A nova cara da política

Ao mesmo tempo que os eleitores de 3 de outubro sepultaram relíquias, como Marco Maciel, Tasso Jereissati, Arthur “Eu vou bater no Lula” Virgílio, Heráclito Fortes, Yeda Crusius, Paulo Souto e Fernando Gabeira, um elenco de lideranças jovens deixa, junto com o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, de ser figurante para virar protagonista. É o caso dos governadores eleitos (ou reeleitos) Antonio Anastasia, de Minas, o carioca Sérgio Cabral, o paranaense Beto Richa e Marcelo Déda, de Sergipe.

A vitória de Anastasia reforça também a popularidade daquele a quem o PSDB recusou o direito de disputar as prévias com José Serra – e, assim, oxigenar de entusiasmo um partido desgastado que as urnas confinam agora a uns tantos guetos. Aécio Neves se elegeu para o Senado e elegeu Anastasia com a força de seu prestígio pessoal. E ainda puxou consigo um improvável Itamar Franco, cuja eleição para o Senado pode ser entendida como uma daquelas ironias que os mineiros sabem cultivar como ninguém: uma piscadela para o futuro, uma homenagem ao passado.

Novidade, também, no 3 de outubro – e que tamanho de novidade – são os 20 milhões de votos, ou quase isto, que Marina Silva obteve. O mapa do eleitor de Marina revela um voto jovem, urbano e visivelmente agastado com as opções tradicionais, ou seja, o velho Fla-Flu político que opõe PT e PSDB. A chegada esfuziante de Marina Silva à primeira divisão da política completa o – até certo ponto surpreendente – salto geracional da eleição de 2010.

Terão eles – Marina, Campos, Cabral, Anastasia, Déda, Richa – convicção e atitude suficientes para dar também um salto de qualidade na política? Ou acabarão por repetir as velhas práticas do clientelismo tacanho e intolerante que a gente vê por aí?

Eduardo Henrique Accioly Campos, 45 anos, já tem um histórico a favor dos que apostam no otimismo. Economista de formação, cativou a comunidade científica nos 19 meses em que atou como ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula (entre 2004 e 2005). Foi, na Câmara de Deputados, um líder atuante e dinâmico (do PSB), comanda, desde janeiro de 2007, e vai continuar comandando, reeleito com votação recordista (seu adversário, o gongórico Jarbas Vasconcelos, teve míseros 14% dos votos válidos), a histórica arrancada econômica de um Estado que já esteve entre os mais miseráveis do País (leia quadro).

Dois dados, só de passagem: Recife é hoje um polo de tecnologia à altura de um mini Silicon Valley e, pelas últimas estatísticas disponíveis de 2009, Pernambuco apresenta o melhor desempenho na arrecadação do ICMS entre todos os estados do Brasil.

O estilo Eduardo Campos contrasta com o daquele político que o lançou: seu avô, Miguel Arraes. No entanto, ao final desta entrevista, você verá que tem tudo a ver com o patriarca dos Arraes no que diz respeito aos princípios éticos da política e no compromisso com os mais pobres e desassistidos. “Está na hora de fazer uma reforma para aproximar o povo da política”, diz esse que é, ele, um campeão do povo.

Brasileiros – Se dependesse da sua mãe, o senhor não estaria hoje aqui, não é?
Eduardo Campos –
De fato, minha mãe e meus tios viveram um trauma muito forte com a política. Eles eram adolescentes e, depois de terem perdido a mãe, veio a campanha do meu avô para o governo (em 1962). Um governo de muita luta política. E aí, houve o golpe militar. Meu avô foi preso e a família foi para o exílio. Enfim, a política deixou marcas muito duras na vida de todos. Minha mãe imaginava que o ciclo da política iria até o dr. Arraes. Mas eu sempre tive muito interesse por conversa de adulto, ficava ali ouvindo falar de política. A minha casa sempre com muita gente, meu pai escritor, intelectual, sempre discutindo os problemas do País e do mundo… Logo cedo me meti no movimento estudantil.

Brasileiros – Isso na faculdade de Economia?
E.C. –
Já no movimento secundarista eu tinha envolvimento. Passei a militar de forma mais organizada quando entrei na universidade, aos 16 anos.

Brasileiros – Arraes ainda estava no exílio?
E.C. –
Não, já tinha voltado. A volta foi muito bonita e com muito envolvimento da sociedade. Candidatou-se de novo ao governo em 1986. Fiz a campanha toda com ele. Tomava conta da agenda, andava com ele, era o secretário particular. Um ano inteiro. Aí, fui trabalhar como oficial de gabinete do meu avô.

Brasileiros – Algum episódio da campanha te marcou?
E.C. –
A eleição era contra o José Múcio. A gente enfrentava uma estrutura muito poderosa, havia muita contrapropaganda. Acompanhei a campanha passo a passo, participando da concepção da estratégia e tal. Na reta final, houve uma coisa muito bonita, a pressão popular mesmo, a rua ganhando alegria, espontaneidade… A volta dele foi uma vibração. Mas percebi uma contradição: meu avô andava triste e não me contive: “Com uma campanha dessas, e o senhor está desse jeito…”. Ele me disse: “A eleição está resolvida, eu já estou pensando no que vai acontecer depois dela, na responsabilidade de corresponder a toda essa expectativa”.

Brasileiros – Você já sabia que a sua vocação era a política?
E.C. –
Trabalhei desde estudante e, na verdade, não tinha assumido ainda a minha vocação política, acho que por conta de toda essa carga de tristeza que a política tinha trazido para nossa família. Fazer política, disputar mandatos… Eu ainda não tinha certeza.

Brasileiros – E quando aconteceu?
E.C. –
Fui secretário particular do meu avô, depois chefe de gabinete. Quando terminou o governo, em 1990, eu saí candidato a deputado estadual. No dia da convenção, minha mãe me chamou assim: “É isso mesmo que você quer da vida? Você sabe tudo o que nós passamos por conta da política, não sabe? Está seguro da decisão que tomou?”. Respondi: “Estou sim”. E ela disse: “Então, conte comigo!”. Nunca imaginei que ela um dia seria, ela também, candidata. Pensei em ser candidato a governador em 2002, meu avô me desaconselhou. A campanha de 2006 foi muito difícil, meu avô tinha morrido um ano antes. Eu sempre tive muitas conversas com ele, avaliando as possibilidades e as dificuldades. Tive de decidir sozinho. Mas viajei muito pelo estado e vi que havia ali um caminho.

Brasileiros – E sua mãe acabou candidata também.
E.C. –
Eu era candidato a governador. A gente precisava ter um puxador de votos na chapa de deputado federal. Meu avô tinha sido o deputado federal mais votado do PSB em 2002. Pelo jeito que minha mãe sempre participou das campanhas, e ajudou todo mundo, os deputados queriam que ela fosse candidata. Foram falar com ela e ela disse que se fosse para me ajudar nessa luta, topava. Mas não queria atrapalhar e nem criar problema.

Brasileiros – Seu pai era vivo?
E.C. –
Não, meu pai morreu em 1998. Ele, Maximiliano Campos, vinha de uma família mais conservadora, meu avô paterno foi uma pessoa rica, teve terras, empresas e quatro filhos: um médico, outro advogado, um agrônomo para cuidar das terras e meu pai, temporão, que foi criado na verdade pelo segundo, o advogado, sociólogo, de esquerda, boêmio, escritor, jornalista, cronista do Diário de Pernambuco, Renato Carneiro Campos. Ele fez a campanha de Pelópidas da Silveira (prefeito de Recife), e de Arraes, em 1962, pela Juventude da Frente Popular. Virou oficial de gabinete do governador e ali conheceu minha mãe. No dia em que começou a namorar, pediu demissão. Era uma pessoa de princípios muito rígidos. Seis meses depois, veio o golpe militar. Enquanto ficou preso, meu avô foi aconselhado a mandar para o exílio os filhos mais velhos. Mas não tinha como tirar todo mundo daqui.

Brasileiros – Eram quantos?
E.C. –
Eram nove. Ainda nasceu outro no exílio. Meu pai tinha 21 anos e minha mãe 17 quando se casaram. Meu avô assistiu. Foi uma cerimônia inesquecível, presidida pelo capelão, na base aérea de Fernando de Noronha.

Brasileiros – Essa história dá filme. Bem, o senhor está com 45 anos e é governador reeleito de Pernambuco, reeleito com a maior votação proporcional do País. Seu nome aparece como um dos principais líderes nacionais ao lado de Aécio Neves, que por coincidência é neto de um grande líder político. Além de governar Pernambuco, quais são seus planos para os próximos quatro anos? Entre eles está a Presidência da República?
E.C. –
Nesses próximos quatro anos, pretendo consolidar uma mudança importante na matriz econômica de Pernambuco, e também uma reforma do serviço público. A democracia que nós construímos no Brasil permitiu que a gente aperfeiçoasse muito, a partir da Constituinte, o estado do controle, o poder dos tribunais de conta, do ministério público. Agora, queremos consolidar o estado do fazer, de fazer, por exemplo, escola pública de qualidade. Estamos buscando fazer o ensino integral como regra no ensino médio, premiando e remunerando as melhores escolas. Buscando uma política de segurança pública calcada em valores e direitos humanos, de prevenção, de trocar a força pela inteligência, a participação social, na área de saúde também… Nesse próximo mandato, a tarefa é ajudar o Brasil, ajudando a futura presidenta a consolidar as mudanças que ela pretende fazer, poder contribuir com os companheiros do PSB, para o governo a avançar, um governo em construção. Ainda temos muitas faces de desigualdades para desmontar no País. O presidente Lula deu enorme contribuição para o Brasil se reencontrar com sua vocação de desenvolvimento, mas ainda tem muita coisa para ser feita. É precipitado discutir uma eleição presidencial que ainda vai acontecer daqui a quatro anos. Sou candidato a fazer um bom governo em Pernambuco.

Brasileiros – A presidência alguma vez passou pela sua cabeça?
E.C. –
Não. E eu não faço esse velho jogo de ser candidato e dizer que não sou. Quando quis ser candidato a governador, eu assumi que gostaria de ser e fui construir as condições para ser.

Brasileiros – O slogan da sua campanha foi: “Daqui para melhor”. Como o senhor pretende levar esse slogan da campanha para a realidade?
E.C. –
Esse mote, na verdade, veio das ruas. Muita coisa já ficou pronta, mas ainda há muito mais a fazer. Nós conseguimos quase multiplicar por quatro o volume de investimentos no Estado, porque fizemos um dever de casa muito forte, de cortar despesas e atuar sobre o custeio. Não aumentamos tributos de nenhuma espécie, ao contrário reduzimos tributos em áreas importantes. A primeira providência, e a mais importante, acho eu, é continuar com a transparência que nós adotamos para as contas públicas. Criamos um portal da internet que ficou entre os três melhores da Transparência Brasil. Com a sociedade ajudando no controle, melhoramos a qualidade do gasto e ganhamos uma margem de investimento muito maior, para aprimorar o estado de infraestrutura, saneamento, obras viárias, obras de água. Até porque a água aqui no Nordeste, além de ser vida, saúde, cidadania, também significa liberdade. Durante muitos anos, a água foi sinônimo de dominação para muitas comunidades no interior e de limitação do crescimento econômico. Queremos também nos consolidar na cadeia de petróleo e gás offshore, como um espaço de grande investimento, assim como Suape está se consolidando como uma refinaria, um polo petroquímico, com estaleiros. E há as obras estruturadoras da logística do Nordeste, como a Transnordestina e a própria transposição do São Francisco. Estamos passo a passo consolidando a presença de Pernambuco nessa área de tecnologia de informação e comunicação, vendo o renascimento da indústria têxtil e de confecção, com competitividade.

Brasileiros – O senhor já disse que apoia uma frente ampla dos aliados em âmbito nacional, proposta feita pelo presidente Lula. O que vem a ser essa frente e qual seria o seu papel nela?
E.C. –
A dispersão no nosso campo termina por dar força a outros conjuntos políticos. Deveríamos nos reunir de dois em dois anos, em torno de processos eleitorais municipais, estaduais e federais, em torno de ideias e valores que devem fortalecer as nossas teses e nos deixar com menos receio de alianças que, muitas vezes, constrangem a todos nós.

Brasileiros – Mas qual seria a ideia central?
E.C. –
Por exemplo, uma reforma política que possa aproximar o povo da política, que possa limpar a política. A Lei Ficha Limpa é um esforço, mas o que mais podemos fazer? Financiamento público de campanha, mudanças no próprio processo eleitoral. Retirar do assalariado brasileiro a carga tributária que temos, desonerar o transporte urbano. Quando existe uma crise, a gente atende, e é justo atender, a indústria automobilística com redução de IPI. Mas veja a questão de mobilidade nos grandes centros urbanos: a passagem de ônibus no Brasil tem uma cunha tributária da ordem de 50%. Reforma tributária, um pouco mais ampla. E a relação Executivo-Parlamento precisa ser revista. Compreender que estamos no mais amplo período democrático da vida republicana e que, portanto, chegou o momento de devolver o Estado à sociedade, ao cidadão que paga tributos, que deseja um Estado que funcione, que resolva os seus problemas, que possa ampliar os investimentos que contribua para o crescimento econômico.

Brasileiros – O senhor já anunciou que pretende estabelecer um diálogo com a oposição depois que os ânimos se acalmarem. Por onde começar? Quais seriam os principais interlocutores?
E.C. –
Acredito fortemente na capacidade que o diálogo tem, de fazer com que as pessoas de bom senso se aproximem e construam uma identidade. Há lideranças na oposição com quem temos muito mais identidade até do que com pessoas que estão na base de sustentação do nosso governo federal.

Brasileiros – Um exemplo…
E.C. –
Aécio (Neves) é o exemplo de uma liderança política jovem e que tem tradição democrática. Podemos ter divergências, mas é óbvio que historicamente estamos mais próximos do Aécio que de outros que estão na base de sustentação do governo. Por que não dialogar? E por que não aproximar? Acho que a sociedade deseja isso e, às vezes, a falta de diálogo faz com que um determinado conjunto, que não tenha os mesmos valores, se fortaleçam e vivam exatamente da ausência desse diálogo.

Brasileiros – O senhor espera chegar ao final do mandato como o governador mais popular do País, promovendo uma aliança de 15 partidos sem adversários? Qual é a receita? E qual a importância da sua parceira com o presidente Lula?
E.C. –
A receita é trabalho e gestão, e ter entusiasmo no que faz, não se entregar à burocracia, ao ritmo que muitas vezes a máquina administrativa quer dar. E também não alimentar a rinha política. Imaginavam que, ao ganhar a eleição em 2006, eu iria fazer daquela vitória um ato de revide, fazer o que eles fizeram durante oito anos, falando mal do dr. Arraes e batendo em todos nós. Em vez de cuidar da vida dos meus adversários, só tive tempo de cuidar da vida dos pernambucanos. E, claro, para o sucesso a parceria com o presidente Lula foi fundamental. Ele, que foi o maior presidente que o Brasil já teve, foi sem sombra de dúvida o melhor de todos os presidentes da República para o Pernambuco.

Brasileiros – O que foi mais difícil, governar Pernambuco, nesses quatro anos, ou convencer seu amigo Ciro Gomes a abrir mão da candidatura presidencial?
E.C. –
Ciro é um brasileiro que merece todo o respeito, pela grande capacidade e os muitos serviços prestados ao País e ao nosso partido. Desejava a candidatura de maneira justa, até porque já tinha sido por duas vezes candidato à Presidência. Mas nem sempre o que a gente quer é possível. Defendemos junto ao Lula as duas candidaturas, as duas candidaturas ajudariam a ofuscar a imagem de que a vitória do Serra seria inevitável, naquele momento em que o Lula tinha uma candidata que ainda não era conhecida no País. Mas se havia uma eleição nacional, havia também eleições regionais, impondo a questão das alianças, o tempo da televisão… E, depois, o crescimento da Dilma foi se dando também em cima dos votos do próprio Ciro… Nós passamos sete anos ajudando na construção do governo Lula e, de repente, tínhamos esse presidente pedindo votos para a Dilma. As condições políticas tinham mudado. O Ciro pediu que eu ouvisse o partido, e eu ouvi todas as regionais do partido, todos os dirigentes. Por maioria, e foi uma ampla maioria, a decisão foi de fechar com a candidatura de Dilma. Meu voto também foi nessa direção.

Brasileiros – Que futuro está reservado ao Ciro, ser presidente do PSB?
E.C. –
O Ciro é jovem e tem muito caminho pela frente. Vejo o resultado agora da eleição em São Paulo e imagino se ele tivesse disputado a eleição em São Paulo, o que não poderia ter sido. Mas era uma decisão que também não dava para tomar por ele.

Brasileiros – Estive recentemente fazendo uma reportagem sobre a região nordeste, uma reportagem grande, de 40 páginas, rodei três Estados, e me chamaram a atenção a volta do orgulho de ser nordestino e o resgate da autoestima. Os nordestinos estão voltando para o Nordeste e os jovens não estão mais saindo como antes em direção ao “Sul Maravilha”. Inverteu-se o processo de imigração. Esse seria o principal sinal de que realmente os tempos mudaram em uma região historicamente conhecida como a mais pobre do País?
E.C. –
Está ficando claro, para nós, para o Brasil e para os nordestinos espalhados pelo Brasil, que nós não somos parte do problema brasileiro, nós somos parte da solução brasileira. Nunca entendi o problema do Nordeste como uma questão regional. Vimos agora que só o fim da inflação e a estabilidade econômica não eram suficientes. Foi muito importante, sim, essa conquista, que vem do governo Fernando Henrique e o Lula soube preservar. Mas não foi suficiente para destravar o crescimento do País, na proporção que nós temos de ter. Para fazer um país mais equilibrado socialmente, a gente tem de mexer em uma outra trava, a da desigualdade. Quando começamos a mexer, o Nordeste, até então muito mais marcado pela desigualdade, sentiu de maneira forte e imediata essa mexida. Geramos 14 milhões de empregos, elevamos o poder de compra do salário mínimo, aumentamos a rede de proteção social, os investimentos estruturantes em portos, aeroportos, estradas, saneamento, abastecimento de água, e induzimos a presença de grandes investimentos privados catalisadores de outros. Aí, a gente viu a mudança. Trabalhamos a inclusão bancária, a questão do crédito, política para a agricultura familiar, o ProUni, uma série de iniciativas que se somam e vão desmontando essa desigualdade. Você vai, aqui, ao maior e mais moderno estaleiro do Atlântico Sul e encontra vários filhos de cortadores de cana, safristas, filhos de pescador. Gente que hoje está fazendo navio!

Brasileiros – E o sertão nordestino? O que mudou desde o tempo do seu avô?
E.C. –
Ouço muitos testemunhos que me emocionam, sobre o que está acontecendo hoje no Nordeste. As marcas de desequilíbrio no Brasil não são apenas entre as regiões, dentro das regiões há desequilíbrio também. Se você for a Boa Viagem, em Recife, percebe que é muito semelhante ao Morumbi, em São Paulo, ou à Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Agora, se você for para o alto sertão, a Santa Filomena, a Salgueiro, vai ver um desequilíbrio mais forte que o desequilíbrio que há dentro do Brasil. Daí a presença de obras e ações, e essa rede de escolas que nós estamos montando, e não só escola de tempo integral, mas escolas técnicas, junto com os campus de universidade, no sertão nordestino… Daqui a 30 anos, vai efetivamente fazer a diferença. O desenvolvimento da ciência mostra que a vegetação do sertão tem uma grande riqueza de biodiversidade. Você tem experiências em agricultura irrigada, agricultura orgânica, a questão das energias renováveis, energia solar, tem áreas exportadoras de frutas, por exemplo, coisas que podem devolver ao semiárido nordestino, com grande capacidade de alavancar crescimento.

Brasileiros – A gente pode dizer que até um filho de sertanejo pode hoje ir à universidade?
E.C. –
Nós tivemos aqui vice-presidente da República, ministro da Educação, e as faculdades federais nunca saíram do Recife. A Universidade Rural, que forma veterinário, zootecnista, engenheiro florestal, era dentro do Recife. Na hora em que você leva essa universidade para fora da capital, melhora a qualidade do ensino, faz um ensino integral médio público, escola técnica e tal…

Brasileiros – Não se separa mais a família.
E.C. –
Não separa as famílias e essa massa crítica que vai se formando em torno da universidade, pesquisando e atuando, começa a interagir. Preocupação com o meio ambiente, com a preservação dos recursos naturais, a preservação dos cursos naturais de água, preocupação de que nossa caatinga não seja detonada, enfim, tudo isso implica também criar valores para a população.

Brasileiros – O filho passa a ensinar ao pai.
E.C. –
É isso, vai levando valores. Aí começa o ensino à distância, você começa a capacitar mais o professor da escola fundamental, as crianças que chegam já vão aprendendo mais, e aí entra em um ciclo virtuoso.

Brasileiros – Seu adversário, Jarbas Vasconcellos, qualificou o senhor durante a campanha como prepotente, arrogante e soberbo. Ele tem motivos para isso?
E.C. –
Nem ele acredita nisso! Quem me conhece de perto sabe que eu tenho defeitos, eu tenho, mas esses aí, não… É preciso compreender (o Jarbas). Em 1998, ele disputou e ganhou do meu avô. Jamais imaginaria que, oito anos depois, um outro Arraes disputaria e venceria, e da forma como ganhamos. E que teríamos equilíbrio para fazer um governo que buscou a unidade de Pernambuco e foi amplamente aprovado pelos pernambucanos. O que a gente teve de voto é o que o governo teve de ótimo e bom nas pesquisas de opinião. É importante saber perder e saber ganhar… Quando a gente perde e não consegue fazer uma autocrítica, a tendência é a gente continuar perdendo mais e mais….

Brasileiros – O senhor pertence a uma tradicional família de políticos. Entre seus quatro filhos, algum tem vocação para dar continuidade à dinastia?
E.C. –
Não sei, só sei que todos gostam de discutir…

Brasileiros – Que idade eles têm?
E.C. –
Maria Eduarda tem 18 anos, João tem 17 anos, Pedro tem 15 anos, e José tem 5 anos… Todos participaram da campanha, me acompanharam em atividades, viagens, se integraram com a militância. Até o José.

UMA ECONOMIA EM EBULIÇÃO
Acompanhe aqui alguns números que comprovam o espantoso crescimento de um Estado onde, até muito recentemente, a única saída para uma vida melhor era a estrada que ia dar no Sudeste
Pernambuco demonstrou, em 2009, ter se descolado de vez da economia brasileira. Enquanto o PIB nacional, afetado pela crise mundial, ficou negativo em 0,2%, Pernambuco alcançou resultados positivos em todos os setores, fechando o ano com crescimento de 3,8%.US$ 15 bilhões foram investidos, em 2007, em projetos como a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, a Perdigão/Sadia e o Polo Farmacoquímico de Goiana. Outros US$ 2,4 bilhões chegaram a Pernambuco em 2008. E, em 2009, a despeito da crise econômica mundial, o Estado atraiu mais US$ 1 bilhão em investimentos privados.

O investimento público cresceu, graças à gestão eficiente de receita e despesa. No ano passado, o governo estadual, incluindo empresas estatais, gastou R$ 2,261 bilhões em investimento produtivo. Superou em 229% a média corrigida do período 2003-2006.

As obras em torno do Porto de Suape estão sendo pagas pelo maior repasse de recursos já recebido por Pernambuco em todos os tempos. O capital privado também dá importante contribuição. Até 2006, R$ 3,93 bilhões em investimento

privado resultou em 81 empresas instaladas e 6.600 empregos. De lá para cá, os investimentos se multiplicaram por sete: R$ 28,6 bilhões. Existem hoje em Suape 123 empresas e outras 15 em fase de instalação.A construção civil apresentou queda de 6,6% no Brasil, em 2009. Em Pernambuco, o setor cresceu 17,4% no ano.

O emprego cresceu em Pernambuco, no ano passado, 56% mais que cresceu no Brasil (Pernambuco, 4,85%, Brasil, 3,11%). E avançou em todas as regiões do Estado, da região metropolitana do Recife (5,1%) ao Sertão (17,6%). A construção civil puxou para cima o emprego (17,6%), seguida pelo comércio (5,7%), serviços (4,6%) e indústria (3,4%). Este ano de 2010, até junho, 83.721 novos empregos foram criados. Crescimento de 8,9% (no Brasil, 6,6%).

Pernambuco foi o Estado com melhor desempenho na arrecadação de ICMS, comparando-se o crescimento da arrecadação de 2009 em relação a 2008: 10,59% (média nacional, 2,05%). De 2006 para cá, aumento real de 23% (arrecadação de 2009: R$ 7,047 bilhões).


Porto de Suape R$ 28,6 bi de investimento
ESPECIAL NORDESTE

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