessoa.

Brasileiros – Você se assustou com isso?
P.F. –
Não, acho que todos esses anos de batalha me deram consciência do que eu estava fazendo. As pessoas começaram a querer saber quem era aquela menina. “Ah, então é ela que cantou aquela música em 2009…” Enfim, as pessoas só tiveram acesso à minha imagem no DVD Paula Fernandes ao Vivo, que foi esse sucesso todo.

Brasileiros – E, depois do sucesso, o que Roberto comentou com você? Ele sabe que mudou sua vida?
P.F. –
Ele sabe, mas não nos falamos depois. A gente se encontrou no desfile da Beija-Flor daquele ano e ele foi extremamente receptivo, carinhoso, feliz pelo que estava acontecendo. Isso eu pude perceber nele. Mas não tivemos tempo de conversar sobre esse assunto.

Brasileiros – Várias novelas têm músicas suas. Como é isso? A emissora encomenda uma canção?
P.F. –
Ninguém nunca me encomendou uma canção para novela. Já me encomendaram para fazer uma vinheta… Jeito de Mato, que entrou na novela Paraíso, de 2009, já existia e encaixou como luva. Nas outras situações, uma canção foi escolhida do meu disco.

Brasileiros – Como você recebe por essas músicas?
P.F. –
Recebo direito autoral e direito de intérprete. É um valor pequeno… Hoje, a gente vive mais de show. Mas não posso reclamar. Meu DVD vendeu dois milhões de cópias.

Brasileiros – O mercado mudou, não existe mais CD. Só DVD.
P.F. –
A internet contribuiu para isso acontecer. Por outro lado, é bacana porque a gente tem mais acesso às pessoas.

Brasileiros – Dois milhões de DVDs? Ninguém vende isso hoje em dia. Roberto Carlos está com inveja de você? (risos)
P.F. –
Não.

Brasileiros – Bem, dois anos se passaram dos shows com Roberto. O que aconteceu na sua vida, na sua cabeça? Você virou uma baita estrela, a maior vendedora de discos do Brasil, de forma muito rápida.
P.F. –
Você quer saber profissionalmente ou como pessoa? Como pessoa, continuo sendo a filha da dona Dulce.

Brasileiros – Você mora com a sua mãe?
P.F. –
Moro com a minha mãe, meu irmão e nosso cachorro maltês, Floquinho. Gente finíssima! É uma pessoa dentro de casa.

Brasileiros – Como você é dentro de casa?
P.F. –
Não uso maquiagem nenhuma, ando de coque e a camiseta mais larga que tiver, shortinho e descalça. É assim que fico na minha chácara.

Brasileiros – Sua chácara é maior do que aquela da sua infância?
P.F. –
Não, bem menor.

Brasileiros – Onde fica?
P.F. –
Falo que lá é o céu. E o céu não tem endereço.

Brasileiros – Tem cavalos na chácara?
P.F. –
Estou me preparando para ter cavalos. Tenho cachorros, dois perus, um monte de galinhas. E estou montando as minhas baias…

Brasileiros – Você monta desde quando?
P.F. –
Desde sempre, desde os meus 5 anos. Minha mãe passava muito aperto comigo. Eu montava sem sela e isso a enlouquecia, eu era muito pequena e saía com o cabresto e ia para o pasto. Nossa, eu fui um molequinho!

Brasileiros – E o assédio, como é?
P.F. –
Intenso. Gente que se aproxima pedindo uma foto, autógrafo…

Brasileiros – Isso são os fãs. Mas não tem o cara que fica paquerando?
P.F. –
Isso mudou, as coisas não são assim. Sempre pinta alguém. Apareceram pessoas interessadas, mas pela minha conduta já percebiam que não ia rolar. Hoje, tenho um namorado…

Brasileiros – Como esse namorado conseguiu chegar perto de você? É o primeiro que aparece publicamente… Estamos com ciúmes… (risos)
P.F. –
Fiquei a vida inteira pensando: “Como alguém vai gostar de mim pelo que sou, se o que as pessoas veem em cima do palco é uma artista?”. Essa era a minha grande dúvida. Um dia, fui passear na casa de um amigo e saímos para fazer um passeio de meia hora a cavalo. Foi quando o conheci, sem saber que ia encontrá-lo. Por isso, não podia imaginar que ele era solteiro, jovem e, há um ano, vendo meu DVD, pensou: “Um dia vou casar com ela”. A gente teve meia hora para se conhecer e um ficou encantado com o outro, bem mexidos, mas ainda fiquei naquela dúvida: “Será que ele gostou mesmo de mim?”. Depois, aconteceu um reencontro. Eu não sabia que ele estava tão envolvido quanto eu. Isso foi há seis meses.

Brasileiros – Ele também mora em Minas?
P.F. –
Henrique (Henrique do Valle, dentista) vive em Brasília. Ele é dentista.

Brasileiros – Além dos homens, mulheres também se aproximam de você?
P.F. –
Quando fiz o primeiro CD, minha preocupação era justamente com as mulheres: como levar minha mensagem a elas, já que não quero ser uma rival delas. Muitas mulheres já me disseram: “Nossa, estou tão orgulhosa de ter uma representante como você!”.

Brasileiros – Mas elas também se aproximam de você pelo seu lado sensual?
P.F. –
Toda mulher deve ser sensual, mas sem ser vulgar. A vulgaridade está no comprimento da saia. Você está falando de assédio de mulheres? Recebo assédio de mulheres também. Mas o assédio é diferente. Elas são delicadas, me dão presentes…

Brasileiros – Fazem propostas?
P.F. –
Na verdade, a gente percebe pelo olhar. Muitas mulheres vão ao camarim pedir autógrafo para os maridos. “Meu marido é mais fã do que eu”, muitas dizem.

Brasileiros – Sertanejo não comporta tudo o que você faz. Como você se rotularia?
P.F. –
Eu sou Paula Fernandes. Fer­­­­­­­­­­nandes.

Brasileiros – Mas como você se definiria?
P.F. –
Não gosto de me rotular porque sou compositora e uma composição depende da inspiração, que pode vir do jeito que ela quiser. E eu vou ficar me reprimindo na música? E se um dia me der vontade de compor um samba? Nunca fiz um samba, mas já compus canções que não têm nada a ver com a minha origem, aquela origem mais cancioneira, um pop rural, é uma coisa rural, mas não deixa de ser moderna. Prefiro dizer que sou uma representante da música popular brasileira porque meu universo de criadora é tão vasto que pode acontecer qualquer coisa o tempo inteiro e estou preparada para o que vier. Mas sempre vai ter essa coisa do campo. A minha essência é essa. Meus princípios são esses. Eu sempre estou falando de passarinho, árvore…

Brasileiros – Quantos shows você faz por mês?
P.F. –
Varia. Cheguei a fazer 27 shows em um mês em 2011, 220 shows no ano, contando os de rádio também. No ano passado, diminuiu um pouco. Loucura. Viajei durante muito tempo até 22 horas de ônibus…

Brasileiros – Você já tem avião?
P.F. –
Não, não tenho avião.

Brasileiros – A equipe vai de ônibus e você vai de avião?
P.F. –
Sim, avião fretado com algumas pessoas. Hoje, são 20, 22 shows por mês, cada mês varia. Mas é pelo Brasil todo: Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, divisa com a Argentina… Meu trabalho chegou a todos os cantos, àqueles que têm condição financeira e àqueles que não têm absolutamente nada. Fora do Brasil também. Fiz show em Portugal, Lisboa e Porto… No Porto, eu esperava 2.500 pessoas, no máximo. Pensei: “O que vier, estou no lucro”. Aliás, estou no lucro há muito tempo… Mas foram 7.500 pessoas a esse show. Não sabia que eu tinha tanto fã fora do Brasil. Fiz shows em Milão, Zurique, Suíça, todos lotados. Ganhei CD de Platina e Disco de Ouro em Portugal.

Brasileiros – Foi a sua primeira viagem à Europa?
P.F. –
Foi. Quero voltar. Tanto para tocar como para passear. Achei que não seria reconhecida na rua. E fui reconhecida todos os dias.

Brasileiros – Você se dá com outras cantoras? Com Ivete Sangalo, a turma do axé
P.F. –
Ivete é um fenômeno! Não somos amigas de uma ir uma à casa da outra. Não temos tempo, mas elas sempre me respeitaram, desde o primeiro momento que cheguei.

Brasileiros – Já fez algum show junto com Ivete?
P.F. – Não, mas gostaria. Seria um prazer para mim.

Brasileiros – Seu empresário, Pietro, contou que montar os seus shows é como montar um circo. Verdade?
P.F. –
Exatamente.

Brasileiros – Mas circo fica uns 15 dias na cidade. Você e equipe ficam algumas horas…
P.F. –
São mais de duas toneladas de equipamento, que viajam em uma carreta, mais um ônibus. Meu cenário é totalmente diferenciado, eu queria cenas, imagens, investir muito na parte visual. Foi quando contratamos a direção cenográfica do Gringo Cardia, que já fez o Cirque du Soleil. É mágico, tem de ser mágico…

Brasileiros – A Playboy já a convidou para posar nua?
P.F. –
Não, acho que não.

Brasileiros – E se convidar?
P.F. –
Eu não saberia nem o valor.

Brasileiros – Então, você negociaria?
P.F. –
Não. Estou dizendo que não ia querer nem saber o valor da proposta.


Comentários

2 respostas para “A mineirinha ferve”

  1. Avatar de Heloisa vieira de araujo assu rn
    Heloisa vieira de araujo assu rn

    Sonhe sempre porque quem sabe um dia vai chegar.

  2. Avatar de fabiana silva de souza
    fabiana silva de souza

    ACHEI A INTREVISTA UTIL LEGUAL TUDO DA VIDA DE PAULA ESTA ALI APESAR QUE NAO SEI MUITO DELA MAS ADORO AMO CV PAULAAAAAAA

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