Baiana de nascimento e pernambucana no sotaque e no modo de viver, Karina Buhr herdou o sobrenome (e um piano) do avô alemão, um seminarista que veio a Recife para tocar o órgão da igreja e acabou casando-se com uma das cantoras do coro religioso. Ela é miúda, aloirada e de perto chama a atenção pelos olhos, de um castanho-esverdeado. No palco, quase sempre empunhando um “bom” de maracatu, tambor que Chico Science e a Nação Zumbi popularizaram como alfaia, é impossível deixar de prestar atenção nela. Ou ser literalmente atingido pela sua voz, aguda como as vozes sofridas das lavadeiras do Nordeste. Foi assim que ficou conhecida cantando e tocando com o Comadre Florzinha, grupo formado exclusivamente por mulheres, exceção feita a Marcelo Monteiro nos sopros, ou como participante do elenco de Os Sertões, onde além de atuar formou ao lado de Adriana Caparelli, Letícia Coura e Adriano Salhab a ala de compositores. Radicada em São Paulo há quatro anos, para onde se mudou a convite de Zé Celso e o Oficina, Karina alterna a produção do terceiro CD do Comadre, que sucederá Comadre Florzinha (1999) e Tocar na Banda (2003), com a criação de seu primeiro show individual que também resultará em um disco.

A idéia de montar o Comadre veio do fato de mulheres serem proibidas de tocar no cavalo-marinho, manifestação folclórica da região da Mata Norte que Karina conheceu através de Siba, Éder e Helder, do grupo Mestre Ambrósio. Música intuitiva, chegou a entrar na Faculdade de Artes Plásticas desistindo porque “tem problema com estudo”, alega. Paralelamente ao Comadre, que começou com Telma César e Isaar de França, pernambucanas, além da paulistana Renata Mattar, e hoje conta com Flávia Maia, Mairah Rocha dos Barbatuques, Karina participou do espetáculo de Antonio Nóbrega, Pernambuco Falando para o Mundo, que viajou pelo Brasil e Europa, trabalhou com o DJ Dolores, o Bonsucesso Samba Clube e veio a São Paulo para atuar em Bacantes do Zé Celso em 2001 e na primeira parte de Os Sertões, A Terra, no ano seguinte. Tal proximidade com o Oficina acabou influenciando seu disco solo. Tanto que chamou para acompanhá-la Guilherme Calzavara (da banda Druques), bateria e trompete, e Otávio, piano, teclado, programações, componentes da banda de Os Sertões. Nas demos que constam de seu site, a guitarra é de Fadel Dabien, um amigo, mas ela pretende contar com o ocupadíssimo Fernando Catatau (Cidadão Instigado) no show e no disco. Os arranjos são coletivos. No mais é Karina Buhr, que canta com uma voz surpreendentemente grave e rouca em “Copo de Veneno”: “Por favor, me dê um copo de veneno pelo menos, com duas pedrinhas de gelo”. Com toda a doçura.
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